O sonho de Elizabeth converteu-se em pesadelo. Elizabeth Holmes, a jovem de 32 anos que supostamente revolucionou o negócio de exame de sangue nos Estados Unidos, agora corre o risco de passar alguns anos na cadeia. Originária da cidade de Washington, nascidad em 3 de fevereiro de 1984, tinha 19 anos quando resolveu jogar tudo para cima, abandonar a Universidade de Stanford, e colocar em pé seu sonho: Theranos, uma das mais promissoras startups do Vale do Silício. Lastreada em tecnologia de ponta tornou exames de sangue atividade prosaica, encontrável em qualquer esquina das cidades, de forma rápida, econômica, acessível, precisa.

Com apenas uma ou duas gotas de sangue, centenas de exames diferentes. Segundo Elizabeth, metade dos americanos não fazia os exames de sangue solicitados por seus médicos temendo a picada da agulha e o ritual da retirada. Deu início ao seu negócio trabalhando exclusivamente com as empresas farmacêuticas. Oferecia as vantagens de economia e rapidez, reduzindo significativamente os custos na fase de testes de medicamento, a fase de maiores investimentos de todo o processo.

Na sequência decidiu mergulhar no varejo. E a fama e repercussão de seus feitos credenciou a Theranos a uma parceria com Walgreens, a maior rede de drogarias dos Estados Unidos, com 8,5 mil lojas, que se notabilizou pelo seu slogan no máximo a 8 quilômetros de cada cidadão americano. Mais adiante, sensibilizou e encantou personalidades da cena americana a ponto de ter dois ex-secretários de Estado no conselho de administração de sua empresa: Henry Kissinger e George Schultz.

Outubro de 2015. A casa cai. A empresa de Elizabeth fica sob investigação. Os testes de sangue acessíveis, rápidos, econômicos eram, no mínimo, precários. Quem denunciou o fato foi o Wall Street Journal, a partir da reclamação e denúncia de uma série de pessoas. A publicidade agressiva da empresa é retirada do ar e ela, que meses atrás valia, supostamente, US$ 9 bilhões – 50% de Elizabeth –, derreteu. O primeiro processo contra Elizabeth e a Theranos foi por um de seus clientes, que, sentindo-se enganado, ingressou na Justiça americana na segunda semana de maio de 2015. Na sequência uma série de outros em todo o país. De início Elizabeth acusou as grandes empresas do setor, Quest e Labcorp. Diante das evidências, dias depois assumiu sua culpa e confessou-se negligente na prática dos fundamentos mínimos e obrigatórios em exames de sangue.

A “tecnologia exclusiva” que a Theranos supostamente tinha não era bem assim. Nas entrevistas e nos comerciais, Elizabeth desancava as duas principais empresas, ironizando sobre a metodologia ultrapassada que continuavam usando, obrigando os pacientes a muitos miligramas de sangue quando uma ou duas gotas seriam mais que suficientes. Nas fiscalizações, tudo o que se constatou é que não existia nenhuma tecnologia revolucionária. Que a Theranos exclusivamente expunha seus clientes a riscos desproporcionais. Desde que Steve Jobs partiu, o Vale do Silício continua na busca de um novo deus. A imprensa especializada em tecnologia tentou sucessivas vezes colocar nas primeiras páginas jovens e promissores talentos. E, ao se deparar com Elizabeth, acreditou estar, finalmente, diante do Steve Jobs de saia. E exagerou na narrativa, esmerou-se nos elogios e adjetivos, e anunciou a chegada do substituto. Investidores incautos caíram no engodo e encheram os cofres da Theranos.

Na edição de Forbes sobre as mulheres mais ricas do mundo de 2015, Elizabeth aparecia na 110ª posição, com uma fortuna de US$ 4,7 bilhões. Um ano depois, em 1 de junho de 2016, Forbes procede a uma revisão e reduz a fortuna de Elizabeth para zero. Muito provavelmente a Theranos será liquidada. Salvo raríssimas exceções, até prova em contrário, os fundamentos dos negócios continuam rigorosamente os mesmos. Muito especialmente no tocante à verdade. Já fraude é outra coisa e sempre encontra incautos de todos os gêneros, assim como especuladores de toda ordem pelo caminho.