Ver com alívio a decisão da Câmara Federal, impedindo o presidente da República ser processado pelo STF, não significa apoio aos seus eventuais malfeitos.
 
Trata-se tão somente de atentar para o consagrado “um valor mais alto se alevanta”, de Luís de Camões, que no caso é a nação brasileira e a sua economia, de há muito depauperada pelos desatinos anteriores que todos conhecemos.
 
Após cumprir o que lhe resta do mandato presidencial, Temer será devidamente julgado pela Justiça e, em caso de culpa, condenado de acordo com a lei. A mesma lei democrática que resultou no impedimento pela Câmara Federal de ser processado e julgado pelo STF. Quanto ao custo dos votos a seu favor, não deixa de ser lamentável, mas é do jogo político em situações semelhantes, ainda que reprovável.
 
Não podemos esquecer da compra de apoio parlamentar pelos governos anteriores a Michel Temer, com dinheiro sabidamente escuso. E é bom lembrar que a presidente Dilma Rousseff não foi afastada por isso, mas por outro tipo de desobediência legal que foram as pedaladas fiscais.
 
Sem dúvida, também poderia ter-se safado, usando dos mesmos e reprováveis expedientes de que agora acusam Temer. Mas, era uma outra situação, repleta de demonstrações de total inabilidade pela então presidente da República, que culminou no seu impeachment, também devido a uma vontade quase unânime da nação brasileira.
 
A presidente Dilma Rousseff pode até ter praticado ilícitos menores dos que Temer é acusado (e vai ser julgado por isso quando deixar o Planalto), mas a pressão da opinião pública sobre o descalabro do seu governo era sem dúvida maior do que o país agora dividido pelo Fora Temer e Fica Temer, com vantagem dos defensores do atual presidente, devido a motivos que também todos sabemos e poderiam levar o país ao caos em sua governabilidade.
 
Basta imaginar, uma vez aceito o afastamento de Michel Temer da Presidência da República, a entrega do poder a Rodrigo Maia e o curto prazo de até 30 dias para realizar eleições indiretas. Durante esse período, não seria difícil supor as questões de ordem a serem levantadas por deputados e senadores durante as respectivas sessões que se realizariam até a escolha do novo presidente da República.
 
Temos certeza absoluta, diante do quadro político que tem dominado o país nos últimos tempos, que muitas questões de ordem seriam propositalmente encaminhadas para decisão do STF, despertando em alguns dos membros aquele conhecido e vaidoso amor pelos textos discursivos diante das câmeras da TV Justiça, com imagens redistribuídas não só para todo o Brasil, como também para o exterior.
 
Conclusão: Algumas decisões da Egrégia Corte ou não seriam emitidas no tempo necessário a devolver ao país a governabilidade plena, ou simplesmente não seriam tomadas, aguardando as eleições de outubro de 2018 e deixando o país à deriva até lá.
 
Acreditamos que ninguém de bom senso gostaria que assim fosse. Mas, assim seria, se a Câmara Federal tivesse autorizado o STF a processar Temer e este viesse a ser impedido pelo colegiado.
 
Ainda que não sendo, seu julgamento sem dúvida chegaria no mínimo bem perto das eleições de 2018.
 
Enquanto todo esse teatro do absurdo, com permissão de Ionesco pelo uso deturpado da sua obra, não baixasse finalmente as cortinas, o país ficaria à deriva, flertando não só com o caos econômico, mas também e principalmente com a decorrência extrema, mas inevitável, deste, que seria o mais completo caos social.
 
Bem diz a voz do povo que Deus é brasileiro. Mais uma vez demonstrou sua “nacionalidade”, salvando-nos do pior. Porque, de fato, se está ruim com Temer – e disso não duvidamos – muito pior sem ele.
 
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O leitor da presente edição do PROPMARK – que é nosso leitor de sempre – tem a sua disposição matérias não apenas relevantes (obrigação de sempre), como também extremamente atuais (idem) para ler e reler.
 
Dentre elas, o amadurecimento da inteligência de dados nas agências, que combinada com a reconhecida capacidade criativa das mesmas e resulta em campanhas de forte impacto junto ao público consumidor. Destaque para as palavras de Edu Simon, CEO da DPZ&T, que vem acentuando a sua já manifesta voz ativa no mercado.
 
Instigante também a notícia surpreendente da semana passada, que nos trouxe Washington Olivetto e sua transferência para o exterior.
 
Pessoas próximas a ele garantem em off que também foi uma decisão de resguardo da sua família, diante da insegurança que grassa por todo o país. Não podemos desconsiderar nesse contexto que ele foi uma das vítimas célebres da publicidade brasileira, sequestrada e colocada em cativeiro em tempos idos, mas não esquecidos.
 
Como matéria de exemplo a ser seguido, a história da Youse, que se tornou o segundo maior anunciante do segmento de seguros na TV Globo.
 
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Este Editorial é uma homenagem a José Victor Oliva, incansável empresário e batalhador do live marketing, que na semana passada homenageou em grande estilo, em sua residência, Hugh Forrest, sócio e CEO do SXSW.
 
Armando Ferrentini é presidente da Editora Referência, que publica o PROPMARK e as revistas Marketing e Propaganda (aferrentini@editorareferencia.com.br)