“Mulheres estão quebrando a barreira do som”
São Paulo recebeu, na tarde desta terça-feira (4), o Women in the World, encontro anual que promove a discussão da situação da mulher no mundo sob diversos aspectos, entre eles violência e educação. Promovido por Nizan Guanaes, chairman do Grupo ABC, e Tina Brown, editora-chefe da Newsweek e do site Daily Beast, o projeto fez sua estreia no Brasil. “Quando começamos, quatro anos atrás em um hotel de Manhattan, em Nova York, não imaginava a dimensão que a ideia tomaria. Nos últimos dois anos, mulheres incríveis estiveram no palco conosco contando suas histórias. Ao pensarmos em internacionalizar o evento, o Brasil sempre esteve à frente. Ele é o gigante das Américas, um local onde as mulheres estão quebrando a barreira do som e deixando sua marca”, declarou Tina.
Realizado na Casa Fasano, o Women in the World teve como primeira convidada a jornalista Gloria Maria, cuja função foi entrevistar as policiais Eliane Nikoluk Scachetti e Pricilla de Oliveira Azevedo, uma das responsáveis pela implantação da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) no morro Dona Marta, no Rio de Janeiro. Descontraído, o bate-papo antecipou o que vinha pela frente: narrações emocionantes e inspiradoras, lembradas por Nizan como fundamentais para o entendimento do papel da mulher na sociedade hoje.
O evento seguiu com o testemunho de Marcela Martínez, advogada, secretária-executiva e membro do partido MNR (Movimento Nacionalista Revolucionário), da Bolívia. Entrevistada por Monica Waldvogel, ela relatou os acontecimentos que mudaram sua rotina desde julho deste ano, quando sua filha de 17 anos foi sequestrada por uma quadrilha de traficantes de pessoas. Monica ainda chamou ao palco Marisela Morales Ibáñez, procuradora-geral do México, e a brasileira Claudia Lago, advogada e presidente da ONG Elas por Elas – Vozes e Ações das Mulheres, que traçaram um panorama deste tipo de crime nos dois maiores países da América Latina.
Até o fim do evento, o Women in the World ainda trataria de temas como educação e iniciativas como a da Associação Lua Nova, de Raquel Barros, que oferece oportunidades a meninas cariocas que se prostituíam. Promovido pela Wella, marca da P&G e uma das patrocinadoras do evento, o encontro foi mediado pela apresentadora Xuxa Meneghel.
Histórias do poder
O ponto alto do projeto, no entanto, foi a participação da ex-secretária de Estado norte-americana Condoleezza Rice, entrevistada por Tina Brown e aplaudida de pé. “Mulheres são ótimas ouvintes e essa é a característica fundamental da boa diplomata. Elas também olham para questões que muitas vezes não estão nos programas originais do governo e, graças a isso, um ato como o estupro pode se tornar crime de guerra”, destacou.
Condoleezza ainda contou situações de sua infância no Alabama (EUA), quando a família era proibida de entrar em restaurantes simplesmente por ser negra, e o encontro com alguns dos mais marcantes personagens do mundo moderno, entre eles Vladimir Putin e Muammar Gaddafi, o ditador líbio que tinha por ela uma estranha obsessão. “Muitas fotos minhas foram encontradas entre os pertences dele. Na primeira vez que fui vê-lo, me avisaram que o encontro seria na tenda dele. Desconfiei e pedi um local mais adequado. A conversa fluiu normalmente, sobre questões que envolviam os dois países, Líbia e Estados Unidos, mas ao fim ele quis me mostrar um vídeo. Basicamente, ele fez um recorte com diversas imagens minhas, ao lado de muitas pessoas. O filme, no entanto, tinha uma trilha sonora muito especial: a música ‘Flor Negra na Casa Branca’, que ele compôs para mim”, disse a diplomata, provocando risos no público.
Depois de avaliar a situação do mundo árabe, Condoleezza fez elogios ao Brasil – “país multiétnico, onde está a riqueza do futuro” – e decretou: “Meus pais acreditavam na educação de qualidade para combater o preconceito e as adversidades. Graças a eles, estou aqui hoje. Quando você enfrenta os desafios, ganha poder. Promover a educação das mulheres é dar-lhes esse poder e dificultar, por exemplo, crimes como o tráfico humano, que muitas vezes se apoia na baixa autoestima de suas vítimas”.
‘O medo não é opção’
Mediado pela consultora de moda Glória Kalil, o bate-papo com Diane von Furstenberg, um dos mais importantes nomes da moda e do mercado de luxo, frisou a importância da independência financeira feminina. A estilista, que nos anos 1970 criou o vestido envelope, adotado por milhões de mulheres, citou a mãe, sobrevivente do campo de concentração de Auschwitz, na Polônia, e seu grande exemplo de vida. “Ela saiu de lá pesando apenas 29 quilos. Quando se casou com meu pai, os médicos disseram que seriam necessários anos até que pudesse engravidar, por causa de sua condição física. Poucos meses depois, no entanto, eu nasci. E aprendi com ela a ignorar o medo e levar adiante qualquer projeto que me completasse enquanto pessoa”, afirmou Diane.
Prêmio
Após o fim das narrações e entrevistas, Nizan Guanaes subiu novamente ao palco para entregar a três mulheres o troféu Women of Impact. As homenageadas foram: Dona Anna, responsável por um importante projeto social nas favelas do Rio de Janeiro, Maria da Penha e Raquel Barros. “Para mim é uma enorme honra fazer parte dessa iniciativa e poder levá-la ao mundo. Fui livremente inspirado por Tina Brown, sem a qual o Women in the World não existiria. Ela, assim como essas mulheres que aqui estão, são exemplos de força e determinação e merecem de nós todo o respeito. Hoje, fiquei emocionado”, disse o executivo.
Além da Wella, o Women in the World contou com patrocínio da Vale e apoio da Coca-Cola Brasil. O evento na Casa Fasano ficou a cargo da agência Tudo, do Grupo ABC, representada pela sócia Sissi Valente. “Vimos pessoas de fato envolvidas com a causa, tudo numa grande sinergia. A sociedade precisa se engajar, ter voz mais ativa em assuntos como os que discutimos hoje. A Tudo se sente orgulhosa de fazer parte disso”, afirmou.