Mercados em condomínios ganham espaço em tempos de isolamento social
Em fevereiro, o Market4u instalou sua primeira unidade em um condomínio de classe média alta de Curitiba. A proposta da empresa é levar um mercado para dentro das áreas comuns dos prédios, evitando que os moradores precisem sair para fazer compras.
A operação, fruto de um investimento próximo aos R$ 3 milhões, é estruturado pela Holding BioGrupo, que detém, entre outros negócios, postos de gasolina, casas de carnes, quiosque de café em shoppings, uma empresa de materiais para bicicletas e ciclistas e a agência Motion Publicidade.
Os espaços possuem equipamentos refrigerados e gôndolas com os produtos disponíveis em um mercado tradicional e funciona 24 horas por dia. O mix de produtos vai de carnes a bebidas alcoólicas e não alcoólicas, passando por alimentos perecíveis e não perecíveis, itens para higiene pessoal, produtos de limpeza e até sorvete.
Em menos de dois meses, a empresa viu sua operação crescer 1200%, saltando de uma para 12 lojas instaladas. Também viu aumentar o número de contratos já assinados aguardando abertura, sendo ao todo 17 novos clientes. A equipe também ampliou seus funcionários de sete para 40 em apenas 15 dias.
Além dos números expressivos as parcerias também se multiplicaram. Coca-Cola, Kibon, Ambev e Mili já fazem parte da lista de fornecedores parceiros da startup, que ganhou ainda mais impulso devido ao isolamento social em decorrência do coronavírus.
Para Sandro Wuicik, diretor comercial do Market4U, o crescimento se deu mais rápido do que imaginavam. “Instalamos o primeiro em fevereiro, antes da pandemia e, mesmo com outros sete contratos assinados, como startup a gente queria aprender um pouco mais e dar uma estudada melhor no negócio, mas não deu tempo”, diz.
Segundo o executivo, os moradores aceitaram “muito bem” o negócio e passaram a dividir a experiência em suas redes sociais. Com isso, diz, a aproximação com as marcas aconteceu de forma mais célere e orgânica.
“Uma das principais vantagens é que as marcas conhecem muito os pontos de venda. A Coca-Cola vende no Pão de Açucar e sabe quantas garrafas foram compradas, só que não sabe quem comprou. Nós entramos com muitos dados por causa do nosso aplicativo, e conseguimos saber a recorrência das compras e que o fulano consome, com qual frequência. O Ricardo gosta de carne, e quando faz isso toma Skol. O outro bebe cerveja artesanal, esse tipo de inteligência para nós é importante e assim conseguimos melhorar o nosso mix e para as marcas também. De certa forma, estamos aproximando a indústria do consumidor final”, defende.
O negócio ainda não despertou os olhares das grandes varejistas, mas Wuicik acredita que há espaço para uma operação casada. “Nosso negócio tende a evoluir com os supermercados. Quem sabe com mais escala e volume a gente tenha sinergia com eles. Nós não conseguimos ter os 20 mil itens que eles têm, a gente tem ali nossos 300, 350 produtos. É uma compra mais pontual, mas quem sabe a gente não faz um negócio com os próprios mercados”, advoga.
A ideia é direcionar os pedidos. “A gente tem os itens principais. Não quer? Então indicamos um mercado que te entrega em tantas horas. Se eu vou ao mercado como consumidor vejo que tem 30 marcas de papel higiênico, fica difícil de escolher. Então vamos priorizar as marcas que se aproximarem de nós, com exclusividade nas nossas lojas. Eu consigo fazer com que o consumidor experimente a marca daquele fabricante e de repente ela pode se tornar a marca favorita dele”, aponta.
Operação
Um dos principais desafios para implantação do negócio, diz Wuicik, é que os condomínios tinham espaço gourmet, piscina e outras áreas comuns, mas nada que pudesse ser destinado à loja, sem ter de entrar em acordo via assembleia condominial.
“Precisávamos personalizar de acordo com cada condomínio. Se ele tiver uma ou duas paredes vazias a gente consegue fazer nosso formato. Conseguimos personalizar de acordo com o condomínio”, diz.
Hoje toda a operação é da Market4U e a parte de logística, aponta Wuicik, foi uma questão. “Estudamos isso durante oito meses. Não temos grandes espaços de gôndolas, por isso que investimos muito forte em tecnologia e agora conseguimos fazer essa função de forma assertiva. Os produtos já saem do nosso centro de distribuição com os itens daquele determinado condomínio. Essa tecnologia permite que a gente consiga abastecer diferentes condomínios durante o dia.”
O sistema da empresa acusa as compras feitas durante o dia e o que precisa de reposição. “O consumidor comprou, eu já verifico aqui. No outro dia, às 6h30 da manhã já tem a equipe que faz a separação. Às 8h, a equipe de reposição já pega as caixas e leva para os condomínios. Não precisa do síndico, nem de ninguém olhando, a gente automaticamente faz isso com nossa tecnologia”, diz.
Como funciona
Dentro do app, o cliente cadastra o cartão de crédito, logo, não tem contato com nenhum maquinário ou dinheiro. O cadastro é inteligente e ativado via CPF, o que impede que menores de 18 anos consigam destravar as geladeiras e adegas com bebidas alcoólicas. Todo controle da operação, reposição, limpeza e controle de estoque é do Market4u, isentando assim, o condomínio de qualquer responsabilidade.
Quanto aos preços dos produtos, Wuicik explica que estão entre os valores praticados nos mercados e as lojas de conveniência.
Neste momento, devido à pandemia, a implantação do serviço nos condomínios é gratuito. Regularmente o valor para instalação varia entre R$5 e R$10 mil.
Expansão
Com o aumento da procura por conta da Covid-19, hoje a empresa demora entre 20 e 30 dias para completar a instalação das lojas e já há pedidos para expansão para São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.
“Até final desse primeiro semestre a gente quer fechar 60 lojas em Curitiba No segundo semestre vamos para São Paulo e já estão surgindo interessados em outros lugares. Estamos adaptando o modelo para essas outras cidades”.
Até o momento, a comunicação e relação com o público está baseada em estratégias de PR. O crescimento exponencial, no entanto, passou a exigir investimento em publicidade. A conta da empresa deve ser entregue, nos próximos dias, para a Motion Publicidade, que também pertence ao BioGrupo.