A demora do governo paulista em prever o fim da quarentena da sociedade, no embate com esse duríssimo e pouco conhecido inimigo chamado coronavírus, com sucessivos adiamentos que só levam a população a um maior desespero, faz-nos crer que as autoridades médicas envolvidas no processo ainda não têm certeza sobre o que seria o mais adequado.

As cenas macabras que assistimos diariamente nas tevês lembram que realmente pouco sabemos a respeito do vírus e nada sabemos a respeito de darmos início a um processo lento, porém contínuo, de flexibilização, procurando assim melhor conhecermos até onde pode ir a pandemia.

Se de fato – e disso não duvidamos – aglomerações provocam um número maior de transmissões da doença, não será de todo impossível flexibilizarmos correndo paralelamente com fortes campanhas – inclusive publicitárias – convencendo a população a desistir (e até mesmo a temer) as aglomerações.

Enquanto não prevalecer essa consciência em cada cidadão que habita o território paulista, com destaque para a capital, todos os esforços para combatermos o vírus serão no mínimo reduzidos à metade em seus efeitos.

Vimos na última semana cenas chocantes nas agências da Caixa e suas cercanias, com milhares de pessoas buscando os seus R$ 600,00 de ajuda aprovados e liberados pelo governo federal. Por falta de um cuidado primário em se estabelecer filas com as pessoas devidamente distanciadas uma das outras, o que se viu foi um desespero beirando o caos, para cada um conseguir o dinheiro que lhes daria um mínimo de suprimentos de primeira necessidade por alguns dias.

De nada adiantará esticar a quarentena sem que as autoridades se concentrem apenas no já surrado jargão do “ficar em casa”. Não são todos que assim podem proceder e portanto temos aí a necessidade de mais de um tipo de comunicação, com seus focos voltados para cada tipo de gravidade mais frequente, como a das aglomerações.

Nestes últimos dias, com a população não só cansada de permanecer reclusa, ainda que em suas casas, como também sendo atingida por um sem-número de necessidades básicas, não apenas do ponto de vista pessoal, como também na responsabilidade dos chefes e chefas de família, no sentido de lutarem pela sobrevivência de si próprios e dos seus descendentes, saírem às ruas para trabalhar – os chamados autônomos – a fim de no retorno poderem quem sabe trazer algum alimento – no mínimo – para os seus.

O problema maior que vemos, porém, reside em uma renhida luta política entre o governador de São Paulo e o presidente da República, em campos opostos não apenas na política, mas também na adoção de medidas para combater esse novo inimigo comum a todos.

Esse embate tolo enfraquece os combates que o Brasil precisa travar contra o vírus, além de proporcionar o retorno, ainda que apenas para palpitar, de figuras políticas execradas, que não mais merecem ter suas vozes escutadas, por tudo o que ficamos sabendo delas.

Concluímos lembrando ao governador de São Paulo, sem que com isso queiramos repetir o mesmo pensamento do presidente no início da ação do vírus entre nós, que é, sim, essencial a defesa da vida, mas não apenas durante a pandemia, mas também depois dela, quando teremos um país arrasado e quem sabe com muito mais vítimas fatais do que tem proporcionado esse maldito coronavírus.

A diferença é que agora se contam os mortos e depois não. E não apenas os mortos lá adiante, como todos os desvalidos resultantes da passagem do coronavírus pelo nosso país que perderão todos os bens e recursos em nome de um recolhimento que já passou dos limites e contraria a própria razão de ser de cada cidadão pensante, produto de uma civilização que muito lutou para alcançar a liberdade plena que agora nos tolhem.

Nossa impressão pessoal é que se trava mais uma luta política, de lado a lado e com vistas ao próximo período presidencial, do que uma luta científico-administrativa, que aliás pouco se percebe ser travada.


Engasgada por tudo o que se disse acima, como aliás todas as demais atividades deste país (salvo algumas exceções), a propaganda brasileira ainda consegue, mesmo com os seus talentosos profissionais trabalhando em home office, produzir peças publicitárias extremamente criativas, passando de raspão na pandemia, mas dela falando ainda que em voz baixa.

O anúncio de página inteira da Pajero Sport (Mitsubishi) que saiu na última quinta-feira (30) nos jornais, é um deles, com a vantagem de prestigiar a mais elegante das mídias que é a impressa e usando todo o espaço de uma página nos jornais.

A criação é da Ampfy e só o título já merece um prêmio do Colunistas: “Se a força dos nossos carros vem do motor, a do brasileiro vem da alma”.

Meu Deus, é isso mesmo. É o que tentamos dizer acima, sem o conseguir totalmente. Só com alma forte, mas muito forte mesmo, pode-se aguentar o sofrimento deste momento, em que se perdem vidas com a rapidez de um instante, de pessoas queridíssimas que até há pouco estavam conosco se confraternizando e de repente, bem o sabemos, foram removidas para o corredor da morte.

Ainda bem que algumas ou até muitas se salvam, embora após atroz sofrimento e dormindo com a chance de não mais voltar a cada momento.

O anúncio da Pajero Sport, em um momento de pouca publicidade nos muitos meios do nosso vasto mercado, faz pensar nos perigos da vida e da morte, mas sobretudo nessa estranha etnia (como querem os filólogos) que somos os brasileiros, diferentes de todos os povos do mundo, no amor e na dor.

Armando Ferrentini é diretor-presidente e publisher do PROPMARK (aferrentini@editorareferencia.com.br)