Monks mapeia novas identidades do torcedor brasileiro
Pesquisa indica migração da autoridade do esporte para o digital e aponta caminhos para marcas atuarem em um ecossistema cultural fragmentado
A Monks apresenta a nova edição da pesquisa 'A Era dos Fandoms: Modo Torcida', que analisa como o comportamento do torcedor brasileiro se transformou diante da crescente digitalização do futebol. O estudo, baseado em uma amostra nacional de 1.000 entrevistados, indica que a narrativa do esporte se deslocou das transmissões tradicionais para um ambiente distribuído entre creators, memes, podcasts e formatos participativos.
Segundo o levantamento, 77% dos brasileiros veem o futebol como um dos principais símbolos da identidade nacional, mas o modo de viver essa identidade se fragmentou. O engajamento digital cresceu 72% entre 2019 e 2024, enquanto a presença física nos estádios caiu 8% no mesmo período.
Quatro novas identidades do torcedor
A Monks organizou as transformações em quatro perfis comportamentais que se sobrepõem à matriz tradicional do torcer. Esses grupos, presentes em todas as regiões e faixas etárias, refletem diferentes formas de conexão emocional, simbólica e cultural com o esporte.
Muito além do placar
Categoria marcada por vínculos ancorados em valores, estética e propósito. O torcedor acompanha causas que atravessam o futebol, casos como o Laguna SAF (vegano) ou clubes que comunicam visões de mundo. Para esse público, o resultado esportivo não é o único ponto de interesse.
Torcida íntima
Representa o torcer silencioso, mediado por telas e consumo individualizado. A experiência passa por cortes, lives, podcasts e momentos de privacidade. 49% desses torcedores afirmam que a ausência do grito não diminui a intensidade.
Bagunça core
Expressa o futebol como festa, meme e improviso. 46% desse grupo enxergam o esporte principalmente como entretenimento, movidos por fenômenos virais, narrativas humorísticas e grandes eventos.
Neo-fanáticos
Vivem o clube como ecossistema total: 3 em cada 4 Super Fãs afirmam que o ato de torcer é essencial para quem são, e 69% priorizam ver seu clube campeão a ver a seleção vencer.
A busca por espaços seguros no futebol feminino
O estudo identifica assimetrias importantes dentro do ambiente torcedor. 78% das mulheres dizem perceber preconceito e machismo no futebol, proporção menor entre os homens (57%). Esse cenário explica parte da expansão do interesse pelo futebol feminino, percebido como contexto de maior acolhimento e reconhecimento para públicos historicamente marginalizados.
O caos criativo e a reinvenção do futebol no digital
A pesquisa observa que a viralização de narrativas impacta diretamente o modo como o brasileiro constrói significado sobre o jogo.
Um terço dos entrevistados considera memes e fanfics elementos centrais de conexão com o esporte. O material destaca casos como o da presidente do Palmeiras, Leila Pereira — cujos trechos e reações circulam amplamente nas redes — e a participação da apresentadora gamer Nyvi Estephan na Kings League Brasil, que ampliou o alcance do torneio ao atrair novos públicos.
Entre jovens de 18 a 24 anos, 57% acreditam que novas ligas indicam que o futebol deve ser reinventado.
Criadores e podcasts ganham força na narrativa esportiva
A fragmentação da autoridade sobre o futebol é um dos eixos do estudo. Segundo o levantamento, 43% dos torcedores consideram o futebol mais divertido nas redes do que na TV, e 48% dizem que creators estão reinventando o jeito de torcer.
Entre os Super Fãs, 35% avaliam criadores e podcasts como mais relevantes do que narradores tradicionais para informação e análise. O áudio aparece como espaço de engajamento íntimo: 18% do público geral consome conteúdo esportivo semanalmente, número que sobe para 25% entre Super Fãs.
Implicações para marcas
Os dados reforçam a necessidade de estratégias híbridas que combinem cultura, creators, mídia tradicional e leitura das múltiplas identidades torcedoras.
Segundo Marina Pires, country managing director da Monks, “o engajamento no futebol deixou de ser um evento e se tornou um fluxo contínuo de cultura. O torcedor não apenas consome: ele cocria, interpreta e influencia. Marcas que não compreenderem esses novos ‘Modos Torcida’ arriscam perder relevância.”
O material também indica tensões: 47% dos torcedores pagariam para não ver publicidade durante o jogo, e 2 em cada 3 acreditam que há mais marcas tentando aparecer do que marcas ajudando o esporte.
Para Marina, a questão central é entender o papel cultural das marcas nesse ecossistema: “Hoje o futebol é uma API emocional plugada em outras indústrias. Moda, gastronomia, música e comunidades digitais constroem sentido a partir dele.”