Dia desses uma amiga me mostrou mensagem que recebeu de um sujeito endinheirado e badalado, com o objetivo de conquistá-la. Num português medonho, ele cometia erros primários de concordância e na grafia de palavras básicas. O cara é viajado, circula nas altas rodas da sociedade, é destaque em seu meio de negócios, figurinha carimbada de colunas sociais. É bonitão, inclusive, e poderia ter se dado bem na abordagem.

O problema é que a moça é chatinha com algumas coisas, entre elas com o uso correto da língua portuguesa. Ele acabou fazendo um papelão, ao tentar surfar em águas que não conhece. E eu, ao me inteirar de passagem tão burlesca, fiz um paralelo com uma ocorrência muito comum no mercado financeiro, que costuma levar os incautos a desastres: as operações de risco a descoberto, confiando-se na valorização dos ativos.

Quando dão errado, essas operações levam você a perder tudo e ainda ficar devendo. Geralmente as pessoas do ramo se viram muito bem nesse cipoal de possibilidades, pulam de investimento para investimento, alavancam ali, tomam lá e vão operando com agilidade num circo repleto de adrenalina. Mas se você é um ignorante no assunto, a tendência é cair do cavalo e sair com uma mão na frente e outra atrás.

Quando o sujeito se acha a última bolacha do pacote e costuma ser paparicado por gente com o mesmo padrão de entendimento das coisas da vida, muitas vezes julga-se imbatível para suas jogadas. E acha que sempre pode entrar, destemidamente, numa operação de risco, a descoberto.

Nesse caso, descoberto de vocabulário e capacidade de concatenar ideias e conduzir um texto respeitando as concordâncias, por exemplo. Mesmo assim, aposta tudo, arrisca-se a escrever uma mensagem, movido pelo desejo de conquista. E esquece que não tem saldo, que é miseravelmente pobre em termos de linguagem. Perde tudo. Fica inconformado e acha que a moça está fazendo jogo duro, insiste e cada vez afunda mais, ao expor escandalosamente as suas mazelas literárias, como um azarado tentando recuperar o prejuízo numa mesa de pôquer.

Para estimular o meu filho a ler, sempre lembrei a ele de que tudo o que conquistei na vida conquistei escrevendo. Apenas por ter lido muito influenciado por meus pais (minha mãe, mesmo tendo morrido quando eu tinha apenas sete anos, viveu o suficiente para me inocular esse vírus bendito).

Considerando que dependi apenas das letras, num mundo movido a números, posso dizer que me saí razoavelmente bem. E fico me perguntando se poderia ter tido um pouco mais de boa vontade com os números. Quem sabe, estaria milionário. Afinal, em tese, uma coisa não elimina a outra. Ou elimina? O playboy bombadão, se um dia houvesse tido mais boa vontade com os livros (ou seus pais o tivessem feito leitor), quem sabe, poderia ter desfrutado de uma moça com quem se tenha o que se fazer depois do sexo.

E eu, quem sabe, daria um tempo nas minhas leituras e estaria cercado de mocinhas seminuas que adoram uma festinha num iate, regada a uísque bom?