Virginia Any, diretora de mercado anunciante da Infoglobo, Editora Globo e Valor Econômico, se considera feminista 2.0 – ou até 3.0. Ela explica: se por muito tempo as mulheres tiveram de seguir modelos masculinos para avançarem nas suas carreiras, hoje há na sociedade grandes mulheres à frente de corporações como modelos femininos para inspirar as novas gerações. “Acredito que nosso papel é ser exemplo de grandes realizações como profissionais e como mulheres”, diz.

A empresa onde trabalha – Infoglobo – parece estar na vanguarda do movimento feminino, pois, segundo Virginia, 46% do total de funcionários e estagiários são mulheres, sendo que 43% do total dos cargos de gestão são ocupados por mulheres. “Se pegarmos o movimento da ONU Mulheres como exemplo, que tem como objetivo alcançar 50% até 2030, vemos o quanto estamos na vanguarda quanto à igualdade de oportunidades por aqui. A igualdade de gêneros já está presente na nossa cultura, já é considerada naturalmente”.

Não há, como na maioria das empresas, medidas específicas voltadas para a igualdade de gêneros. O foco é na igualdade de oportunidades, para homens e mulheres. Virginia chama a atenção sobre outro aspecto para o que ela classifica de “nova fase do feminismo”: trazer os homens para a conversa.

Ela menciona Naisha Bradley, diretora do centro de estudo de mulheres de Harvard, que, durante o evento Power Trip Summit, promovido pela revista Marie Claire no ano passado, disse que seu marido é tão pai de seus filhos como ela é mãe deles.

“O que permite uma mulher ter uma vida profissional plena e construir uma família, é ter um parceiro (a) que veja o mundo da mesma forma que ela. Mulheres ainda investem o dobro do tempo nos afazeres domésticos e no compromisso com a família. Ainda é raro empresas que dão aos homens uma licença paternidade que permita a eles dividir as funções do bebê desde o começo com suas mulheres”, diz.

Virginia vê com bons olhos os movimentos contra o assédio, que, segundo ela, buscam modificar hábitos culturais que já não combinam mais com o nosso tempo, acabando com manifestações que diminuem as mulheres.

Porém, teme que posturas muito radicais, o fim do humor e da leveza, possam fazer os movimentos feministas serem vistos como a “patrulha do politicamente correto”. O ponto, ela diz, é equidade de direitos e oportunidades.

Ela própria afirma ter enfrentado obstáculos para trilhar seu caminho profissional, porém muito mais de ordem pessoal, procurando entender que a perfeição não existe em todos os papéis desempenhados. Nunca enfrentou assédio no trabalho, em todas as empresas que passou.
“Nos desdobramos em diversos papéis e jornadas para equilibrar a nossa vida. Muitas vezes, abri mão de mim pelos outros para isso, e é difícil não sentir culpa. Mas, ao mesmo tempo, esse desafio desenvolve nas mulheres um olhar sistêmico sobre tudo o que fazemos”.

O desafio continua: as mulheres tiveram importantes conquistas no mercado de trabalho, e transformações reais ocorreram. “Mas, isso não nos impede de vislumbrar melhorias que ainda precisam ser feitas”, conclui.

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