A designer e artista plástica Helga Miethke hoje mora na Alemanha e está distante do mundo da propaganda, mas teve uma longa carreira nessa área e começou, quem diria, como assistente de um diretor de arte chamado Francisco Petit, ainda um iniciante no mercado, na J. Walter Thompson paulistana dos anos 1960.  Depois, passou longas temporadas na DPZ, trabalhando na equipe de Petit. Acompanhe trechos do bate-papo com esta alemã de alma brasileira, que trabalhou na chamada “era de ouro” da propaganda no Brasil, ao lado de pessoas como Eric Nice, Alex Periscinotto, Caio Domingues, Ênio Mainardi, Neil Ferreira, Roberto Duailibi, José Zaragoza e, claro, Petit.

DPZ E AMOR À ARTE
Na DPZ trabalhei durante muitos anos, depois disso, a criatividade e o amor à arte cultivados no ambiente da agência não me largaram mais. O “feio não pode” era um “must”. Trabalhamos num ambiente criativo, alegre e muito incentivador. Tive muitos interessantes desafios atendendo a contas do Banco Itaú, Johnson & Johnson, Heublein, Hering e Artex, por exemplo.

DESIGN E PAPEL
O design gráfico sempre foi a minha grande paixão, e o que me levou a sair da DPZ, onde nos últimos anos atendi à conta das Lojas Riachuelo (outro desafio, inovar a comunicação dessa grande rede de lojas). No meu pequeno estúdio, Designbüro, no Brasil, pude durante muitos anos ter como cliente a Suzano Papel e Celulose, desenvolvendo em conjunto com a X-Press a revista Ideia, dirigida ao mercado profissional e gráfico. Cada número em formato e conteúdo diferentes, impresso em suportes variados, justamente para demonstrar as possibilidades de recursos que o papel possibilitava. Vários números foram publicados na imprensa internacional especializada em design gráfico. Contribui com design gráfico em publicações do Ministério da Educação, no governo de Fernando Henrique Cardoso. Também tive na minha carteira a Daiychi Sankyo, a Rede Anhanguera de Comunicação e a Editora Abril. Foram dez anos de liberdade e muito prazer.

ARTES PLÁSTICAS
Desenvolvi o trabalho de artista plástica paralelo ao trabalho em agências e depois no meu estúdio, realizando exposições com bastante sucesso. O meu estúdio-atelier ficava na Serra da Cantareira, em ambiente bucólico no meio da natureza. Defino-me como uma artista absolutamente sem estilo. Ora é abstrato, construtivo, figurativo, expressionista, satírico ou crítico com humor. Na arte tudo pode, esta é a grande liberdade. Pintura e desenho são as minhas áreas preferidas. Quadros com tinta acrílica ou óleo.

PROPAGANDA X ARTE
A propaganda e a comunicação promocional não influenciaram o meu trabalho. Com uma exceção: a velocidade no processo de concepção de uma ideia até a fase final. Não tenho paciência de ficar trabalhando uma tela por mais de um mês. Quero ver logo um resultado que me satisfaça.

ÍDOLOS
Não tenho ídolos, mas tive alguns mestres. Com Petit, na DPZ, a qualidade da ideia, o rigor da forma concebida tinham de ser absolutamente indiscutíveis. Não só com Petit, mas também com Zaragoza e Roberto Duailibi. E precisava ter alto nível de elegância e beleza. Quer mais? O que levou a DPZ a anos gloriosos. Tenho orgulho de ter contribuído.

ALEMÃ BRASILEIRA
A Alemanha é um país formidável, um povo com um alto padrão de vida, de cultura, de educação e responsabilidade. Eu diria, de cidadania. Mas as raízes brasileiras são indestrutíveis. Desejo que seja um país cada vez melhor, que se insira no mundo moderno, que se desenvolve com muita rapidez, novas tecnologias e novos mercados. Fundamental é a formação de novos profissionais que atendam a estas perspectivas fabulosas. O futuro são os jovens, vejam o movimento internacional dos “Fridays for Future”, que está revolucionando as políticas internacionais por um mundo melhor.

rotina
No meu dia a dia não tem nenhuma excentricidade artística. Faço muitas pesquisas de campo, vou a cidades, observo pessoas, características do lugar e peculiaridades de comportamento. Os estudos registro em muitos cadernos com esboços, desenhados, aquarelados ou usando materiais coletados para futuras colagens. Em ônibus ou trens, tenho cadernos pequenos onde registro com traços rápidos as pessoas, que nem percebem que foram imortalizadas.