Luciano Deos: “Acho que a gente tem uma oportunidade sem precedentes”/Foto: Alê Oliveira

Luciano Deos, fundador e CEO da GAD’ Consultoria de Marca, afirma que, depois de maio, as oportunidades começaram a voltar para a mesa. Porém, com a crise causada pela pandemia da Covid-19, o executivo fechou o escritório em Porto Alegre e reduziu a equipe. “Definimos estrategicamente que passaremos a operar neste formato de estrutura fixa muito enxuta e com um time de terceiros flexível”, destaca ele. Acreditando que este é um momento de turning point para o mercado, Deos criou iniciativas como o movimento Melhor Normal e a série de debates Transforming GAD’, em que modera lives com executivos como Gilson Finkelsztain (CEO da B3) e Frederico Trajano (CEO da Magazine Luiza), que serão os próximos participantes. Confira a seguir a sua entrevista.

PRIMEIRO MOMENTO
Desde que começou esse processo de pandemia, o mercado passou a se manifestar de diversas maneiras. Num primeiro momento, todos se jogando para apagar o incêndio, sem saber no que ia dar, se iríamos sobreviver. E daí começamos a ver alguma movimentação das marcas, algumas adotando uma postura de apoio à sociedade, com uma série de iniciativas, outras se recolheram ou mantiveram basicamente a mesma agenda. E a gente começou a ver uma tentativa de o mercado prognosticar e isso nos chamou a atenção. Eu tomei a decisão de não fazer prognósticos naquele momento e esperar um pouco para ver como o mercado se comportaria. O segundo ponto foi perceber que, inevitavelmente, estávamos e estamos inseridos num contexto de transformação bastante significativo, com uma diferença que muitos estão neste contexto de maneira inconsciente e poucos de forma consciente, e certamente esses serão os que sairão melhores.

FASE DE TRANSFORMAÇÃO
Entendo que agora estamos no segundo momento, de pós-rescaldo, de transição. E tem esse terceiro momento, de pós-pandemia, que alguns gostam de chamar de ‘novo normal’, e eu prefiro falar em ‘melhor normal’. Eu quero falar do terceiro momento, sobre como vamos endereçar uma agenda um pouco mais permanente. Esse talvez seja um momento até mais ansioso do que o primeiro, porque estamos mais no limbo. Alguns setores se beneficiando e outros se destruindo. As relações precárias se desmontaram. Ficamos muito mais desnudos. Eu entendi que nesse segundo momento da transição, posto que a gente passou a fase aguda, e está se endereçando para a terceira fase, em tese pós-pandemia, me pareceu o momento de chamar as pessoas para um debate, dentro do Projeto Transforming GAD’ com a série de lives, falando sobre o contexto de transformação dentro dessa perspectiva de que todo mundo está sendo transformado.

INICIATIVAS
Estamos vivendo um momento de profunda transformação e estou muito feliz de liderar iniciativas como a criação do símbolo Fique em casa e o movimento Melhor Normal, que acho que são importantes para o mercado, para as empresas. E, obviamente, o cliente te vê de outro jeito. Eu adoro aprender e debater, e convidei pessoas que eu admiro para esses debates. O tema transformação sempre foi muito forte para mim no contexto de marca. Tenho uma crença de que marca é um agente de transformação. Nós temos o olhar de que marca é cultura.

PROJETOS EM REDE
Com a crise, fechamos o escritório em Porto Alegre, ficamos só com o escritório de São Paulo, e fizemos uma redução de equipe importante. De um time de 40 pessoas, acabamos reduzindo umas 15, e definimos estrategicamente que passaremos a operar neste formato de estrutura fixa muito enxuta e com um time de terceiros flexível que a gente já operava, acelerando esse modelo. Estamos operando muito bem em home office, a nossa produtividade aumentou muito. Até março de 2021 ficaremos assim e até lá não quero ter obrigação de definir nada. Essa agenda de construir projetos em rede e poder trabalhar com pessoas de qualquer parte do mundo acabou se apresentando como uma opção maravilhosa e funcionando muito bem. A gente entrou no começo de março achando que tudo ia acabar e estamos vivendo agora um dos melhores momentos da história do GAD’.

RETOMADA
Março, abril, maio foi um desespero, com muitos cortes de contratos, atrasos de pagamentos, clientes não sabendo se iam continuar. Tudo parado. De um lado a gente fez um trabalho dedicado de redução de custos, acho que tivemos uma forma de conduzir com a equipe muito próxima, íntima com a equipe, apesar das dificuldades. Eu, particularmente, nunca tive tão próximo do time. Isso muda tudo. Tanto que o nível de entrega, qualidade e conexão com os clientes nunca foi tão bom. Aí o que começou a acontecer depois de maio? Começaram a voltar para a mesa novas oportunidades, de marcas que realmente queriam fazer alguma coisa e não especulações. E entramos num momento de muito fechamento de novos negócios.

CONFIDENCIALIDADE
Os contratos de consultoria implicam em confidencialidade, por isso os clientes/cases não podem ser revelados.

EXPECTATIVAS
A nossa expectativa é manter os números que tivemos no ano passado, o que eu considero espetacular em vista do que ocorreu no primeiro semestre. Estou com a cabeça em 2021. As lives vão ser disponibilizadas em formato de série, vamos publicar uma segunda versão do paper e vamos lançar o livro de 35 anos do GAD’. Neste momento o gap dos players mais antigos para os mais novos diminuiu muito e nesse contexto estamos com uma condição de diferenciação grande. Essas ferramentas todas de tecnologia digital, que nós tínhamos mais dificuldades de trabalhar, fomos obrigados a chegar nelas, num formato de custo melhor. Essa diferença que existia entre nós e outros concorrentes mais novos diminuiu bastante, nos colocou no jogo. Estou mais do que otimista, estou excitado. Acho que a gente tem uma oportunidade sem precedentes, mesmo com as dores que todos temos, com a questão de saúde e outros fatores com a pandemia, de um turning point total. Agora depende também do que você faz para sair melhor.