Dizem que, no Brasil, o ano só começa em março, depois do Carnaval. Curiosamente, antes da reforma do calendário, ordenada por Júlio Cesar no ano 708 da Fundação de Roma (45 a.C.), o ano começava mesmo em 1º de março, data que coincidia com o equinócio da primavera no Hemisfério Norte.

Com a reforma juliana, o início do ano passou para 1º de janeiro, condição que foi aceita lentamente por todas as nações ocidentais submetidas ao domínio romano. A criação de um calendário de 365 dias remonta a época dos astrônomos sacerdotes egípcios, por volta do ano 2800 a.C.

Só para termos a devida ideia de quanto tempo o homem vem se preocupando em organizar sua vida de acordo com as variações climáticas e outras influências. Pois é… Neste primeiro bimestre no Brasil, parece que ainda estamos no calendário pré-juliano, esperando o ano começar em março.

O momento é paradoxal. Existe um clima de otimismo no ar, corroborado por recentes pesquisas feitas junto a diferentes setores econômicos. Só para destacar algumas dessas pesquisas, na VanPro, uma medição trimestral do ambiente de negócios via agências de propaganda, realizada pela Fenapro, os resultados obtidos em meados de janeiro deste ano apontavam um nível de otimismo recorde, com 70,6% das agências prevendo um ano melhor, contra apenas 11,3% esperando algo pior.

Os 18,1% restantes têm a expectativa de um ano pelo menos igual a 2018.

Do lado dos anunciantes, na pesquisa Marketing Compass, realizada entre decisores de marketing de empresas, os resultados acompanham o otimismo das agências: 79% se mostram realistas e confiantes com investimentos em marketing e comunicação, e 36% da mostra preveem mais investimento em 2019.

Mas o tempo vai passando e notamos certa letargia ou um compasso de espera que pendula entre a esperança e a preocupação com o andar da carruagem na corte de Brasília. Entre uma declaração atabalhoada aqui, um desmentido ali, uma ameaça acolá, uma denúncia nova e uma queda estrepitosa de um ministro, resta a esperança maior pelas reformas tão importantes para destravar o país.

Mas existe também uma tendência de descolamento da pauta de Brasília dos planos das empresas brasileiras. É claro que todos sabem da importância da efetivação das reformas, principalmente a da Previdência, e esperam ansiosamente que isso ocorra.

Afinal, existe a expectativa de destravar a bomba-relógio que é a Previdência, minando recursos de forma crescente e ameaçadora. Mas o ritual de aprovação da tal reforma nos leva, na melhor das hipóteses, para o fim do primeiro semestre. E até lá, o que faremos? Não dá para ficar na letargia de espera.

Na macroeconomia, a aposta é por um processo bem-sucedido, em relação à reforma da Previdência. Basta ver os índices recordes da Bolsa de Valores e os demais indicadores de inflação e câmbio muito bem comportados.

O que está faltando então para o otimismo latente se transformar em movimentação de negócios? Nos eventos do setor e nas rodas de conversas, a sensação é uma só: todo mundo está esperançoso com 2019, mas os negócios ainda estão em compasso de espera.

Quem ficar esperando a conclusão do processo das reformas para tomar atitudes, pode perder meio ano. Quem sabe o momento não seja de uma aposta corajosa e confiante num Brasil melhor daqui para frente? Quem sabe não é agora a hora de tirar os planos dos arquivos e fazê-los acontecer?

Se uma peça da engrenagem começa a se mexer, as demais se movimentam no mesmo ritmo e a economia deslancha.

Acreditar no depois, quando tudo estiver definido favoravelmente, é fácil. Mas haverá a concorrência toda agindo junto, correndo atrás da ativação de negócios, mas com meses de atraso. Coragem mesmo é acreditar agora e sair na frente! Portanto, a hora de botar o bloco na rua é agora!

Alexis Thuller Pagliarini é superintendente da Fenapro (Federação Nacional das Agências de Propaganda)
(alexis@fenapro.org.br)