Desde sempre as pessoas me perguntam: “De onde você tirou essa ideia? Em que você se inspira para criar?”. O fato é que o conjunto de coisas acaba fazendo com que a ideia apareça. Procuro enxergar oportunidades nas coisas em que os outros veem dificuldades, observo situações de pontos de vista diferentes, estou sempre disposta a aprender e vou atrás de estímulos constantes. Não tenho medo de arriscar, adoro explorar o desconhecido e, o mais importante, tento sempre observar tudo com o olhar curioso de uma criança.

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E, como qualquer criativo, sofro várias derrotas, mas isso não me faz parar. Aprendi a recomeçar do zero; e se acho que uma ideia não está incrível, começar tudo de novo de um jeito melhor não é um problema para mim, é um desafio. Tiro as ideias de qualquer lugar, não existe receita para isso e também não acho que ser criativo seja um dom que você nasça com ele.

Acredito que a criatividade pode ser ensinada, treinada e evoluída. Treino a minha desde pequena. Eu sonho acordada, eu me perco nas minhas imaginações, eu me perco no tempo. Muitas vezes, a ideia surge e – num primeiro momento – eu até acho ela incrível, mas pode ser que depois de duas horas eu já não esteja mais achando-a tão atrativa. Algo me fala que ela poderia ser melhor. Volto para o meu universo de inspirações e procuro desesperadamente por outra ideia.

A magia acontece quando aquela grande ideia começa a fluir. Nesse momento, nada mais importa até que eu consiga olhar para ela e ter a certeza de que ela vai mexer com a mente e com o coração de quem vai ser impactado. Preciso ter a certeza de que aquela ideia vai tirar um suspiro, um sorriso, um arrepio das pessoas. Aí, pronto, se acho que isso realmente vai rolar, essa sim é a big idea!

A inspiração vem exatamente de tudo o que vejo, do dia a dia, de tudo o que me emociona, mas vem principalmente das pessoas. Adoro gente! Gente que vejo dentro do ônibus que parou ao meu lado no trânsito, em filmes, nos livros, no vendedor de pano de prato que sempre encontro na esquina da Santo Amaro com a Cotovia, na conversa do casal sentado na mesa à minha frente no restaurante, na rotina da adolescente que leva diariamente o cachorro para passear na rua, na menina que mora na fazenda, na mãe que está ensinando seu filho a andar de bicicleta sem rodinha, no pai que acabou de se separar e é impedido de ver seus filhos, na minha equipe de criação, que constantemente tem ideias geniais, na molecada brigando na rua, nos meus concorrentes, naquela senhora que não perde uma missa de domingo, no programa de TV ao qual ninguém gosta de assistir, na galera que está na fila para entrar num festival, no torcedor de futebol…

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Ah, o torcedor de futebol… é uma inspiração fascinante. A paixão do torcedor pelo seu time é algo sensacional e altamente contagiante. Ficar no meio dele, escutar seus gritos e observar como ele se entrega é uma “escola de inspiração” que todo criativo deveria frequentar pelo menos um dia.

É inspirador ver aquele rosto apreensivo e imaginar como vai conseguir se controlar se seu time sofrer um gol, ver sua lágrima escorrer, ver o soco com as mãos no ar e, quem sabe, minutos depois, ver sua explosão de alegria quando a bola entrar no gol adversário.

Eu me inspiro demais ao ver a cumplicidade do torcedor com seu time, ver sua fé. Ele engole a saliva, aperta as mãos, sussurra preces e maldições, sofre e chora. E, quando comemora, extrapola sua emoção e vai além do seu limite. É impressionante como dá até para enxergar seu coração pular para fora do peito. Isso tudo é sensacional, é vida pulsando! E, para mim, não existe fonte maior e mais incrível de inspiração do que essa.
Viva! Viva essa gente toda que, sem saber, me ajuda a ser mais criativa!

Lygia Fernandes é diretora de criação da agência The Group