Jose Ortega y Gasset, filósofo e jornalista espanhol, disse, “eu sou eu mais as minhas circunstâncias…”. Ou, na versão 2019, da frase, se o cavalo passar selado, se você não estiver de cabeça baixa olhando o celular, salte e aproveite o cavalo, a oportunidade. Pouco provável que o cavalo passe novamente. Que a oportunidade se repita.

Jane Birkin nasceu em 1946. Filha da atriz inglesa Judsy Campbell e do tenente-comandante e espião da Marinha Real, David Birkin. Muito rapidamente engatou carreira no cinema, carreira que decolou a partir do filme Slogan, de 1969.

No filme, e ao lado de Serge Gainsbourg, canta a canção tema, Je t’aime… Moi non plus, onde passava boa parte do tempo gemendo e convertendo a música numa espécie de trilha sonora de um comportamento mais livre e carregado de sensualidade que prevaleceria no mundo, daquele momento em diante. Casaram-se e permaneceram juntos por 13 anos.

E tudo terminaria aí, e hoje seria uma simpática e bonita senhora não fosse no ano de 1981, num voo Paris Londres, tentar colocar sua marca registrada como artista e mulher até então – uma bolsa no formato cesta de palha – no compartimento de bagagem de mão… Sem muito sucesso e com a ajuda de seu companheiro circunstancial de viagem. O passageiro ao lado.

Circunstancialmente, a seu lado, Jean-Louis Dumas, executivo da Hermès que ouviu suas histórias e reclamações, divertiu-se, e transformou tudo isso num briefing para uma nova bolsa. Três anos depois a bolsa estava pronta, Jane Birkin aprovou e concordou em pôr seu sobrenome para batizar a bolsa. Hoje, seguramente, a bolsa é objeto de desejo de 10 em 10 mulheres. Cada bolsa leva 48 horas para ser produzida. Já foram produzidas 200 mil Birkins. Em muitos países as bolsas são alugadas por até uma semana. Até hoje a Birkin mais cara foi vendida no mês de maio de 2017, num leilão da Christies, pela bagatela de US$ 380 mil. Jane Birkin só tem cinco exemplares da bolsa que leva seu nome. Durante um bom tempo, investir-se numa bolsa Birkin revelou-se melhor do que investir-se na maioria das ações. Victoria Beckham possui 100 modelos diferentes da Birkin. O preço de entrada para quem quer ter uma Birkin é de US$ 8,5 mil. Uma Birkin pode carregar até três quilos de bugigangas e tralhas. Cada modelo de Birkin tem uma denominação específica dependendo do tamanho, cor e textura.

No ano de 2015, os ativistas acusaram a Hermès de maltratar os animais que cediam suas peles para as bolsas Birkin. Jane pediu para a Hermès tirar seu nome das bolsas. Acabaram conversando, chegaram a um acordo, a Hermès prometeu redimir-se, adotar um código radical de conduta e mudar sua forma de tratar os animais. Jane Birkin concordou. Conclusão. Segue a mística. Permanece a história fantástica e legendária. E os crocodilos, fornecedores das peles mais usadas nas bolsas, agradecem pelo melhor e mais humanizado tratamento que agora recebem.

Nada acontece por acaso. Mas tudo decorre de um acaso. Sempre. Não conheço uma única história de sucesso que o acaso e as circunstâncias não tivessem dado uma mãozinha. Às vezes, um pequeno sopro, Muitas, um baita empurrão. O acaso não é tudo. Mas, pensando bem, é quase tudo. O pouco que falta, depende de sua atenção, discernimento, sensibilidade, competência e ação. Sem essas virtudes pode chover infinitos acasos em sua vida e nada acontecerá. Muitos ainda preferem tratar o acaso com outra denominação: sorte. A escolha é sua, mas, acaso ou sorte, quando sentir o momento, mergulhe de cabeça.

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing (famadia@madiamm.com.br)