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Lembro-me de ter afirmado, em matéria para a revista Exame, no início de 2011, que tínhamos tudo para viver nesta uma década de ouro dos eventos. Naquele momento, vivia-se uma grande expectativa por conta da Copa do Mundo e das Olimpíadas no Brasil. Além disso, São Paulo se preparava para concorrer para sediar a World Expo 2020. E no meio do caminho tínhamos ainda a Jornada Mundial da Juventude, em 2013, no Rio, e a Convenção Mundial do Rotary Club Internacional, em 2015, em São Paulo, esta com a previsão de 40.000 participantes de todo o mundo.

O tempo passou e tivemos o primeiro baque: não conquistamos o direito de sediar a World Expo 2020. Depois veio a Copa. E com ela a decepção de vermos a movimentação financeira ficar restrita ao evento-mãe (a Copa em si) com poucas oportunidades extrapolando os estádios. O evento do Rotary promete ser um catalisador de uma boa atividade econômica derivada da movimentação desse grande grupo de convencionais.

As Olimpíadas, embora aconteçam no Rio, prometem também gerar incremento de negócios no turismo e nos eventos paralelos que poderão acontecer, principalmente em São Paulo. Dá para apostar ainda na década de ouro para eventos no Brasil? Difícil responder sem uma análise mais apurada. O legado da Copa deixou 12 estádios de grande porte prontos para receber não só o futebol, mas outros tipos de eventos, já que foram construídos dentro do princípio de arena multiuso.

A simples existência desses estádios gera uma necessidade de se criar atividades para preencher seus vazios ao longo do ano. Sabemos que o futebol, sozinho, não conseguirá cumprir esse papel. A necessidade é a mãe da invenção, já disse alguém. Imagino que governantes devam estar hoje queimando pestanas para evitar que o “seu” estádio seja taxado de elefante branco.

O problema é que eventos de porte adequado para esses grandes estádios não se viabilizam facilmente. E mais: exigem verbas vultosas de patrocínio e/ou um sofisticado processo de promoção e marketing para atrair público, às dezenas de milhares. Quem ocupará esse espaço? Estarão as agências de maior porte com essa oportunidade no radar?

Coloco como oportunidade por julgar que um problema pode sempre gerar novos negócios. Quando tive agência, adorava quando o cliente me ligava dizendo que queria conversar porque tinha um problema.

Quase sempre o problema dele gerava uma oportunidade. Bem, voltando ao ponto, estamos falando de grandes eventos, em grandes estádios. Mas há uma infinidade de eventos que logicamente não dependem de um estádio para se viabilizar. Só no campo dos corporativos, estima-se em mais de 330.000 o número de eventos realizados no Brasil por ano, 90.000 deles em São Paulo. O público presente a esses eventos passa de 80 milhões. Tudo isso – estima-se – gera mais de 3 milhões de empregos diretos e indiretos. Apesar do tropeço relativo da Copa – digo relativo porque o evento acabou deixando uma boa imagem junto ao público que por aqui esteve – e da perda na disputa por sediar a World Expo 2020, será que podemos ainda afirmar que teremos uma década de ouro para os eventos no Brasil?

Destacaria três pontos que nos induzem a pensar que sim:

1- Nosso país sempre esteve na rota das grandes tournées de artistas internacionais e nada leva a crer que isso não continuará acontecendo.

2- Apesar de embotamento do brilho do nosso país como um dos componentes dos Brics, o Brasil ainda é considerado um mercado estratégico para muitos segmentos de negócios, o que deve continuar justificando ações de estrangeiros por aqui, muitas delas traduzidas em eventos.

3- Passada a turbulência das eleições, devemos ter, a partir de 2015, um período de estabilidade política e definições macroeconômicas que eliminem uma possível insegurança das empresas em colocar em prática seus planos relacionados a eventos. Poderia selecionar mais pontos, mas esses três me parecem os mais relevantes para nossa análise. Acho também que o profissionalismo crescente na área também contribuirá para a eficácia dos eventos. Concluindo: garantir que esta década será de ouro para eventos pode ser muita pretensão, mas você aceitaria a classificação de Prata? Eu acredito!

*Entre em contato com o autor, que é diretor de marketing do WTC, no email alexis.pagliarini@sheratonsaopaulowtc.com.br