Jogar futebol com as mãos pode não parecer tão popular no Brasil quanto o formato com os famosos dribles, canetas e gols de letra que estamos acostumados. Mas cada vez mais o futebol americano tem se consolidado no país. Para se ter uma ideia, na temporada 2018/2019, mais de quatro milhões de brasileiros acompanharam pelo menos uma partida da National Football League (NFL) pela ESPN Brasil, que detém os direitos exclusivos da transmissão.

À frente da narração dos jogos está Everaldo Marques, que ao lado de Paulo Antunes, traz para a audiência o pulso dos jogos, curiosidades, com vocabulário simples, bem humorado e informativo. A ideia é tentar manter o equilíbrio para que tanto os aficionados quanto os que estão descobrindo o esporte agora possam aproveitar e interagir.

Às vésperas de sua décima segunda narração do Super Bowl, no próximo domingo (3), Marques falou ao PROPMARK sobre o crescimento do futebol americano no Brasil, o impacto das redes sociais e o engajamento com a audiência.   

NFL no Brasil

O público foi sendo apresentado ao futebol americano aos poucos. A ESPN faz as transmissões desde 1995, o que contribuiu bastante para a popularização do esporte, mas mesmo antes da nossa chegada, a NFL já tinha um público considerável. Eu era fã. Participava de listas de discussão por email, que na época era uma coisa super moderna. Eram listas de 200 pessoas. Mas é inegável o papel da TV na divulgação e de explicar o esporte. Me lembro de um ano em que o mote era: “a gente explica e você vira fã”, porque não tem como você gostar de algo que você não conhece.

Democratização do esporte

O nosso papel nas transmissões, principalmente o meu, é buscar o equilíbrio entre o público que já manja, que está esperando uma coisa um pouco mais profunda, – essa é mais a função do Paulo Antunes -, e eu me coloco no lugar quem está em casa vendo o jogo pela primeira vez.

A gente continua fazendo isso até hoje. E com o Super Bowl, isso é ainda mais importante porque a partida é a porta de entrada para muita gente. As pessoas escutam os colegas na escola, no trabalho e acaba despertando a curiosidade. Ou então, se interessa pelo artista no show do intervalo e acaba vendo o jogo todo. É nesse momento que consigo fazer essa pessoa entender um pouco para que ela volte, se interesse e se torne um fã.

Interação

O Super Bowl se tornou imensamente relevante no Brasil. Obviamente não é como nos Estados Unidos, o país não para, mas quem gosta, se programa porque sabe que esse é um domingo especial, organiza uma festa com os amigos, vai para um bar, enfim, muda sua rotina. Me lembro do Super Bowl 50, em que o jogo caiu no Carnaval. Recebi várias mensagens de pessoas dizendo que trocaram de pousada porque não tinham como acompanhar o jogo.

Outra coisa legal nas transmissões da NFL é que o público é muito engajado. Eles se sentem parte e querem participar. Postamos uma informação e o cara que está no Twitter completando, ou corrigindo quando a gente escorrega. Desde o início, a interação é uma marca muito forte do canal. Lá atrás as pessoas mandavam fax para participar do programa. A gente evoluiu para o email. E já há algum tempo vieram as redes sociais que ampliaram muito mais. As pessoas sempre se sentem parte da transmissão.

Gente como a gente

Temos muitos espaços na TV durante a semana, mas o trabalho de bastidor nas redes sociais tem ganhado um peso bastante relevante. Na internet, com um celular na mão, o espaço é infinito. E tem a questão de fazer as pessoas se sentirem parte disso tudo. Então, por exemplo, eu compartilho as mais diversas coisas nas minhas redes. Meu café da manhã com bacon, curiosidades, enfim. As pessoas querem ver isso também. Elas se sentem na cidade. E por mais simples que seja, isso faz com que a audiência sinta de perto o clima da decisão.

Direto de Atlanta

Nos dias que antecedem o jogo, estar in loco é ainda mais importante porque você sente o clima na cidade, você conversa com as pessoas, tem personagens, entrevista atletas, você colhe informação direto da fonte. E na hora do jogo em si eu tenho a possibilidade de observar coisas que não necessariamente estão na TV, mas que podem me acrescentar. Um lance fora da bola, a reação de um técnico, um jogador entrando ou saindo. Claro que o principal é legendar o que está na tela, mas, às vezes, eu consigo trazer algo que é valioso. É sempre melhor estar no estádio em qualquer esporte.