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Às vésperas do início da propaganda eleitoral gratuita no rádio e na TV, no próximo dia 31 de agosto, a eleição deste ano para presidente da República, governadores, senadores, deputados federais e estaduais já mexe com o mercado como um todo. Na publicidade, além da complicada retração das verbas pelos anunciantes, que esperam em ritmo de compasso a definição do quadro eleitoral, há uma movimentação de publicitários se licenciando das agências para fazer campanha política.

Um dos nomes mais conhecidos do mercado publicitário que está a todo vapor fazendo campanha política é Átila Francucci, que deixou o cargo de VP de criação na nova/sb para ser coordenador de estratégia de comunicação e execução criativa da campanha presidencial de Geraldo Alckmin (PSDB). Enfim, vale a pena? Segundo ele, sim.

“Existem duas razões para eu ter aceitado o convite: a primeira é que eu adoro fazer campanhas políticas. Tudo aquilo que hoje é defendido como modelo de agência inovador – trabalho compartilhado, equipes multidisciplinares atuando juntas, rapidez, criatividade e precisão nas redes sociais, criação e produção 100% interligadas, organicidade, objetivos claros e medições regulares do cumprimento desses objetivos – é praticado nas campanhas eleitorais há muito tempo. O segundo motivo: um compromisso cívico pessoal. Quero fazer tudo que está ao meu alcance, além do voto, para impedir que um cidadão como Jair Bolsonaro se transforme em algo além de uma hipótese”.

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Além do gosto pessoal e desse lado cívico citado por Francucci, o criativo também considera que as caraterísticas de uma campanha eleitoral permitem que um publicitário exerça a profissão na plenitude. “Nenhum outro tipo de campanha publicitária pede tanto de um profissional de criação, seja no aspecto estratégico, seja na capacidade de criar peças memoráveis (no sentido literal da palavra). O único lado negativo é que você fica tão mergulhado no job que dificilmente se desliga. Mulher, filhos e amigos passam a conviver com uma espécie de zumbi”, acrescenta ele.

Sobre o estigma da imagem de marqueteiro, ele diz: “Acho a palavra horrorosa e pejorativa, mas não tenho problemas com o conceito, não”. Francucci ressalta que, como sempre fez em ocasiões semelhantes, voltará para a nova/sb ao término da eleição. Na sua opinião, o profissional volta mais completo após participar de uma campanha eleitoral. “Passa a entender com mais clareza a cabeça e o coração do brasileiro e a comunicação que o atinge de fato”, pontua Francucci.

Já Fernando Barros, chairman do Grupo PPG e presidente da Propeg, licenciou-se de suas funções para se dedicar nos próximos meses ao marketing político em Pernambuco, com Paulo Câmara, e no Paraná, com Ratinho Jr. “Nunca deixei de gostar de fazer campanhas políticas. Depois de dez anos no ‘banco de reservas’, por determinação própria, resolvi voltar ao game. Acho excitante, divertido e, modestamente, conheço o ofício”, conta Barros.

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No quesito prós e contras de se fazer campanha política, o executivo afirma que todo trabalho tem prós e contras. “Não vejo contras. É só fazer tudo na extrema legalidade, é nossa prática”, reforça Barros. Segundo ele, a Propeg tem estrutura e uma grande equipe para funcionar sem a sua presença. “Pedi licença formal da empresa”.

Veia publicitária
Diferentemente de Francucci e Barros, que se licenciaram de suas respectivas empresas para trabalhar nas eleições, Gustavo Bastos, sócio da Onzevinteum, vai envolver sua agência diretamente na campanha offline de Aspásia Camargo (PSDB), candidata ao Senado pelo Rio de Janeiro. “Quero transportar nosso conceito de simplicidade criativa para um segmento em que a gente nunca trabalhou. Além disso, vamos trabalhar com pessoas que admiro muito, nas áreas de estratégia, produção e digital. A Aspásia é uma pessoa com um histórico incrível e com propostas que a gente acredita. Colaborar para que ela vá para o Senado cuidar de questões vitais para o Rio de Janeiro e o Brasil será um desafio criativo muito gratificante. Ela e sua equipe estão procurando novas maneiras de comunicar, de criar propaganda. Outro motivo é a situação política do país, a gente tem de dar a nossa contribuição para tirar o país dessa crise, fazer a nossa parte. Então, foi a proposta perfeita na hora certa”, avalia Bastos.

Para Bastos, ele também não se encaixa na definição de marqueteiro. “Serei o publicitário da campanha, integrando uma equipe de primeira, só com gente da melhor qualidade. A proposta é levar essa veia criativa de publicitário para a campanha. E assim estamos fazendo. Minha contribuição será passar a verdade da candidata de maneira criativa, diferente, com impacto e ousadia. Estamos entrando em muitas novas categorias e temos muitas novas campanhas entrando no ar ainda este ano, então não há risco disso”.

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Ele ressalta que o segmento é novo para a Onzevinteum e está aprendendo muito. “Nunca fizemos campanha política. Tivemos uma experiência parecida com campanha política que foi a eleição da OAB-RJ, quando a gente ajudou a reeleger o presidente da entidade, mas faz muito tempo. Acredito que vamos mais aprender do que qualquer outra coisa”, diz Bastos.

Um fato chamou a atenção nessa movimentação de publicitários. A assessoria de comunicação de Roberto Medina (Artplan e Rock in Rio), diante de especulações na imprensa e nas redes sociais, soltou uma nota de esclarecimento, afirmando que ele não participaria de nenhuma campanha política em 2018. “Sua agenda de encontros com os presidenciáveis e candidatos ao governo do Rio tem como objetivo colocar na pauta de todos os futuros líderes a prioridade ao turismo do estado, que considera ser a bandeira mais importante ao combate à violência e retomada da economia”.

Iniciativas de agências
Além de um cenário eleitoral delicado, em tempos de crise, só aumenta a preocupação dos brasileiros sobre quem será eleito o novo presidente do país. Esta eleição, provavelmente, ficará marcada como uma das mais difíceis da história. Talvez por isso vemos mais iniciativas de agências criando ferramentas para ajudar as pessoas a escolherem melhor seus candidatos.

Na Mestiça, por exemplo, um grupo de publicitários liderado por André Marino, head de criação digital, desenvolveu a ferramenta Voto sem Veto. Trata-se de um feed no Instagram para informar sobre os pré-candidatos à Presidência. “O Brasil passa por uma das campanhas eleitorais mais delicadas dos últimos tempos e muitas pessoas ainda não conhecem ou simplesmente não encontram tempo para saber um pouco mais sobre o candidato”. No Voto sem Veto, programação dos debates, currículo dos candidatos, bem como propostas, são temas dos stories e posts. Além disso, algumas pesquisas que a ferramenta possui ajudam a visualizar a opinião e posição de eleitores no país.

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A Leo Burnett Tailor Made firmou parceria com o aplicativo Poder do Voto. Iniciativa do executivo Mario Mello (ex-presidente do PayPall), o Poder do Voto promete conectar as pessoas com os deputados e senadores nos quais votaram, dando a oportunidade de elas acompanharem, em tempo real, suas ações, cumprimento de propostas e e projetos de leis.

Obviamente, nesta seara, o case mais famoso da propaganda brasileira é Detector de Corrupção, criado pela agência Grey Brasil para o portal Reclame Aqui, que ganhou Grand Prix de Mobile no Cannes Lions 2018. O aplicativo de reconhecimento facial permite que os eleitores verifiquem se os políticos brasileiros estão envolvidos no escândalo da Lava Jato. Até mesmo os de alto escalão, como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado a 12 anos de prisão, aparecem na lista. O app também identifica os políticos que ocupam ou ocuparam cargos eletivos nos últimos oito anos e identifica os pré-candidatos aos cargos executivos nas eleições de 2018.