Brasileiro teme perder o emprego, mas prefere seguir trabalhando em casa para evitar a contaminação pela Covid-19 (Freepik)

A maior preocupação do brasileiro não é ser contaminado com a Covid-19 e sim perder o emprego. De acordo com a 21ª edição do estudo global Edelman Trust Barometer, 88% das pessoas temem demissões e 72% admitem o receio de contrair o novo coronavírus. Do contingente de 52% de brasileiros em home office, 72% optaram por trabalhar em casa justamente para evitar a doença. O temor é agravado pelas inconsistências de condutas do poder público na gestão da pandemia, que atualmente segue descontrolada com mais duas mil mortes diárias e escassez de vacinas.

O governo aparece na zona de desconfiança com contexto agravado pela infodemia. No Brasil, menos de um terço das pessoas consomem notícias de diferentes fontes, evitam as bolhas, checam e verificam os dados antes de compartilhá-los. O excesso de informações, muitas vezes tomadas por fake news, e a falta de orientação minam cada vez mais a confiança das pessoas nas autoridades públicas (27%, queda de 6 pontos), líderes religiosos (36%, queda de 6 pontos), jornalistas (45%, queda de 6 pontos) e CEOs das empresas (45%, queda de 11 pontos).

A confiança enfraqueceu em quase todas as atividades econômicas. Na área de tecnologia, caiu 75% com um encolhimento de 10 pontos em relação a 2020, mas permanece como o setor mais confiável. Os mercados de entretenimento (67%, com recuo de 11 pontos), automotivo (65%, com 11 pontos a menos) e de manufatura (54%, com retração de 10 pontos) acumulam as demais quedas verificadas no levantamento. Apenas saúde (54%) se manteve estável.

Em contrapartida, a preocupação em combater notícias falsas cresceu 70 pontos em importância para o brasileiro no último ano. A intenção em expandir conhecimentos sobre informações e mídia (68+) e em ciência (65+) também ganhou importância e agora perde apenas para a busca por soluções para as demandas ligadas à família (70+).

Da análise dos índices de confiança do público informado (62) e da população em geral (47), o estudo destaca a polarização, representada por 15 pontos de diferença, uma das maiores entre os 28 países pesquisados.

Fé nas empresas

A instituição mais confiável é a iniciativa privada (61%), seguida pelas ONGs (56%), mídia (48%) e governo (39%). “Nos últimos meses, o setor privado elevou sua credibilidade com a proatividade na luta contra a pandemia e com a descoberta de novos jeitos de trabalhar”, comenta Ana Julião, gerente geral da Edelman Brasil.

Recentemente, as marcas Ypê, Grupo Boticário e Amazon, por exemplo, anunciaram investimentos para ajudar o governo de São Paulo a erguer a nova fábrica do Instituto Butantan. Até agora, 40 empresas já doaram R$ 186,6 milhões para viabilizar a operação custeada integralmente pela iniciativa privada.

A atuação das empresas em suprir muitas das demandas do poder público posiciona o “meu empregador” (79%) como um agente mais confiável do que as próprias instituições. “As pessoas estão muito mais propensas a confiar no que lhes é familiar e local, caso do ‘meu empregador’ e do ‘CEO do meu empregador’, esse último com 66%”, sublinha Natalia Martinez, vice-presidente executiva da Edelman Brasil.

Para 66%, a “comunicação de meu empregador” é mais confiável do que propagandas oficiais do governo (57%) e de reportagens da mídia tradicional (54%).

Recomendação

Segundo a executiva, os CEOs devem encabeçar movimentos de transformação além do seu negócio, como combate à infodemia e mudanças climáticas, sem esquecer de agir com empatia, transparência e respeitar o propósito de valor de suas marcas. Nove em cada dez brasileiros cobram posicionamentos sobre os rumos da pandemia, automação do trabalho, problemas sociais e 68% dos entrevistados no Brasil concordam que os executivos devem interceder quando o governo não resolve problemas sociais.

Realizada anualmente, a pesquisa ouviu mais de 33 mil pessoas em 28 países – sendo 1.150 no Brasil – entre os dias 19 de outubro e 18 de novembro de 2020. A recomendação da Edelman é que empresas, ONGs, mídia e governo atuem de forma colaborativa para defenderem um objetivo comum em prol da sociedade.