Sem dúvida, uma experiência de compra ajuda a revelar muito mais sobre nós mesmos do que podemos imaginar. E não estou falando de ferramentas tecnológicas de monitoramento de dados, ou algo parecido. Estou falando no puro e simples ato de observação do ser humano e sua relação com o consumo.

Essa dialética simples entre, muitas vezes, nós, como meros sujeitos da ação, e os objetos, produtos ou serviços, vai construindo as matizes que servem de base para  estruturação do próprio ser humano nos dias hoje. Um ser líquido, diga-se de passagem. Movido pelos impulsos do consumo, que preenchem nossos vazios, e moldam de forma efêmera nossa satisfação existencial. Assim, vamos consolidando um mundo à parte, um mundo erguido a partir de nossas experiências individuais, aquelas avassaladoras, nos dias de hoje.

Por isso, é fato dizer que o consumo ajuda a definir “quem é você” na sociedade atual. A velha máxima “se consumo, pertenço”, poderia ser facilmente trocada por uma outra frase: “se consumo, preencho”. Preenchemos nossos vazios, burlamos insatisfações existenciais, anulamos momentaneamente as decepções. Jogamos para cima do consumo a responsabilidade e o sentido de felicidade. E construir a felicidade tendo como base valores hedonistas é algo que está no centro da sociedade hipermoderna, ou pós-moderna. Pesado, né?

Engana-se quem pensa que o consumo conspícuo e de preenchimento é específico de uma classe específica. Ou seja, da chamada classe alta. O consumo é generalizado e em todas as esferas sociais. Em todas as classes. Cada um, do seu jeito, constrói a sua forma de consumir. Por isso, é tão avassaladoramente individual e constrói a identidade de cada um, de cada ser. Dessa forma, podemos dizer que somos muitos em um único sujeito, ou somos um único sujeito em muitos.

Afinal, quem é você nesse universo?

Flavio Martino é Diretor de Desenvolvimento da Heads