O futuro da locomoção pelas cidades e estradas será dominado por carros hiperconectados, já no curto prazo, e com condução autônoma, um pouco mais adiante. A realidade é mais próxima do que se imagina tanto que, durante o Mobile World Congress (MWC), diversas montadoras, como Volkswagen, GM, Toyota, Mercedes-Benz, BMW e Seat, deram um ar de salão do automóvel à feira mobile e exibiram seus smart carros, com conectividade que visa melhorar a experiência das pessoas.

Durante o evento, por exemplo, a Seat apresentou seu carro com conexão 5G, em parceria com a Telefonica, que permite comunicação com outros carros e a infraestrutura da cidade. “Há duas vertentes sobre os carros conectados. A primeira é no espaço interno deles, onde será possível espelhamento de telas e integração com conteúdos que são exibidos, por exemplo, no vidro do carro. A segunda é na relação com o ambiente externo e a cidade. Será possível, por exemplo, conectar o carro com a casa para que o portão da garagem seja aberto e as luzes acesas na hora certa”, diz Leo Xavier, CEO da Pontomobi. Em relação aos carros autônomos, diz, trata-se de algo para um prazo mais longo, mas que vai afetar diversas indústrias, de seguros a imobiliárias, diante de um novo tipo de comportamento do consumidor.

Como as marcas devem se comportar diante dessa nova realidade? Até onde podem ir e o que poderão fazer nesse novo ambiente da indústria automotiva? Muitas das soluções, imagina Xavier, passam por repensar e redefinir a experiência de quem se locomove. “Não é design de boniteza, mas designer de experiência digital”, afirma. Assim, a forma como o espaço interno do carro é desenhado, com telas e sem volantes, abre espaço para se pensar em uma nova indústria de design interior para carros.

“O carro, sem dúvida, será uma nova plataforma de comunicação. Tem gente que vai pensar ‘Ai não, mais uma!’, enquanto tem gente que vai pensar ‘o que será que podemos criar para gerar valor a quem estiver no carro, que possa solucionar algum problema, facilitar a sua vida’. Prefiro o segundo olhar”, diz Alan Strozenberg, sócio e CCO da Z515. “É possível imaginar conectividade com social media, serviços de voz, mensagens explorando geolocalização e customização, por exemplo. Por um lado, fascinante; por outro, preocupante – refiro-me à sensação de, em todo lugar, o tempo todo, estarmos sendo submetidos a uma incessante carga de mensagens. Vai ter muita gente querendo desconectar de tudo e ficar olhando pela janela, pensando na vida”, reflete.

Para o profissional, a indústria deve pensar em soluções que tornam a viagem mais agradável e produtiva, como a de um aplicativo que consiga identificar o tempo do trajeto e possa sugerir atividades possíveis no período. “Seja ouvir um audiobook de 15 minutos, fazer oito ligações de dois minutos, ler dez emails, ouvir quatro músicas de três minutos. Ou, ainda, poder programar as atividades acima considerando o tempo do ‘trajeto’, atividades escolhidas com base nas necessidades e interesses de cada passageiro”, avalia. “Um ponto fundamental será a pessoa ter a opção de não receber nenhuma mensagem, ou filtrar aquilo que realmente é imprescindível que ela seja informada naquele trajeto”, completa.

Segundo o americano Travis Kupp, design e strategic foresight lead do SunTrust Bank, e um dos organizadores do encontro de designers e futuristas Speculative Futures, a experiência no carro deve ser pensada a partir de três lentes: os passageiros dentro, o ambiente externo e as implicações para a sociedade e política. “Podemos imaginar diversas interações envolvendo smartphones, que já são bastante onipresentes, e telas embutidas em veículos. Um pouco deste futuro já existe nos táxis de Nova York. Quando outras tecnologias, como a realidade aumentada, tornam-se comercialmente viáveis e socialmente aceitáveis, as possibilidades de infotainment (informação e entretenimento), marketing e varejo expandem-se consideravelmente”, avalia.

Para marcas e agências, ele recomenda que naveguem pelo equilíbrio entre privacidade e hiperpersonalização. Junto com isso, a relação entre o passageiro e o veículo precisará ser repensada com sensibilidade para as diferentes “culturas automobilísticas” em todo o mundo. “Em outras palavras, será importante entender como usar os novos canais de comunicação, mas com foco para que eles sejam ferramentas para projetar novas experiências centradas no ser humano”, finaliza.