A saída de alguns grandes jornais de redes sociais como o Facebook talvez seja, afinal de contas, um ajuste necessário neste grande vale-tudo em que se transformou a internet. E pode não ser de todo ruim. Um dos equívocos que passaram o ocorrer no mundo das notícias é que as pessoas se habituaram a transformar as redes sociais em fonte quase que única e exclusiva de informações – no lugar de enxergá-las essencialmente como espaço para cultivar relações com amigos.

Um estudo do MIT, o Massachusetts Institute of Tecnology, que analisou 126 mil boatos e notícias falsas espalhadas no Twitter ao longo de um período de 11 anos, descobriu que a fake news foi e continua sendo (muito) mais compartilhada por pessoas do que notícias reais, sugerindo que a curiosidade, a criatividade e a originalidade das notícias falsas costumam atrair mais do que a vida real. Notícias falsas têm uma propensão 70% maior de serem retuitadas do que notícias verdadeiras.

Nas redes sociais há de tudo um pouco – até informações confiáveis – e a enxurrada de fake news e outros absurdos só ganhou esta dimensão porque em algum ponto dessa história nos recostamos na cadeira da passividade e passamos a esperar que o mundo derramasse sobre nós informações interessantes, a cada segundo, onde estivermos. Quando foi que nos tornamos essas criaturas preguiçosas, incapazes de procurar as fontes mais bacanas para as informações que nos interessam, nos lugares adequados, deixando as redes sociais para os besteiróis, os contatos pessoais, as fotos e vídeos de bichinhos, as opiniões pessoais e as discussões mais subjetivas?

Demos peso demais a plataformas de conteúdo que nunca mereceram todo esse crédito, pois nunca provaram merecer 100% da nossa confiança, não é mesmo? O próprio Mark Zuckerberg anunciou, no início deste ano, sua decisão de priorizar conteúdos publicados por familiares e amigos dos usuários, no lugar dos de marcas, empresas, meios de comunicação. Ele não está errado: esta sempre foi, afinal de contas, a essência da rede social.

Até bem pouco tempo, sempre buscávamos as informações que nos interessavam in loco: em jornais e revistas impressos, em uma determinada rádio, na programação de um canal de TV, nos sites jornalísticos favoritos, nos blogs de colunistas de um determinado assunto. Proponho, em meio a tantos escândalos e polêmicas, que voltemos ao básico, deixando de terceirizar nossas escolhas e buscando a informação de qualidade onde ela realmente está. E checando sua veracidade. Sem preguiça!

Outro dia, lendo o artigo de Farhad Manjoo, do NYT, sobre sua experiência de desplugar completamente das muitas fontes de notícias que costumava acompanhar no mundo digital para concentrar sua atenção nas versões impressas de seus jornais favoritos, foi interessante acompanhar alguns fenômenos que se passaram com ele. Em primeiro lugar, a troca do “apocalipse da informação” por fontes analógicas lhe permitiu ler mais livros, e ser um pai e marido mais presente. Ele também afirma ter aprendido muito sobre as armadilhas das notícias online, e como evitá-las. Uma delas é, sem dúvida, se fiar nos comentários sobre as notícias, muitas vezes mais do que nas notícias em si – quem nunca cometeu este erro que atire a primeira pedra.

É claro que ninguém precisa ler somente a versão impressa dos jornais para se manter informado, mas o meu ponto é: priorizar Facebook, Twitter e outras redes como fontes de informação foi o grave erro que cometemos, valorizando velocidade no lugar da qualidade. É tempo de despertar!

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