A semana passada foi marcada por uma forte polêmica em torno da “descontratação” de um profissional por pressão das redes sociais. Ele já havia sido demitido de outra agência pela mesma razão: a postagem de um comentário, digamos, infeliz na internet. Na mensagem, revelava seu profundo incômodo com a votação do PT no Nordeste, afirmando alguma coisa como “os nordestinos votam no PT e depois vêm procurar emprego no Sul e no Sudeste”.

Diante de uma forte reação negativa dos chamados internautas, o autor publicou um pedido de desculpas. Em vão. Estava “desgraçado” pelo mercado, o que se confirmou na tentativa frustrada de se recolocar. Só que dessa vez, o que antes era praticamente uma unanimidade – a demissão do profissional –, agora gerou uma acirrada discussão, a que, movido por uma incontida curiosidade de repórter, fiz questão de acompanhar.

Refletindo sobre o que li, chego à conclusão de que há dois tipos de “fiscais” do comportamento dos outros na internet: os moderados, que julgam que o “pecador” deve ser castigado em dado momento; e os radicais, que julgam que o castigo deve ser perpétuo. Parece que a posição desses prevalece no caso exposto. Seja qual for a motivação que o levou a postar essa espécie de desabafo, o que agrava a percepção sobre o conteúdo é a completa falta de lógica no raciocínio. Digamos que, em vez do que postou, ele tivesse publicado alguma coisa como “nos anos 1970, a maioria dos nordestinos votava na Arena, partido de sustentação da ditadura; hoje, vota no PT, partido da sustentação da corrupção”.

Forte? Polêmico? De certa forma, discriminatório? Certamente, mas com uma diferença básica: contém um argumento sustentável, ainda que possa suscitar muito debate, o que para mim, em certos casos, tem mais mérito que defeito. Existe uma diferença entre discriminação e preconceito. No preconceito, há a agressão infundada a alguém ou a algum grupo simplesmente por serem o que são.

Já a discriminação pode ser fundamentada, ainda que considerada eticamente discutível. O que ele escreveu acabou virando apenas uma expressão de preconceito porque, embora elaborada com a presunção de ser uma premissa inteligente, a afirmação é desprovida de qualquer argumento válido. Não é, portanto, nem um pouco inteligente. E aí entra outra questão a ser avaliada pelo empregador.

Se eu estou buscando um profissional para uma missão estratégica na minha empresa tenho de ponderar a qualidade do “pensar” desse candidato ao cargo, não no sentido opinativo, mas sua capacidade de elaborar um raciocínio. Ao me deparar com uma exposição pública que revela deficiência grave na avaliação de uma circunstância, me acende um sinal amarelo. Nem precisaria da opinião dos outros. A publicação se bastaria.

Agora, por outro lado, também não se pode condenar alguém ao ostracismo eterno por ter feito em algum momento uma afirmação leviana. Seria uma espécie de Inquisição. Espero, portanto, que nosso colega tenha, assim como teve William Waack, que passou por coisa parecida, uma nova oportunidade de continuar a sua carreira.

Stalimir Vieira é diretor da Base Marketing (stalimircom@gmail.com)