Lisovskaya/iStock

Toda a categoria de carnes virou alvo de desconfiança no Brasil com o escândalo da Operação Carne Fraca, da Polícia Federal, que envolve denúncias de venda de carne adulterada (e podre) e um esquema de pagamento de propinas a funcionários do Ministério da Agricultura para afrouxar a fiscalização. Os prejuízos financeiros e de imagem são enormes não só para as empresas investigadas, entre elas grandes companhias brasileiras, a BRF (Sadia e Perdigão) e a JBS (Friboi e Seara), mas também para a marca Brasil, cujas exportações dos produtos despencaram (de uma média diária de  US$ 63 milhões para US$ 74 mil) com a restrição da entrada de carne brasileira em vários países. O PROPMARK ouviu especialistas para saber a opinião deles a respeito da seguinte pergunta: “Até onde vai o prejuízo das marcas?”

“Teremos um prejuízo, sim, uma lição caríssima. Corporações gigantescas como JBS e BRF significam ativos essenciais, estratégicos e de segurança alimentar global. A curto prazo, os inocentes pagam as contas. Demissões e expectativa de vendas menores também dos insumos e da tecnologia para toda a cadeia produtiva. Quer dizer, os fatores incontroláveis em razão da Operação Carne Fraca prejudicam muito o povo brasileiro. Vai causar menor receita no agronegócio, com suas consequências econômicas, financeiras e psicológicas”, avalia o professor José Luiz Tejon Megido, coordenador do núcleo de estudos do agronegócio ESPM.

No mercado externo, os principais impactos ocorrem com os bloqueios na Ásia. Considerado um dos maiores mercados para a carne brasileira, Hong Kong, por exemplo, decretou o recolhimento de toda a carne e derivados procedentes dos 21 frigoríficos brasileiros investigados na Operação Carne Fraca. A medida foi anunciada poucos dias depois de o governo suspender a importação de carne brasileira sob suspeita. No mercado interno, a Secretaria Nacional do Consumidor determinou que os frigoríficos Souza Ramos, Transmeat e Peccin, investigados pela PF, façam recall de todas as carnes vendidas por eles que estejam no mercado, por causa de várias irregularidades.

A estimativa é que as indústrias exportadoras de carne suína e de frango perderam US$ 40 milhões na primeira semana após as revelações da PF, segundo a ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal). Em nota, a entidade critica os equívocos na divulgação da Operação Carne Fraca. “Indicadores apontam para fortes retrações nos níveis de exportações de produtos cárneos do Brasil, com a suspensão das vendas para diversos dos mais importantes mercados importadores da Ásia, Europa, África e América. Contra este cenário, governo e setor privado rapidamente deram início a uma reação diante das informações que ganharam o mundo, sobre a absolutamente equivocada ideia de problemas sistêmicos. É fundamental que se mantenham discursos objetivos, que evitem sustentar a ideia de fraudes sem a conclusão das averiguações”.

A BRF e a JBS tentam apagar o incêndio com comerciais diários na televisão, além de anúncios em jornais e vídeos na internet. “Vamos ter uma dimensão desse dano no decorrer dos próximos meses. Segmento de alimento depende muito da confiança. Mesmo se todas essas denúncias forem explicadas e tudo colocado no seu devido lugar, vai ser um dano difícil e caro de ser reparado”, opina Sergio Silva, professor do curso de Publicidade e Propaganda da Faap (Fundação Armando Álvares Penteado) e especializado em marcas.
A JBS destacou em nota oficial e também em campanha que “é a maior empresa de proteína no mundo, com 234 unidades, e emprega 230 mil pessoas”. Disse ainda que “a companhia não tolera qualquer desvio de qualidade nos seus processos industriais”.

Já a BRF afirmou que não está de acordo com práticas ilícitas e corrupção e já tomou medidas necessárias para apuração dos fatos. A companhia também ressaltou que as acusações de comercializar carne podre não estão relacionadas à BRF. “As menções a produtos fora de especificação, no âmbito da operação Carne Fraca, dizem respeito a outras empresas, como pode ser comprovado no material divulgado pela Polícia Federal”.

Até os garotos-propaganda das marcas estão sendo alvo de críticas e foram trolados na internet. O ator Tony Ramos, que estrela as campanhas da Friboi, cujo slogan é Carne confiável tem nome, foi o principal alvo de piadas na internet. Fátima Bernardes, uma das estrelas das campanhas da Seara, também não escapou. A Sadia é atendida pela F/Nazca Saatchi & Saatchi. A Perdigão tem como agência a DM9DDB, enquanto a Friboi é atendida pela Lew’LaraTBWA e a Seara está na WMcCann.