Desculpe a grosseria do título deste artigo, mas estou apenas parafraseando (com ligeira modificação) o dito por James Carville. Em 1992, Carville, estrategista de Bill Clinton, soltou essa pérola, que acabou virando uma máxima em campanhas presidenciais mundo afora: “É a economia, estúpido”: esta foi a frase célebre do estrategista.

De forma grosseira e definitiva (como gostam os americanos), dizia que os resultados da eleição presidencial estão intrinsecamente ligados às condições econômicas do país.

Nas eleições presidenciais, se a economia cresce durante o ano eleitoral, é mais provável que o presidente em exercício seja reeleito. Embora as condições brasileiras sejam bem diferentes, já que estamos em início de governo, a máxima cabe como uma luva.

Afinal, os brasileiros esperam muita coisa do novo governo, mas o mais desejado mesmo é uma virada na economia, puxada por reformas e de uma postura mais liberal, deixando o estado mais leve, gerando mais empregos.

Não se trata – agora – de pensar na reeleição, é claro, mas, isso sim, na validação do novo governo. Mas não é de economia que gostaria de tratar neste artigo. Quero aproveitar a força da frase e adequá-la a meu texto.

É a comunicação, estúpido! Uso a frase não para me dirigir a alguém, especificamente, mas para reforçar o que tenho trazido para esta coluna repetidas vezes: a maior parte dos problemas é decorrente de uma má comunicação – ou da ausência dela. E o que temos visto no início claudicante deste governo é uma falta da devida atenção e valorização – para dizer o mínimo – à boa comunicação.

Numa visão simplista e equivocada, o governo atual achou que podia continuar simplesmente tuitando para se comunicar com a população e todos os stakeholders de quem depende para dar andamento aos importantes projetos planejados pelo país. “Não é necessário gastar rios de dinheiro para se comunicar”, disse uma alta patente. “Empresa pública não precisa gastar com propaganda”, disse outro. “Vamos fazer in-house”, disse um terceiro. Mas aí começaram a chegar as demandas por suporte às ações do governo.

Veio o projeto de lei de facilitação de porte de armas e poucos entenderam muito bem. O projeto teve a proeza de desagradar quem era a favor e quem era contra. Falta de uma comunicação competente!

E vieram as tão esperadas iniciativas centrais e estratégicas do novo governo: a reforma da Previdência e o projeto de lei anticrime. Para a primeira, o governo até que tentou “quebrar um galho”, fazendo uma comunicação caseira. (Veja você! Um assunto tão importante, tratado na base do improviso).

Felizmente, existe gente com discernimento por lá: Paulo Guedes vetou a comunicação e exigiu um trabalho profissional. E aí foi preciso chamar às pressas uma agência competente para fazer o trabalho.

O bom dessas tropeçadas é que, pouco a pouco, está caindo a ficha do governo de que fazer comunicação é muito mais do que enviar torpedos via redes sociais. Pode até ter funcionado para ajudar a eleger o atual presidente, mas agora o buraco é mais embaixo.

Junto com a Quarta-Feira de Cinzas chega o fim da lua de mel do novo governo. Não será uma crise na Venezuela que embotará a visão dos ansiosos brasileiros. Está todo mundo esperando menos bravatas e arroubos e mais governo. Mais ações concretas e consistentes!

E não dá para fazer isso sem um competente suporte de comunicação. O povo precisa saber, em detalhes, a importância das reformas e dos projetos. É preciso deixar claros os riscos e ameaças e como isso tudo pode afetar suas vidas.

É necessário ainda engajar a população e torná-la aliada no processo de aprovação das mudanças. Desnecessário dizer que a comunicação tem um importante papel nesse processo. Não se vai para frente sem uma boa comunicação. É assim no ambiente privado ou público. E o governo pode ficar tranquilo: tem muita agência competente no Brasil para ajudar.

Alexis Thuller Pagliarini é superintendente da Fenapro (Federação Nacional das Agências de Propaganda) (alexis@fenapro.org.br)