Lázaro de Mello Brandão, uma das lendas e instituições do mercado financeiro, finalmente, entregou sua carta de demissão ao Conselho. Ingressou naquele que seria, poucos anos depois, o Bradesco, antes mesmo de sua criação. A Casa Bancária Almeida & Nogueira. Setembro de 1942, como contínuo. No dia 10 de março de 1943, a Casa Bancária virou Bradesco, em parceria com seu amigo de vida, Amador Aguiar.

Uma dupla do barulho, que escreveu parcela expressiva da história do século passado e do país. Uma espécie de Dom Quixote e Sancho Pança. Amador e Lázaro. Nos próximos meses, cumprirá uma longa agenda de reuniões, compromissos, homenagens. E que começou com uma entrevista para Sonia Racy, do Estadão.

Lembrando que permanece na ativa. Agora não mais no banco nem em seu Conselho. Mas ainda presidindo a Fundação Bradesco e a Cidade de Deus Participações. Em toda a história do Conselho do Banco, apenas dois presidentes. Amador e Lázaro. Agora Lázaro escolheu o seu sucessor e o terceiro presidente: Luiz Carlos Trabuco, o Trabuco, Bradesco de nascimento, com DNA rigorosamente igual ao de seus antecessores, há 48 anos na organização.

Na entrevista, Lázaro de Mello Brandão repassa alguns compromissos de seu banco:

1 – Somos, acima de tudo, um banco doméstico. Temos agências lá fora apenas para apoio a nossos clientes;

2 – Temos mais correspondentes no digital que qualquer outra organização: 39 mil!;

3 – Perguntado sobre a política do Itaú de invadir a América Latina, respondeu: “Sempre achamos que política semelhante desviaria muito de nossa intenção, de unidade, de objetivos”;

4 – Sobre a desbancarização: “No digital, o banco tem um ganho de produtividade indiscutível com o avanço da tecnologia. Isso repõe outras margens que desapareceram e gera um equilíbrio”;

5 – A Lava Jato “não vai acabar com a corrupção. Mas vai trazê-la para níveis não tão estupendos como hoje, de proporções gigantescas. A Lava Jato vai vacinar o Brasil”;

6 – O melhor presidente do Brasil foi o FHC. Teve um comportamento ajustado. Um ponto fora da curva.

Num determinado momento – o melhor da entrevista: A Revelação! Lázaro, finalmente, conta por que a fusão Unibanco e Bradesco, anunciada num fim de semana, foi desfeita no fim de semana seguinte (duas capas sequenciais de Veja): “O Bradesco sempre teve comando próprio das decisões. No protocolo que foi assinado, se dava a presidência do conselho ao Walter Moreira Salles. Era mais capitalizado. Feito o protocolo, criaram duas comissões, aqui e lá, para detalhar o processo. Nessas comissões havia recíproco desinteresse. A comissão de cá não estava interessada, nem a comissão de lá. Não houve um árbitro para bater na mesa…”.

É isso, amigos, uma vez mais, há mais de 40 anos, as tais da DAC – Doenças Autoimunes Corporativas. Diretores de empresas, executivos profissionais, que são contratados a peso de ouro para defender a causa e os interesses das organizações que os remuneram para tanto, pensando exclusivamente nos próprios interesses e na defesa de seus territórios.

Em tempo, essa foi a primeira vez que Unibanco e Bradesco noivaram, mas não casaram. Anos atrás, num fim de noite, Bradesco e Unibanco marcaram a data do casamento e acertaram as condições. Na madrugada, o Itaú atalhou e roubou a noiva. Essa cochilada foi atribuída a Marcio Cipriano, presidente do Bradesco. Até hoje acionistas e diretores do Bradesco não perdoam Marcio. O constrangimento passou a ser tão grande que Marcio não resistiu e, anos depois, já com o Bradesco sob o comando de Trabuco, renunciou ao Conselho. No final, Sonia perguntou ao seu Brandão: “O senhor foi feliz aqui?” E, Lázaro de Mello Brandão respondeu: “Muito!”. E nada mais disse e nem lhe foi perguntado.

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing (famadia@madiamm.com.br)