Quando fui convidada para escrever sobre o que me inspira, comecei remexendo nas gavetas da memória atrás da resposta: o que é mesmo que me inspira? Inspiração sempre me pareceu algo tão orgânico e natural, que nunca havia racionalizado sobre sua origem. Comecei do zero, fazendo uma consulta ao dicionário. “Inspiração, s.f.: Estímulo ao pensar ou à capacidade de criação de artistas, escritores etc.”. Ainda não estava claro. Comecei, então, a pesquisar sobre o que inspira os outros e, invariavelmente, chegava ao mesmo ponto: a paixão. Paixão por praticar ioga, meditação, um esporte, viajar etc. Sempre um hobby ou alguma atividade que estimulava as pessoas a se moverem, a criarem, a mudarem. De cara, percebi que nada disso figurava no topo da minha lista. 

Mas encontrei algo que tinha o mesmo efeito sobre mim: histórias. Aquelas que eu ouço na mesa do restaurante, no churrasco, na casa de amigos, no meu ambiente de trabalho, em qualquer lugar. Explico: foi depois de conhecer, conviver e escutar muitas histórias de uma pessoa apaixonada por propaganda que acabei adquirindo essa mesma paixão e deixando a advocacia para trabalhar numa agência de publicidade. Foi uma professora muito querida, que me inspirou a mudar definitivamente para São Paulo. E assim foram ocorrendo as transformações da minha vida, uma pessoa foi levando a outra, assim como uma história levou a outra, e eu fui sempre me movendo, inspirada pelas narrativas ao meu redor.

Como, por exemplo, a história de uma ex-chefe e amiga que teve grande parte da sua vida conduzida pela rigidez da cultura japonesa, mas encontrou a paz e a felicidade na malemolência da Bahia, quando se apaixonou por um baiano numa viagem de férias para Itacaré. A partir daí, a sua vida mudou completamente e eu tive a sorte de acompanhar de perto cada capítulo dessa história. Do mercado publicitário de São Paulo até a dedicação exclusiva a melhorar a vida dos outros através de terapias alternativas. Assim como outra amiga, que conheci há pouco tempo, que largou a vida agitada de São Paulo para se mudar para Ubud, em Bali, e agora ministra rituais místicos que ajudam as pessoas a viverem com mais leveza e paz.

E, como não poderia faltar, existe também a amiga que não larga nada, só soma. Soma os desafios de uma vida profissional bem atribulada com a maternidade de dois filhos. Como se não fosse o bastante, ainda inventa de ser coordenadora de uma escola de propaganda e, mesmo com tudo isso, não para de realizar coisas novas.

Tem também a amiga mineirinha, calma e sorridente, com carinha de boneca, mas uma história de muita luta. No caso dela, a transformação veio de uma forma inusitada: ela ganhou um reality show e teve, como parte do prêmio, muito trabalho. Sorte minha que foi ao meu lado e agora eu convivo com esse exemplo na minha frente, me dando força todos os dias.

Além dos meus pais, que escolheram se dedicar aos outros através de todos os tipos de caridade possíveis, inspirando-me diariamente a ser a pessoa mais correta e caridosa que eu puder ser. E, para finalizar, a inspiração com a qual eu convivo dentro de casa, o meu marido, que é anestesista e, mesmo com toda responsabilidade diária, consegue se manter leve, bem-humorado e positivo, algo raro de se encontrar. Isso certamente me inspira a estar constantemente relativizando os meus problemas e as responsabilidades do meu trabalho, ajudando-me a deixar o estresse do dia a dia de lado para me reconectar com o prazer que existe no que faço. Afinal, faço o que mais gosto: busco entender as pessoas, identifico motivações e uso todo esse aprendizado para ajudar a encontrar propósito para as marcas, levantar pontos de vista e, mais do que isso, contar boas histórias, que também inspirem e movam as pessoas a transformarem as suas vidas.

Raquel Messias é vice-presidente de estratégia da Grey Brasil

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