Katia e Renata, da Suporte Comunicação: “Proximidade com o cliente fez diferença” (Crédito: Divulgação)

Além da preocupação com o cenário socioeconômico que assola o país e o mundo, muitas empresas também procuram entender qual a melhor forma de se comunicar durante a crise provocada pela Covid-19. A busca por uma maior efetividade de suas ações, sem parecer oportunista, faz com que alguns executivos passem a direcionar mais investimentos para a área de comunicação e relações públicas.

“Sentimos que a crise trouxe um maior interesse das marcas em serviços de RP para ações de comunicação que as ajudem a se posicionar corretamente durante a crise, ser mais transparentes e divulgar via multicanais como estão reagindo à crise, mudanças de modelos que fizeram, projetos sociais para combater a pandemia etc. Percebemos uma diversificação na demanda para incluir em nossas ações outras frentes que permitem uma comunicação mais direta com os stakeholders”, comenta Luis Claudio Allan, fundador e CEO da FirstCom Comunicação.

Luis Claudio Allan, da FirstCom: “Crise trouxe mais interesse por RP” (Crédito: Divulgação)

Ainda segundo o executivo, é possível observar na atual conjuntura um movimento de migração de contas de grandes agências para escritórios mais boutiques, onde o cliente passa a encontrar um atendimento mais personalizado e com honorários mais acessíveis.

“Em vez de cortar totalmente a verba para RP, acredito na tendência de um maior interesse por trabalhar com agências que têm donos e profissionais mais seniors atuando na linha de frente. É muito arriscado neste momento deixar a imagem da marca sendo cuidada por equipes com pouca experiência em gestão de crise e dificilmente uma grande agência consegue entregar a mesma senioridade para toda sua carteira. Alguns clientes antigos voltaram a nos procurar para ajudá-los a desenhar uma estratégia de RP especialmente para o período da pandemia. Registramos desde março, quando foi decretada a quarentena, um crescimento de 25% no faturamento”, diz.

Já para Katia Blasques, sócia da Suporte Comunicação, as agências boutiques de relações públicas não necessariamente são mais procuradas pelos clientes neste momento, mas com certeza mais ouvidas. “As agências de RP trafegam por todas as áreas das companhias, são extremamente ágeis e versáteis, conhecem profundamente o cliente e o mercado no qual atuam. Percebemos que clientes com pouco fôlego paralisaram. Por outro lado, marcas com estruturas mais sólidas aceleram a presença online e ofereceram serviços diferenciados durante o isolamento, como venda de vouchers, entretenimento online e ajuda direta de combate ao vírus. Em todas estas iniciativas a criatividade e proximidade com o cliente fez diferença”, analisa.

Outra agência que colhe bons frutos nesta quarentena é a VCRP Brasil, que revela que ganhou 10 novos clientes no último mês. “Além de não demitir ninguém, contratamos mais cinco pessoas. Vínhamos em uma crescente tanto de faturamento quanto de carteira. Até agora crescemos 35% em número de clientes e 75% em faturamento. Houve uma grande demanda de grandes contas, migrando de grandes agências. Sentimos também que o segmento de telemedicina e empresas voltadas ao universo da saúde impulsionaram todas as suas estratégias. Dos últimos 20 novos clientes da agência, 50% eram atendidos pelas big agências. A pandemia veio para mostrar que não existe mais o CEO, o comercial, o atendimento. O cliente contratou a expertise da agência e precisa dela 24 horas por dia”, observa Vinicius Cordoni, fundador e CEO e da VCRP Brasil.

Vinicius Cordoni, da VCRP: “O cliente precisa da agência 24 horas por dia” (Crédito: Divulgação)

PROTAGONISMO
Segundo o estudo Impactos da Covid-19 no investimento de mídia do Brasil, realizado pela Nielsen e com o IAB, um terço dos anunciantes vai aumentar o investimento em mídia orgânica, o que faz com que a área de relações públicas ganhe mais protagonismo neste momento em que as empresas precisam estar mais próxima de seus consumidores.

“O protagonismo não vem de hoje, mas, de fato, acelerou. Talvez muitas empresas tenham uma percepção maior hoje. Sentimos aqui muitos clientes que cortaram outras despesas, mas mantiveram o PR pelo entendimento, pois em um momento de crise, é superimportante. As marcas sabem que serão lembradas por suas atitudes nesse período e estão cada vez mais preocupadas com isso. Muitas reduziram investimento em mídia paga e mantiveram todas suas fichas na orgânica. Elas, agora, não estão preocupadas apenas em vender seus produtos, estão olhando atributos do PR que antes talvez não fossem tão claros, como gerenciamento de crise, employer branding, treinamento de discurso e conteúdo educativo, entre outros”, ressalta Cordoni.

As marcas que deixarem de cuidar da sua imagem durante a pandemia podem pagar um preço alto quando a economia retomar. Allan relembra que no início da quarentena alguns empresários defenderam o fim do isolamento para preservar a economia em detrimento da preservação de vidas e foram duramente criticados nas redes sociais e na imprensa.

“Mais do que a perda de receita e clientes em decorrência da queda da economia, a pior crise que uma empresa pode enfrentar neste momento é a de imagem. É fundamental pensar muito bem as ações de comunicação antes de colocá-las na rua. O maior risco é soar oportunista e não ser percebida como uma marca que tem uma visão social legítima, autêntica, preocupada em fazer o bem, colocando a vida em primeiro lugar. Entendo que deixar de contar com o apoio de uma agência de RP neste momento pode ser um tiro no pé, já que a imagem é o principal ativo de qualquer negócio e não se comunicar adequadamente com seus stakeholders certamente vai tornar ainda mais difícil a retomada das atividades após o fim do isolamento”, avalia.

PÓS-PANDEMIA
Está comprovado que a comunicação é ainda mais fundamental neste momento. Afinal, muitos consumidores devem separar as empresas socialmente responsáveis que contribuem para a construção de uma nova economia mais humana, das que têm apenas o lucro como o principal objetivo.

“Acredito que a principal lição é que as marcas não podem mais abrir mão de uma comunicação humanizada. Os consumidores tendem a se relacionar e comprar produtos e serviços de empresas que construam uma imagem focada no social. Esta é a hora de mostrar quem, de fato, tem e pratica uma visão social autêntica, o que poderá pesar positivamente na balança frente a uma nova geração de consumidores que se engaja e dá muito mais valor àqueles legitimamente preocupados com seu papel social em sobreposição ao balanço financeiro, um quesito cada vez mais levado em conta também pelos acionistas”, diz Allan.

Para Renata Grabert, sócia da Suporte Comunicação, a primeira e principal lição é que a comunicação é essencial. “Agências com competências diferentes devem se unir por projetos visando entregar as melhores soluções e resultados­­­ para os clientes. Olhando para as marcas, as que são autênticas, sócio-responsáveis e encabeçam iniciativas reais são as que deixarão um legado para o mercado e para a nossa indústria. Consumo e consumidores não serão os mesmos. Vender será consequência, não causa. E, relações públicas continuarão a consolidar marcas e sobretudo construir reputações”, finaliza.