Em verdade a Toys “R” Us não era uma única loja. Eram centenas, milhares. Durante décadas deu vida aos sonhos das crianças oferecendo brinquedos de todos os tipos, preços e dimensões. Dentre todas as lojas, a mais visitada no mês de dezembro para a compra dos presentes.

Sintomas que os brinquedos convencionais iam perdendo espaço nos quartos, vidas e horas das crianças aceleraram-se nos últimos anos. Na virada dos anos 1970, os videogames começaram a roubar a atenção e as horas de diversões dos baixinhos. Mais adiante vieram os tablets, com centenas de games dentro. E mais recentemente a ocupação de todo o espaço pelos smartphones.

A mais emblemática de todas as lojas de brinquedos dos Estados Unidos, a Fao Schwarz, às portas do Central Park, em Nova York, já não emocionava essas novas crianças, mais interessadas nos eletrônicos, e encerrou suas atividades numa quarta-feira de julho de 2015, tendo em sua frente, e testemunhando sua decadência, uma das mais emblemáticas lojas da Apple com filas descomunais na porta.

Resta sua presença em filmes emblemáticos como Poderosa Afrodite, de Woody Allen, e muito especialmente no filme Quero ser Grande, com Tom Hanks, onde as crianças tocavam pianos no formato tapete e com os pés.

Na segunda semana de março do ano passado, finalmente, chegou a hora da partida da rede de brinquedos Toys “R” Us. Seis meses depois, não resistindo mais, setembro de 2018, jogou a toalha e pediu concordata. A última esperança eram as vendas do fim do ano. Foram pífias.

A Toy “R” Us, nos tempos de prosperidade, onde crianças brincavam de carrinhos e bonecas, chegou a ter mais de 2 mil lojas. Com o seu jingle onde dizia: Não quero crescer, sou uma criança, Toy “R” Us, tomou conta do coração dos baixinhos e famílias americanas. E sua girafa ícone, Geofrey, agora só habita a lembrança e o imaginário de todas as mesmas crianças americanas, enquanto passam horas com seus tablets e games.

Mas, de verdade mesmo, o golpe mortal contra o varejo de brinquedos foi perpetrado pelo comércio eletrônico. Todas as milhares de lojas que só vendem brinquedos pela internet, muito especialmente a Amazon, com seu Market Place. O golpe que determinou a morte da última loja de brinquedos. Segue a vida. Uma das mais trágicas marcas do ano de 2018. E a situação no Brasil não é diferente.

A Ri Happy, fundada em 1988, pelo pediatra Ricardo Sayon, líder no varejo de brinquedos e comprada em 2012, pelo fundo americano de Private Equity, Carlyle, e que meses depois comprou a PBkids somando as duas redes, segue crescendo, aumentando seu número de lojas, mas, e na tentativa de sobrevivência, reposicionando-se, simultaneamente.

Os brinquedos, dia após dia, vão perdendo espaço para artigos voltados para bebês. Que, segundo o instituto Euromonitor, é um mercado aproximando-se de R$ 12 bi, enquanto o de brinquedos parou nos R$ 4 bi. Ou seja, mesmo que sobrevivam e prosperem as investidas e investimentos do Carlyle, esse novo varejo em que está se convertendo a Ri Happy é um bicho totalmente novo, um cruzamento da antiga Ri Happy com uma Alô Bebê.

Assim, as lojas de brinquedos, tal como conhecemos, são lembranças de um passado não tão distante. O ciclo encerrou-se. Mas foi bom, muito bom, ótimo mesmo, enquanto durou.

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing (famadia@madiamm.com.br)