Ministério da Justiça gera polêmica no Facebook
Uma campanha do Ministério da Justiça está dando o que falar no Facebook. Uma foto publicada na última terça-feira (13) gerou polêmica por relacionar africanos com a imigração no Brasil. A postagem traz um jovem negro e a seguinte frase: “Meu avô é angolano, meu bisavô é ganês. Brasil, a imigração está no nosso sangue”.
Diversos seguidores da rede se manifestaram lembrando que muitos imigrantes desta nacionalidade foram escravizados e traficados para o Brasil. Na própria página, o Ministério da Justiça respondeu aos comentários, dizendo que “o objetivo da campanha é enfrentar a xenofobia e toda forma de ódio, preconceito e a intolerância, inclusive o racismo”.
Até a manhã desta quinta-feira, o post já tem mais de 50 mil curtidas, 8 mil compartilhamentos e centenas de comentários. Confira alguns comentários a seguir e o post aqui.
Luh Souza Ei, eu sou negra mas não sou descendente de imigrantes não. Sou descendente de seres humanos que foram escravizados. O que tem MUITA diferença quando se fala em imigração. Esse guri da foto.. Cadê os sobrenomes dele? Ou seja, qualquer Gentillis, Bolsonaros, Malufs, Collors, Yamaguchis e não sei mais o quê são descendentes de cotistas desagradecidos e tem até pra onde voltar com suas duplas cidadanias e nós, a maioria aqui? Se pensarmos numa história nem muito distante, acham mesmo que se não tivessem trazido à força pra cá, estaríamos aqui? Por isso o Brasil recebe tão bem até os sírios, mas os imigrantes (os de hoje são imigrantes) recebem com ódio. Na boa? A gente não sente muito orgulho de estar nessa terra não. Não da forma que foi, intimada, forçada, arrancada, dilacerada. Gosto de pensar que teria tido um futuro muito bom se fosse de lá. Por mais agruras que tivesse passado na vida em quaisquer países africano, de certeza o racismo eu não teria conhecido pq estaria com gente de maioria preta como eu sou. Chegou aqui, tem pele preta, vai sofrer racismo.
Rosalva Silva Imigrante? Uer, achei que o nome certo de: fui nas terras africanas, te coloquei num navio negreiro, te trouxe para o Brasil, te escravizei, torturei, explorei, abusei, matei,etc. Era ESCRAVIDÃO.
Jaqueline Gomes de Jesus: Ah… Ministério da Justiça, olhe só: a ideia pode parecer boa, num primeiro olhar, mas é falaciosa. Não dá pra comparar o hediondo tráfico transatlântico da população africana para o Brasil com os processos migratórios atuais. Além disso, quando se conhece o que foi a imigração no Brasil, no começo do século XX, sabe-se que partiu de uma lógica eugenista, que visava o embranquecimento da população nacional, em detrimento das condições de vida da população negra, vivenciando os recentes efeitos de uma abolição sem qualquer reparação pelos centenários danos por ela sofridos, ante à escravidão.
Mariana Esteves Que campanha problemática e essa? Escravos trazidos A FORÇA não foi imigração, TRÁFICO de pessoas não foi imigração.
Resposta completa do Ministéri da Justiça:
“Com relação às manifestações a respeito da campanha contra a xenofobia que trouxeram à tona a triste história da escravidão no Brasil, lamentamos que a postagem feita ontem tenha levado a interpretações que associavam escravidão e imigração. Essa absolutamente não era a intenção, e por esse motivo pedimos desculpas.
O foco da campanha contra a xenofobia é justamente sensibilizar quanto à importância de enfrentar toda forma de ódio, preconceito, intolerância e racismo, além de mostrar que a sociedade brasileira é composta de descendentes de imigrantes de todas as partes do mundo, que ajudaram a construir o país que conhecemos hoje.
Convidamos a todos para que acompanhem os próximos posts da campanha, que abordará várias histórias de brasileiros e brasileiras que são descendentes de pessoas das nacionalidades as mais diversas – africanas, latino-americanas, europeias, asiáticas – que decidiram construir suas vidas no Brasil”.