Não bastasse a pressão de estar update sobre tudo o que ocorre na sua área, o profissional de hoje tem ainda a “obrigação” de enxergar o amanhã, sob risco de perder o bonde dos negócios.

É tudo muito aflitivo porque é humanamente impossível correr atrás das – não poucas – tarefas do dia e ainda ter tempo para conhecer as novas ferramentas (que surgem sem parar), analisar os dados – cada vez mais abundantes e completos – e culminar dedicando um precioso tempo para analisar relatórios de tendências e refletir sobre o futuro.

Que super-homens/supermulheres são esses que conseguem domar o touro do dia a dia, entregar o resultado do quarter e ainda se dar “ao luxo” de dedicar tempo para analisar tendências? Difícil, não? E há ainda a questão do discernimento quanto às tendências que são realmente pra valer. Os mais antigos devem se lembrar da enorme preocupação com a explosão populacional do Brasil, lá nas idas décadas de 1970/1980.

As famílias brasileiras cresciam desordenadamente à ordem de cinco filhos por casal ou mais, principalmente nas regiões mais pobres e remotas do Brasil. A previsão era de um caos na virada de milênio, por conta do crescimento demográfico brasileiro.

Mas os futurólogos não contavam com a capacidade do ser humano de alterar o futuro. Um trabalho muito bem-sucedido do governo e de instituições dedicadas ao controle da natalidade fez o Brasil estar hoje entre os países que mal repõem sua população.

A taxa atual é de 1,7 por casal e o nível de reposição populacional seria de 2,2. Portanto, aquela tendência que pode ter influenciado muitos profissionais, que acreditaram na tal explosão populacional brasileira, não se concretizou. De país “jovem”, o Brasil rapidamente vem modificando sua pirâmide etária, numa tendência de envelhecimento acelerado.

E as tendências catastróficas são as que mais “colam”. A falta de alimentos para a população mundial.
O colapso energético, em função das demandas crescentes de um mundo cada vez mais sedento por energia. O aquecimento global. A invasão das águas, em função do degelo das calotas polares. Mas, no meio do caminho, vão aparecendo novas soluções, que se contrapõem às tais tendências catastróficas.

Será que os futurólogos do século passado contavam com a diminuição tão expressiva dos custos de captação de energias alternativas – principalmente a eólica e a solar –, a ponto de ameaçar a hegemonia de fontes sujas, como o petróleo e o carvão?

A sharing economy, tão exuberante hoje, estava no radar dos trendsetters de duas décadas atrás? Na época dos criadores do Flash Gordon, previa-se carros voadores entupindo os céus do universo no ano 2000, mas não se previa os carros autônomos, tão próximos da realidade agora.

Em 1980, a Realidade, uma prestigiosa revista da Editora Abril na época, convidou futurólogos para previrem o que estaria acontecendo na virada de milênio, no emblemático ano 2000. Previram carros voadores e edifícios interligados, mas ninguém previu a existência da internet.

E não preciso dizer o que significou e vem significando a internet para a humanidade. Quando a TV chegou, previram o fim dos cinemas e nós os vemos ainda supervalorizados como alternativa de entretenimento.

Enfim, num mundo em que se apregoa que vence a disputa dos negócios quem sabe interpretar melhor as tendências e se antecipar a elas, temos de conviver com o dilema de saber apostar nas mais promissoras entre as tantas vertentes que nos são apresentadas. E nem sempre os pioneiros se dão melhor.

Bill Gates não acreditou no computador pessoal num primeiro momento, Henry Ford dizia que todos os carros seriam pretos… Mas ambos souberam reagir rapidamente ao sentirem que estavam errados.

Talvez aí esteja a conclusão mais sábia: mais do que apostar na tendência da moda, precisamos ser rápidos para embarcar naquelas que se mostram sólidas.

Alexis Thuller Pagliarini é superintendente da Fenapro (Federação Nacional das Agências de Propaganda) (alexis@fenapro.org.br)