Não sei você, mas eu e a maioria do meu círculo mais próximo de relacionamento ainda estamos de queixos caídos com as manifestações ultraconservadoras que tomaram as redes sociais durante o processo das campanhas eleitorais em apoio ao candidato posicionado mais à direita.

Um tsunami conservador irrompeu pelas timelines, não deixando pedra sobre pedra pelo caminho.

Ai de você se questionasse alguma coisa contra. Era tachado de esquerdinha, antipatriota e coisas piores. Fiz a besteira de clamar por bom senso junto aos mais exaltados. Só levei porrada.

O que mais assusta é a forma explícita com a qual esse novo conservador se expressa agora. Onde estavam todos eles? Foi uma saída coletiva do armário?

Candidatos antes posicionados mais ao centro e com posições menos conservadoras, de forma pragmática e oportunista, não se inibem em surfar nessa onda, mesmo que essa nova vestimenta não lhe caia bem.

É o caso de um candidato ao governo do maior estado do país que, de repente, defende a máxima “bandido bom é bandido morto” e não hesita em demonizar os tais socialistas (seus oponentes). Candidato, aliás, da social-democracia.

O certo é que, a não ser que aconteça algo totalmente surpreendente e improvável (este artigo está sendo escrito antes do segundo turno das eleições), a partir de janeiro de 2019 teremos um conservador assumido nos governando. Eleito por uma maioria igualmente conservadora.

E aí? O que muda? Essa deve ser a preocupação de quem cuida da imagem de empresas e produtos, como nós, publicitários.

Na verdade, a minha decisão de escrever sobre esse fenômeno ocorreu depois de uma boa conversa com Glaucio Binder, sócio-diretor da Binder e presidente da Fenapro. Sim, nós, publicitários, devemos nos preocupar com essa onda conservadora. É um fenômeno a ser estudado e dissecado à exaustão.

Afinal, nos últimos anos, tudo o que ouvimos sobre tendências apontava para uma visão mais liberal, menos conservadora. Quantos e quantos painéis e palestras dedicadas à discussão de igualdade de gêneros, do empoderamento feminino, do fim do preconceito, seja ele de raça, de sexo, de origem, de idade…

Este ano, no Cannes Lions, houve até um painel, liderado por Faith Popcorn, apregoando The death of masculinity, ou seja, O fim da masculinidade. O estudo da Getty Images – Tendências Visuais 2018 – também corroborou esse conceito, apresentando entre as tendências a Masculinity Undone, ou seja, Masculinidade desfeita.

Como se não bastassem esses dois estudos, veio o Google Lab trazendo o tema Masculinidade tóxica. Todos eles ressaltando um novo perfil do homem, menos machão, menos dominador, sem medo de mostrar sua sensibilidade.

Será que esses neoconservadores corroboram essas tendências? Some-se a isso a liberdade com que se trata de famílias lideradas por casais do mesmo sexo. E agora?!

E as campanhas publicitárias mostrando casais do mesmo sexo se relacionando, se beijando, mostrando seu afeto sem receio? Devem ser engavetadas? Os institutos de pesquisa devem voltar a campo e validar (ou não) tudo o que parecia uma tendência irretornável?

Devemos rever nossos conceitos ao criar novas campanhas sob esse novo (?) paradigma? A questão é importante, principalmente quando vemos também um movimento internacional em direção à direita, à xenofobia, ao conservadorismo voltando às sociedades tidas como evoluídas. Vemos líderes linha-dura se sobressaindo em países outrora liberais.

Será que estamos retroagindo, embrutecendo frente aos problemas da humanidade? Será que esses conservadores sempre estiveram por aí, um tanto quanto envergonhados em explicitar sua posição, fazendo-o agora, validados pelos líderes emergentes, que levantam sem medo a bandeira do conservadorismo? Só o tempo dirá. Mas devemos ficar atentos!

Alexis Thuller Pagliarini é superintendente da Fenapro (Federação Nacional de Agências de Propaganda)
(alexis@fenapro.org.br)