Em 1973, o economista britânico Schumacher profetizou, Small is Beautiful. Contextualizando e construindo toda a sua base conceitual a partir da criação do redator Julian Koenig da agência DDB – Doyle Dane Bernbach – para seu cliente Volks. Anúncio antológico e monumental do fusquinha, Think Small. Ano, 1959. Manifestações pontuais, visionárias e proféticas de um mundo que ganharia consistência e escala a partir da virada do milênio.

Como decorrência, hoje, agora, os megaespaços corporativos em processo de derretimento radical. Pessoas trabalhando de suas casas ou de ilhas de workspaces próximas de onde moram. Shopping centers e lojas de departamento fechando suas portas às dezenas a cada ano. Dos super, para os hiper, e agora o culto aos minimercados.

Milhares de casas e apartamentos vazios e abandonados pelas metrópoles mundiais para pessoas que não precisam e não querem tanto espaço diante de televisores que deixaram de ser móveis e reduzem-se a telas, de LPs, CDs e vídeos, que migraram do analógico e chegam via streaming… Agora começa-se questionar as grandes salas de concertos em todo o mundo. Quase todas construídas no século passado, nos centros da cidade, apostando num mundo verticalizado, agora, se horizontaliza.

Em matéria recente da revista Época, tradução de um artigo do trompetista da Orquestra de Baltimore, Andrew Balio, a questão do tamanho das salas de concerto é colocada em discussão. Balio começa “perguntando e se perguntando: “É a música que serve ao espaço ou o espaço que serve à música?”.

As grandes casas de concerto em todo mundo, com 1 mil ou mais lugares vivem crises definitivas e terminais. Enquanto pequenas salas, para não mais que 200 a 300 lugares, crescem e prosperam. O MET, não o Museu, o Metropolitan Opera de Nova York é uma das grandes salas em crise superlativa. Oferece 4 mil lugares. Ninguém mais se lembra da última vez que os 4 mil lugares foram totalmente ocupados, mas todos se lembram de muitas óperas com não mais que 200 pessoas perdidas naquela imensidão.

Em seu artigo, Balio diz: “Num mundo dominado por corporações internacionais, idas diárias ao trabalho em avenidas com dez faixas e ritmo frenético e constante de nossa tecnologia de todo o dia, tudo o que desejamos é alguma coisa de pequenas dimensões; humano, conhecido e íntimo. Agora e sempre…”. O hotel butique, o restaurante farm-to-table (comida da fazenda à mesa), os negócios locais, tudo está voltando à moda. Se é que saíram algum dia.

Estamos procurando um antídoto para nosso mundo gigante, automatizado e movido por números. A música clássica é o remédio perfeito, mas não se continuarmos a apresentá-la como fazemos hoje…

“Não podemos continuar insistindo para que as pessoas entrem em salas tamanho Maracanã, com um ingresso numerado nas mãos como única forma de identificação, e então sentem-se metros de distância, com estranhos que jamais conhecerão, sem nenhuma esperança de que alguém traga uma taça de vinho ou um café, nem mesmo um sorriso. Não é à toa que as salas de concerto estão vazias…”.

É isso amigos. O anúncio para o fusquinha, grito isolado de 1959, confirmou-se, Think Small. Schumacher estava certo, em 1973, Small is Beautiful. Finalmente aconteceu. Estamos nos apequenando especialmente para nos engrandecermos humanamente. Já era tempo.

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing (famadia@madiamm.com.br)