Modelo híbrido de remuneração fortalece as operações das agências de publicidade
Paulo Macedo -
Além da compra de mídia, fee, sucess fee, consultorias, projetos, branded content e performance contribuem para novas receitas
Não se trata de um fenômeno recente. Mas, cada vez mais, as agências de publicidade se desvinculam de uma só forma de remuneração. No mercado brasileiro, o modelo está em curso e não contempla mais apenas as comissões de mídia e incentivos (BVs) concedidas pelos veículos de comunicação. Apesar de ainda ser preponderante na composição de receitas, a mídia passou a conviver com fees, sucess fees, consultorias, elaboração de projetos, desenvolvimento de produtos, performance e, por exemplo, estúdios para viabilizar ações de branded content e até produção audiovisual.
A diversificação do portfólio não infringe o molde do país para as relações comerciais do trade de publicidade: agências, anunciantes, canais e produtoras de conteúdo. A gestão de todas essas disciplinas fica nas estruturas das agências, que utilizam a criatividade e ideias como fios condutores da gestão da comunicação mercadológica das marcas, dos produtos e dos serviços. Fora do Brasil, salvo exceções, a mídia é um negócio à parte da criatividade. No Brasil, a estratégia é concomitante com o desenvolvimento de uma ação e muitas vezes os profissionais dessa área são os protagonistas.
O viés brasileiro não contempla as empresas de mídia, os bureaus, comuns nos grandes grupos de comunicação. O conceito original dessas unidades evoluiu bastante e passou a agregar valor com expertises capazes de orientar melhor os procedimentos de uma campanha e torná-la mais eficaz na interação com os consumidores. Ou seja, os bureaus não são apenas uma operação meramente financeira. Mas a ideia criativa é um asset e as agências mantêm e usam esse skill como sua grande fortaleza.
O guardião desse modelo no Brasil é o Cenp (Fórum da Autorregulação do Mercado Publicitário), que tem estatuto detalhado para todas as remunerações, com o objetivo de dar transparência às relações comerciais, que é fundamental para a comprovação de ROI (Retorno sobre Investimento), muito mais exigido nessa era marcada por dados precisos e de cobrança dos acionistas das empresas por retorno para o fomento dos seus negócios. E também de margens financeiras mais reduzidas.
Foi-se o tempo da remuneração das agências com comissão de 20% atrelada à compra de mídia e dos 15% sobre o valor investido nas produções, pago pelas produtoras. Dessa forma, a situação finaneira do negócio da propaganda era muito mais confortável. Se as margens estão mais enxutas, porém, segundo expressões de especialistas, a busca pela criatividade adequada aos planejamentos de ações ficou mais evidente.
O monitoramento do Cenp-Meios, com base nos valores das PIs (Pedidos de Inserção nos canais), mostra que em 2022 as agências que integram a amostra movimentaram R$ 21,2 bilhões em mídia. Em 2021, o valor foi de R$ 19,7 bilhões.
Os grandes festivais globais de publicidade do segmento, como Cannes Lions, Clio, Festival de Nova York, Dubai Lynx, Golden Drum, El Ojo, Fiap e D&AD, só para citar alguns, passaram a enxergar a criatividade em todas as áreas que envolvem a publicidade. Se anteriormente ela ficava concentrada no conteúdo dos filmes e anúncios impressos, agora a visão é holística, da mídia ao live marketing, da performance ao branded content, do commerce ao direct, do PR ao craft.
O propmark ouviu executivos de agências com o propósito de compreender como se estabelece a composição de receitas. O resultado é surpreendente, mesmo não sendo mais uma grande novidade contemplar serviços especializados no blend financeiro. Confira os depoimentos a seguir.