Divulgação

Para quem achava que o jornalismo estava morto, essa semana é uma prova de que a boa prática jornalística ainda continua sendo fundamental e reconhecida. Além do Oscar de melhor filme dado para Spotlight no último domingo (28), que premiou a história de uma apuração jornalística sobre abusos da igreja católica em Boston, nos Estados Unidos, nesta última quinta (3) o Brasil foi impactado por uma reportagem da revista IstoÉ que faz o que nem mesmo a Operação Lava Jato conseguiu até o momento: colocar a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula no epicentro dos maiores escândalos de corrupção do país na atualidade. 

A publicação traz uma matéria com documentos que mostram a delação premiada do senador Delcídio do Amaral (PT-MT). Se as declarações forem verdadeiras, como a revista já reafirmou que é apesar do senador não ter confirmado as acusações, trata-se de uma peça jornalística que pode mudar a história do país e colocar a presidente na linha direta do impeachment. A relevância do material é refletida pelo interesse dos leitores, que já compraram todas as 350 mil cópias da tiragem regular da revista. Para atender a procura, a Editora Três, que publica a IstoÉ, imprimiu 350 mil exemplares extras para abastecer as bancas durante o fim de semana. 

Devido à reportagem intitulada “Delcídio conta tudo”, a revista adiantou sua circulação para não arriscar a perda do furo. No entanto, o maior valor da reportagem é o trabalho investigativo assinado pela editora Débora Bergamasco e a busca por notícias de grande relevância, trabalho que pode ser feito apenas por profissionais bem qualificados e que precisam de tempo para apurar uma história. Somado ao esgotamento das vendas da publicação e a necessidade de imprimir mais exemplares, isso mostra que o jornalismo impresso segue sendo essencial para a sociedade na vigilância das ações dos Três Poderes, característica menos presente no jornalismo digital. 

Não por coincidência, a revista, que normalmente começa a circular aos sábados, teve entrega adiantada para a quinta-feira e, na sexta (4), a Polícia Federal deflagrou a 24ª fase da Lava Jato, batizada de Alethea, que começou com a visita à casa do ex-presidente Lula, onde os agentes revistaram a residência em busca de provas e levaram o político para depor sobre supostos favorecimentos pessoais recebidos de empresas investigadas pela Lava Jato. 

A matéria 

A reportagem de capa da edição especial da IstoÉ apresenta revelações de peso após acordo de delação premiada feita por Delcídio do Amaral, que recentemente esteve preso por tentar obstruir investigações da Lava Jato. Segundo a revista, o senador afirmou à justiça que a presidente Dilma Rousseff interferiu nas investigações da Lava Jato com tentativas que incluíram a nomeação do desembargador Marcelo Navarro para o STJ. 

O ex-presidente Lula também foi citado várias vezes por ter comprado o silêncio do ex-publicitário Marcos Valério, operador do Mensalão, e por ter aprovado pagamentos para a família de Nestor Cerveró, ex-diretor da área internacional da Petrobrás e um dos primeiros a serem presos na Lava Jato. 

A importância desta matéria sair a luz se dá, entre outros detalhes, pelo fato de que o ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF), ainda não decidiu se irá homologar ou não a delação de Delcídio do Amaral. De acordo com a publicação, o acordo só não foi sacramentado até agora por conta de uma cláusula de confidencialidade de seis meses exigida por Delcídio. Apesar de avalizada por procuradores da Lava Jato, a condição imposta pelo petista não foi aceita por Zavascki, que devolveu o processo à Procuradoria-Geral da República e concedeu um prazo até a próxima semana para exclusão da exigência. Para o senador, os seis meses eram o tempo necessário para ele conseguir escapar de um processo de cassação no Conselho de Ética do Senado. 

Ao ter acesso ao material e torná-lo público, a IstoÉ fura os planos de um senador que tenta se salvar da prisão sem nem ao mesmo ter seu mandato cassado por seus crimes políticos, como era o plano de Delcídio do Amaral, e leva informações de interesse público para a sociedade, funções clássicas do jornalismo.