Quem foi o gênio? Quem realizou essa proeza? Quem conseguiu espantar adolescentes? Aquela doença que todos temos, mas felizmente – para a grande maioria – passa. Por razões que a razão nem mesmo imagina o fato é que no ano de 1982, um shopping no Brasil decidiu eleger como público-alvo, como target essencial, pasmem, os adolescentes. E assim nasceu o MorumbiShopping. Todo um andar voltado para os adolescentes, culminando com uma monumental pista de patinação. Os adolescentes adoravam. Todos! Passavam as férias no MorumbiShopping. Consumiam uma Coca-Cola, eventualmente um cachorro quente, mexiam com todos os demais frequentadores, que muito rapidamente desistiram da novidade. Antes mesmo de completar dois anos, o Morumbi se deu conta do absurdo, detonou a pista e o piso, e converteu naquela que talvez seja até hoje a maior praça sofisticada de alimentação dentre todos os shopping centers do mundo. Com a presença de muitos e ótimos restaurantes. Corrigido o grave equívoco decolou e hoje é um dos três shopping centers melhor sucedidos da cidade de São Paulo. Se já tivessem descoberto os repelescentes…

Segundo matérias publicadas em diferentes plataformas de comunicação no ano passado… Adivinhem… O mais eficaz dentre todos os repelescentes é… A… Música clássica! Melhor ainda, meio parecido com o SBP que se diz “terrível, mas só contra os insetos…”. Com todos os demais públicos, exceto os adolescentes, a música clássica atrai, magnetiza, encanta e conquista! O primeiro estabelecimento comercial que teve a ideia e a iniciativa de testar essa solução, já quase no desespero, foi a 7-Eleven. Uma loja da rede, na cidade canadense Columbia Britânica, depois de esgotados todos os recursos para expulsar jovens adolescentes que passavam horas em seu estacionamento aparentemente drogados, colocou nos alto-falantes, dirigidos especificamente para esse espaço, Mozart. Em alto e bom som! Vazaram, como costumam dizer e em questão de minutos; e nunca mais voltaram para buscar dois skates e um par de patins que esqueceram na pressa. O sucesso foi tanto que todas as demais lojas da franquia adotaram o mesmo procedimento com idêntico sucesso. Anos depois, o mesmo aconteceu em West Palm Beach, na Flórida. Músicas de Beethoven, Mozart e Bach para “espantar” a horda de drogados que viviam pela redondeza. Mais que deu certo e a polícia local comemorou a queda quase que a zero dos problemas das madrugadas… E a clientela adorou!

E, assim, a música clássica, quem diria, encontrou uma plataforma para índices maiores de popularização. E hoje se faz presente como medida reconfortante e acolhedora das pessoas em diferentes países de todos os continentes. Mantendo a distância inconvenientes de toda a ordem e procedência. Em matéria do mês passado assinada pelo jornalista Theodore Gioia, da Los Angeles Review of Books, o relato de manifestações crescentes e sucessivas em diferentes cidades e países…

“Na Penn Station, em Nova York, pessoas compram seus tíquetes ferroviários ao som de música barroca”… No terminal rodoviário de Nova York, Greyhound, os viajantes que chegam são recebidos com música de Franz Schubert… O sistema metroviário de Atlanta hoje funciona tendo como trilha sonora, para o deleite de seus usuários, as composições de Händel… O parque público em Duncan é patrulhado pela voz de tenor de Pavarotti… Os vândalos literalmente desapareceram… Uma biblioteca da Virgínia anima seus funcionários de limpeza com o som de Mozart… E a briga entre traficantes em Columbus, Ohio, foi resolvida com As Quatro Estações de Vivaldi… Será que daria certo no Brasil? Será que a música clássica aquietaria o ânimo dos brasileiros, e despertaria uma paixão e compromissos maiores com o país, por exemplo? Vamos tentar? Acho que deveríamos…

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing (famadia@madiamm.com.br)