Jurada da categoria Film Lions, Keka Morelle é CCO da Wunderman Thompson desde setembro de 2019. Antes, foi diretora de criação executiva (ECD) na AlmapBBDO, diretora de criação durante quatro anos na DM9DDB e diretora de arte por seis anos na F/Nazca. Com mais de 25 anos de carreira, Keka já ganhou alguns dos principais prêmios nacionais e internacionais de publicidade. Este ano, será a terceira vez que ela participará do festival como jurada: a primeira foi em 2006 e a segunda em 2019, ambas na categoria Outdoor. Ela acredita que no festival deste ano será difícil manter a mesma energia que nos anos anteriores porque o júri presencial vai fazer falta.

Preparação
Na primeira fase do julgamente nada mudou, apesar de que conciliar as reuniões de zoom com horas de julgamento online não é uma tarefa fácil. Mas o principal obstáculo mesmo acho que acontecerá na fase das discussões sobre as medalhas, aquele momento em que as trocas de opiniões são muito importantes. É quando se leva em conta os diferentes critérios e contextos culturais. Nessa fase, o julgamento ser remoto vai dificultar um pouco, sim. Mas estamos nos adaptando. Para essa minha participação no júri de Film, a primeira coisa que fiz foi organizar a minha agenda. Todo dia, na parte da manhã, reservo duas horas para o julgamento online. Além disso, nosso juri já teve dois encontros para trocarmos experiências e falar sobre essa primeira etapa, que é individual. Estou achando importante esses encontros, vamos falando sobre critérios e nos conhecendo para que na próxima fase não sejamos estranhos. É uma maneira de driblar as dificuldades impostas pela distância.

Critérios
Eu acredito sempre e em primeiro lugar que uma peça para ser competitiva precisa ser inédita e inovadora. Ela precisa ter um contexto relevante para a marca. Precisa estar imbuída dos valores do mundo de hoje e, tratando-se da categoria de filme, é muito importante que emocione.

Keka Morelle: “Nossa criatividade tem sido a principal ferramenta para superar a pandemia”

Expectativa
Acho que a principal diferença do festival deste ano, mesmo tentando não fazer muitas comparações com os dos anos anteriores, é que vai ser difícil manter a mesma energia, por se tratar de um evento online. O presencial vai fazer falta, sem dúvida. A troca de experiências é sempre mais rica no contato pessoal. Mas, por outro lado, acredito que Cannes manterá sua relevância, mesmo num ano atípico como este. Afinal, é o mais importante evento da publicidade mundial. Mesmo a distância, teremos os registros históricos dos trabalhos. E tem o lado enriquecedor pelas pautas que precisam ser abordadas, pelas experiências e histórias que ouviremos.

Brasil
É um ano difícil para o Brasil. As dificuldades que estamos enfrentando, que só pioraram desde o início da pandemia, no começo do ano passado, terão um impacto grande no desempenho das nossas agências em Cannes. Mas acho que também aqui devemos evitar de querer comparar resultados com os anos anteriores. Porque, como disse, este é um ano atípico. Acredito que fizemos o melhor possível em meio a tantas dificuldades. Acredito que o mais importante é que mostraremos em Cannes a nossa criatividade, que tem sido a principal ferramenta que usamos para superar as barreiras impostas pela terrível realidade da pandemia em nosso país. Colocar aqui uma pressão por bater recordes de eficiência, num ano como este, é um absurdo! Deveremos celebrar qualquer conquista, porque ela terá, principalmente, um enorme valor simbólico por tudo o que temos passado.