Mulheres ocupam mais cargos de chefia, mas ainda falta diversidade

Levantamento feito recentemente apontou que elas estão em 38% dos postos de liderança, enquanto em 2019 esse número era de 25%

Os cargos de liderança nas empresas lentamente começam a mudar de mãos nas companhias. As mulheres, a quem historicamente foi retirado esse direito, têm conquistado mais espaço nesses ambientes. Entre as empresas ouvidas pela reportagem, as executivas já ocupam cerca de 40% dos postos de comando.

Considerando os dados demográficos brasileiros, divulgados pelo IBGE, esse percentual é menor do que deveria. Informações recentes do Teste Nacional do Censo Demográfico de 2022 indicam que a população brasileira é majoritariamente feminina, com 51,7%.

Refletem, no entanto, um movimento que tem se ampliado. Segundo pesquisa realizada pela Grant Thornton, as mulheres ocupam 38% dos cargos de liderança no Brasil em 2022, um percentual bem superior ao dado de 2019, que foi de 25%.

Na Locaweb, por exemplo, as mulheres hoje representam 41% de todo o grupo. Simony Morais, diretora de gente e gestão da companhia, explica que o aumento diverso traz muitos ganhos.

“Desde que a iniciativa começou, mantemos o objetivo de criar um lugar seguro para que cada pessoa possa ser quem é e hoje já temos o reconhecimento sobre essa cultura no dia a dia”, afirma.

Simony Morais, diretora de Gente e Gestão da Locaweb: diversidade traz ganhos (Divulgação)

Ela conta que as diretrizes têm sido cada vez mais fortalecidas, logo que se tornaram signatários do Pacto Global no fim do ano passado. Além disso, um próximo passo do grupo é aderir aos Princípios do Empoderamento da Mulher, também da ONU.

“[vamos] Reforçar as ações que já executamos e ser uma força ativa de transformação da sociedade”. O objetivo, segundo ela, é fazer com que a inclusão e diversidade esteja inserida em todas as estruturas do negócio.

Esse também é o objetivo da agência digital Raccoon.Monks, onde as mulheres representam 42% entre as lideranças. A gerente de RH Carol Morimoto conta que a agência digital realizou um censo, a partir do qual pretende definir metas, indicadores e prazos para acompanhar a diversidade dentro da agência.

“Espera-se que com o aumento da diversidade, também seja possível o aumento de satisfação e felicidade dos colaboradores, além de um ambiente com grande número de ideias. Entendemos que para a organização é importante atrair e manter a diversidade, e incluir todas as pessoas da melhor forma possível”, explica.

Na Rocky.Monks,  com 38% do total de lideranças femininas, a sócia e diretora Daniela Gebara diz que a empresa projeta dobrar a quantidade de líderes até dezembro deste ano e ampliar a diversidade, principalmente em relação às mulheres. “Não é uma meta fácil, pois acredito que esta é uma questão estrutural, que precisamos ‘corrigir’ desde a base e estamos com foco nisso”.

A Pmweb, martech com serviços para marketing e CRM,  possui 34 mulheres em cargos de liderança, correspondendo a 50% do total de líderes. “Acreditamos que esse seja um valor que foi criado naturalmente, pois sempre tivemos o entendimento de que um time mais diverso e uma empresa mais inclusiva trazem benefícios para os nossos colaboradores e para a sociedade”, afirma Grazielle Sbardelotto, sócia e VP de marketing da Cloud.

Grazielle Sbardelotto, sócia e VP de marketing cloud da Pmweb (divulgação)

Para a Lets Marketing, consultoria focada em Marketing Jurídico, que tem 66% das lideranças ocupadas por mulheres, há uma evolução também no comportamento de clientes e parceiros em relação à diversidade em escritórios de advocacia.

“Hoje, já vemos os que priorizam a contratação de pessoas negras para vagas jurídicas, a fim de incluí-las no Direito Empresarial. Essa é uma postura que ainda divide opiniões entre bancas. Ainda há aquelas que se apoiam apenas na meritocracia. Felizmente, vemos cada vez mais tomadores de decisões abertos a discutir ações efetivas e inclusivas na contração de profissionais, por exemplo”, destaca Amanda Paccola, sócia e head da área de Rankings Jurídicos.

No caso da GhFly Network, o percentual de líderes mulheres já supera os números masculinos, com 59,3%, de acordo com Souzanne Dupont, Chief People Officer (CPO) da empresa. Ela afirma ver inúmeros ganhos com as práticas de diversidade, como dar voz e espaços para as pessoas serem o que quiserem, além de poder contribuir com a evolução da pauta perante à sociedade.

“O nosso objetivo agora é aumentar a representatividade étnica, bem como a interseccionalidade considerando outras diversidades, tanto em cargos de liderança, quanto em nossas empresas como um todo”. Segundo ela, as metas estão sendo definidas.

Dupont, da GhFly: o nosso objetivo agora é aumentar a representatividade étnica (Divulgação)


Falta diversidade na diversidade
Apesar do avanço com a presença de mais mulheres em cargos de liderança, esse processo não é equânime e guarda imperfeições quando são observados os números sob o ponto de vista étnico. A GhFly Network conta com 18,8% de pardas. Na locaweb, apenas 6% dos cargos de liderança são ocupados por mulheres negras, percentual que cai para 0,35% na Racoon.Monks. As empresas Pmweb, Let's Marketing e Rocky.Monks não têm representantes negras nessas posições.

“É por isso que o nosso coletivo está com um projeto focado em educação para pessoas pretas no ramo da tecnologia. Desta forma, acreditamos que podemos investir nas pessoas que se interessam por essa área, estimulá-las a buscar especializações e, posteriormente, oportunizar o acesso a este mercado de trabalho”, afirma Sbardelotto, da Pmweb.

De acordo com a executiva, o Coletivo+, criado em junho de 2020, tem como primeira missão trabalhar o pilar da educação, dentro de Responsabilidade Social, e o Racial, dentro de diversidade.

Segundo Gebara, da Rocky.Monks, a companhia está trabalhando para mudar essa realidade. “A Rocky.Monks forma seus profissionais desde o estágio e estes têm uma carreira acelerada aqui dentro. Do total de líderes que temos, mais de 70% começaram na empresa como estagiário. Estamos trabalhando fortemente na atração de talentos e processos seletivos focados em pretas e pretos para conseguirmos formá-los e mudar essa realidade”, finaliza.