No dia 8 de outubro de 2018, nas revistas, uma notícia inusitada que causou perplexidade. O Esquina do Mocotó, na Vila Medeiros, aquele que foi eleito pela Veja SP o melhor restaurante de cozinha brasileira da cidade com cinco estrelas, que ganhou uma estrela do Guia Michelin, fechou suas portas.

Segundo seu proprietário e chefe, Rodrigo Oliveira, era o restaurante certo no lugar errado. Diz, Rodrigo: “Nosso tíquete médio variava entre R$ 98 e R$ 108, muito barato comparado com outros cinco estrelas da cidade, mas caro para o lugar onde estávamos e para as pessoas do bairro…”.

Consagrado e idolatrado pela clientela, mas o suficientemente longe e fora de mão para merecer uma frequência permanente. E, ao mesmo tempo, absolutamente inacessível à vizinhança.

Achei a notícia estranha e curiosa, e acabei encontrando uma entrevista de três meses anteriores ao fechamento, com o chefe Rodrigo Oliveira, quando ele revela sua intenção de fechar o Esquina do Mocotó. Na entrevista faz menção a um papo que teve com sua mulher, Adriana Salay, historiadora.

Adriana perguntou ao Rodrigo, num determinado momento, qual o propósito de um restaurante. “Tentei responder e explicar da maneira mais bonita possível – diz ele –, mas ela interrompeu, dizendo, ‘tudo muito bonito só que o propósito de um restaurante é apenas o de fazer com que as pessoas saiam melhores do que entraram’, sejam restauradas…”.

E aí caiu a ficha e Rodrigo decidiu mudar… Tomada a decisão, como é do regulamento da Vejinha e da premiação, Rodrigo Oliveira devolveu o diploma contendo as cinco estrelas. Para elucidar o tema de
vez, decidi ir atrás dos dicionários etimológicos. E, como não poderia deixar de ser, está tudo lá…

“A palavra restaurante tem origem no latim restaurare, que significa restaurar. Torna-se popular a partir do século 18, em Paris, quando um empresário francês chamado Boulanger abre uma casa de comidas na cidade. Na fachada, o positioning statement da época, e, em latim, Venis Ad Me Omnes Qui Stomacho Laboratis Et Ego Resturabo Vos. Ou, em português, Vinde a mim os que têm o estômago vazio que eu os restaurarei…”.

Portanto, a Esquina do Mocotó, sucesso total de crítica e público, mas inacessível à vizinhança, fechou suas portas. Complicado restaurar os que adoravam o restaurante Mocotó, mas vinham pouco pela distância, os que apesar de morar ao lado nem mesmo tentavam porque não cabia no bolso.

Assim, não dava para cumprir o propósito de todos os restaurantes: restaurar!

Em tempo, com o fechamento do Esquina do Mocotó, os admiradores da cozinha espetacular do Rodrigo Oliveira deliciam-se hoje em plena Avenida Paulista. Conferindo o melhor acervo de fotografias do país, ótimas exposições, e o irmão caçula do saudoso Mocotó, o Balaio, no térreo do Instituto Moreira Salles, Avenida Paulista 2.424. Nos dias da semana abre ao meio dia em ponto. Meio dia e cinco todas as mesas ocupadas.

Assim, agora, corrigido o erro de localização, Mocotó virou Balaio e cumpre gloriosamente sua missão de restaurar todos os seus frequentadores. Obrigado, Adriana, pelo toque que deu ao Rodrigo.

É isso, amigos, restaurantes restauram. Se não restauram, não são restaurantes.

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing (famadia@madiamm.com.br)