Em meio ao clima político desassossegado que domina nossas casas de leis nos últimos tempos, passou desapercebido e foi aprovado pela Câmara Federal, projeto de lei que regulamenta a profissão de “mercadólogo”. O projeto sobe agora para o Senado e, caso se confirme sua aprovação, estará criado mais um factóide profissional, que passará facilmente pela Presidência da República. 

O que tem intrigado o mercado dos profissionais de marketing em todo o país é o fato desse tipo de projeto de lei não dar voz às entidades de classe e no mínimo a um grupo de trabalhadores do setor, para opinarem sobre a criação de algo que lhes dirá respeito de forma acentuada.

O projeto encontra-se em análise no Senado Federal e, segundo Roberto Carvalho, presidente do Conselho Regional de Administração de S. Paulo, “trará sérios danos à profissão de administrador, uma vez que retira todas as atribuições da área de marketing”.

Dalton Pastore, presidente-executivo da ESPM, diante dessas circunstâncias, tomou a iniciativa de convidar os responsáveis pela condução de relevantes entidades de classe do setor, a se reunirem na próxima quinta-feira (5), na parte da tarde no campus da escola, situado na Rua Dr. Alvaro Alvim, 123, em São Paulo, para um debate inicial sobre o tema de interesse de todos os que militam na atividade.

A ideia é se buscar um consenso sobre o que fazer diante de mais uma excrescência que pode surgir do nosso Legislativo, com o “nada contra” do Executivo, neste instante mais preocupado com a guerra intestina que se trava nos diversos fronts da política brasileira.

 

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A morte de Luiz Sales comoveu o mercado publicitário de todo o país. Empresário querido por todos, começou sua carreira no segmento coberto pelo PROPMARK, em meados dos anos 1960 na Salles (mais tarde Salles-Interamericana de Publicidade), associando-se ao irmão Mauro, que dera início ao negócio sob o seu nome.

Luiz Sales possuía invejável espírito associativo, tendo sido presidente de muitas entidades do mercado. Na ESPM, foi presença constante e atuante no seu Conselho Deliberativo, sempre transmitindo aos seus pares e ao corpo executivo da escola, seu pensamento a respeito do que julgava ser o melhor para o desenvolvimento da instituição.

Sua morte, após quatro anos de grave moléstia, consternou a todos. Como homenagem a sua memória, transcrevemos a seguir, na íntegra, as palavras proferidas após a missa de sétimo dia, ainda no púlpito da Igreja de Nossa Senhora do Brasil, em São Paulo, por sua companheira inseparável, Rosi Sales:

“Antes de tudo gostaríamos de agradecer a Deus ter concedido o fim do calvário de Luiz entre nós. Digo calvário, porque nestes últimos quatro anos, enquanto seu sofrimento crescia e suas forças diminuíam, nunca ouvimos dele uma palavra de revolta, uma blasfêmia ou uma pergunta tipo: por que eu?

Luiz atravessou o que lhe foi destinado com dignidade e humildade com que viveu toda sua vida. As saudades serão imensas, mas a certeza que parou de sofrer é o nosso consolo.

Agradecemos a Deus a força que nos concedeu, a mim e a meus filhos, para acompanhá-lo nesta travessia, com muita tristeza em nossos corações, mas com a alegria necessária para mantê-lo inserido na vida e na família.

Hoje mesmo, Lulinha – meio prima, meio irmã – comentava como lhe impressionava a convivência dos netos pequenos com Luiz. A naturalidade com que se aproximavam dele, beijavam sua careca, acariciavam suas mãos, pulavam e brincavam em sua volta. O menorzinho se chegava e dizia: tá dormindo, ele acordou… todos prestavam muita atenção nele.

Agradecemos a todos os familiares, amigos e cuidadores que nos ajudaram nesta jornada, com suas presenças e dedicação.

Fiquem certos que cada um de vocês foi de grande valia para ele e para nós.

Também quero agradecer aos céus, a vida que vivemos juntos nestes 46 anos. Foram anos abençoados. Tivemos a bonança necessária para criar e educar nossos quatro filhos. Hoje já pais e mães de família, que espero sigam o que tanto nos esforçamos para lhes transmitir: nossos valores, não valores enferrujados pela antiguidade, mas renovados na atualidade dos tempos, valores perenes.

Luiz, com sua calma, sabedoria e generosidade, sempre esteve à frente desta família. Nunca deixou que crises se aprofundassem. Os caminhos estavam ali mesmo, e eram sempre aqueles que contribuíam para paz familiar e o crescimento de cada um.

Há 48 anos nos conhecemos, nos enamoramos e nos casamos. Neste tempo tivemos momentos fáceis, outros difíceis. Alegrias e tristezas. Entendimentos e desentendimentos. Concordâncias e discordâncias. Fomos um casal como tantos outros. Mas sempre mantivemos os limites do respeito mútuo. Sempre preservamos nossa capacidade de pensar e refletir nos momentos difíceis. E principalmente sempre nos amamos muito e aprendemos a nos perdoar mutuamente. E assim fizemos nossa trajetória e construímos nossa família. E hoje agradeço publicamente ao Luiz o tempo que convivi com ele. Acho que me tornei uma pessoa melhor.

Escolhi duas passagens dele para lhes contar, que penso são pragmáticas do seu jeito de ser:

1. Ao fim do seu sequestro, quando seus malfeitores lhe avisaram que iam libertá-lo, Luiz pediu que se dessem as mãos e rezassem juntos um Padre Nosso. E nunca o ouvi os amaldiçoando.

2. Há alguns anos, houve um roubo de gado em uma fazenda nossa. Na investigação que se seguiu, concluiu-se que o administrador teria sido cúmplice do roubo. Luiz o demitiu. Mas junto, com a demissão, contratou um advogado para defendê-lo no inquérito instalado. Afinal ele tinha uma família, e sucumbira à própria ambição. 

Este era o Luiz!!!

Tinha um tio, muito querido, irmão da minha mãe que só o chamava de Santo Luiz, pois não encontrava nele um defeito para apontar. Eu sempre brincava: tio Silvinho, pois eu vou lhe contar cinco defeitos dele… Esta história deu margens a muitas brincadeiras…

Mas, como nos disse o padre Manoel na noite do seu velório, a morte é purificação, os defeitos são sepultados com o corpo. E conosco só ficarão as suas qualidades: sua bondade, seu bom senso, sua generosidade, seu espírito de conciliação. Muito obrigado a todos vocês que vieram prestar esta homenagem ao Luiz e rezar junto conosco pela sua alma.”

 

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Este Editorial é em homenagem a Silvio Santos, eleito o Empresário de Comunicação do Ano pelo Prêmio Veículos de Comunicação, instituído pela Revista Propaganda, com seleção por mídias das principais agências do país e escolha final pelos membros da Academia Brasileira de Marketing, presidida por Francisco Madia de Souza.

Armando Ferrentini é presidente da Editora Referência, que publica o PROPMARK e as revistas Marketing e Propaganda (aferrentini@editorareferencia.com.br).