Em maio deste ano, o jornal britânico The Guardian anunciou que, pela primeira vez desde 1998, obteve um benefício operacional, com 56% de sua receita vindo do digital. Richard Furness trabalha na empresa há 21 anos e hoje dirige a estratégia de assinaturas digitais, dos jornais, do comércio eletrônico e de eventos. Durante palestra no Digital Media LATAM 2019, o profissional enumerou algumas atitudes do periódico que levaram ao sucesso.

“Construímos uma base de suporte global”, explica o executivo. Segundo Furness, um dos preceitos foi sempre deixar o jornalismo feito pelo periódico aberto e gratuito. “Muitos acham que a estratégia correta é o oposto disso. Mas nós acreditamos que se formos espertos e inovadores, haverá modos de ter sucesso pensando além do modelo binário de paywall e publicidade”, afirma.

Furness justifica a decisão: “se apenas os ricos podem acessar o seu conteúdo, isso vai afetar a democracia”. Por isso, no The Guardian o conteúdo básico fica aberto e o leitor que contribuir ganha acesso a matérias exclusivas ou features no app, por exemplo, que o leitor normal não terá.

Para o The Guardian, foi essencial entender a relação entre impresso e digital. “Eles podem se complementar […]. Estamos experimentando”, afirma, complementando dizendo que o jornal britânico quer migrar sua audiência para o digital, mas sem esquecer a importância do papel. Algo interessante é que, enquanto muitos se dedicam essencialmente ao digital, o The Guardian tem um time dedicado a cuidar exclusivamente do impresso.

A awareness global do The Guardian facilita o trabalho. “Em 2015, mais de 70% dos nossos apoiadores vinham do Reino Unido. Em 2018, 70% vêm de fora”, revela.

Um dos pontos mais interessantes da apresentação mostrou os motivos que levam leitores a apoiarem o jornal. O primeiro ponto é qualidade jornalística, seguido de independência editorial. Ou seja, a liberdade da redação ainda é muito valorizada pelo leitor.

Mas como conseguir tal apoio? Antes, o periódico apostava em banners e publicidade tradicional. Hoje, faz pedidos em textos longos sobre a importância da ajuda do leitor. Um dos textos, aliás, foi intitulado de “The Epic” pela equipe do jornal. Veja abaixo:

(Reprodução/The Guardian)

Além disso, é preciso tornar tudo fácil para o leitor. Se antes o apoio era finalizado em várias etapas, hoje ele se resume em um sistema de dois passos para que a pessoa possa contribuir.

O jornal falha “muito mais vezes do que acerta”, mas, mesmo assim, conseguiu fechar no verde em 2019 e alcançou a marca de um milhão de apoios, entre assinantes e leitores que auxiliam pontualmente. “A ambição é alcançar dois milhões de por volta de 2022”, finaliza o executivo.