Desde o manifesto Um novo homem todo dia, em julho de 2018, a relação de Neymar com as marcas não tem sido das melhores. A tentativa de usar um comercial da Gillette para um mea-culpa sobre seu mau comportamento durante a Copa do Mundo surtiu efeito negativo e a relação com a marca estremeceu de vez. Tanto que seu contrato não foi renovado para 2019.

Agora, às vésperas da Copa América, uma sucessão de situações extracampo fez seus patrocinadores ligarem novamente o sinal vermelho. Primeiro foi a agressão a um torcedor. Poucas semanas depois, a denúncia de um possível estupro, seguido por um crime digital por exposição da privacidade de uma mulher.  

Segundo Ivan Martinho, professor de marketing esportivo da pós-graduação da ESPM, o cenário está longe do ideal para patrocinadoras do jogador. Neymar tem acordo com empresas de peso, como Nike, Mastercard, Redbull, entre outras. Para o especialista, a tão esperada transferência de prestígio não tem acontecido, colocando em risco a reputação das empresas que se associam a imagem do atacante da seleção brasileira.

“As marcas patrocinam para poder fazer transferência de prestígio e tentar colher parte disso em seu benefício e não para ter mais problemas”, destaca o professor. Mas o especialista reforça que o momento é de cautela. Isso porque interromper um patrocínio sem que o julgamento seja concluído pode colocar a marca em uma posição de oportunista.

“Se eu estivesse na posição do patrocinador, agora seria o momento de war room. Esperar antes de tomar qualquer iniciativa, principalmente, se pensar em interromper uma campanha. A medida dá uma mensagem clara de que a marca não compactua com a postura do jogador, mas, e se ele sair dessa história como vítima? Os consumidores podem se questionar que tipo de casamento é esse, que apenas apoia nos bons momentos”.

O professor Alexandre Coelho, coordenador da pós-graduação de marketing esportivo da Faculdade Mackenzie Rio, concorda com o colega. Ele destaca que a relação entre jogador e patrocinadores pode estar ameaçada, mas o momento ainda é de espera. “Não acredito que as marcas comecem a descartá-lo logo de cara. Sua imagem internacional ainda é muito reconhecida. As marcas vão agir com prudência. Nós vimos com o Lance Armstrong e a Maria Sharapova o que aconteceu. Dadas as proporções, chega um momento em que os patrocinadores se retiram. Este é um movimento natural. Mas acredito que haverá um compasso de espera com o Neymar para ver como as coisas vão transcorrer”.

Segundo o especialista, a decisão vai passar pelo grau de amadurecimento do atleta e sua postura profissional. “Acredito que ele está em um momento de encruzilhada de decisão sobre qual imagem e legado futuro que ele quer deixar sobre o nome dele e obviamente da sua marca. A gente tem vários casos de grandes estrelas que se perderam exatamente nesse momento. Talvez ele não tenha se atentado a isso, mas não dá para um homem que está chegando aos 30 anos ser alegria e ousadia o tempo todo”.