Mundo paralelo

Sob o título Janaína merecia um anúncio, nosso colaborador Stalimir Vieira – profissional da criação publicitária que tem em seu extenso currículo passagens por relevantes agências do mercado – levantou um assunto que merece reflexão de todos os envolvidos não apenas no processo criativo da propaganda, como também de outros segmentos da comunicação do marketing e, destacamos nós, principalmente dos clientes-anunciantes que aprovam o produto final publicitário que vai frequentar as mídias.

Alê Oliveira

Armando Ferrentini

A questão se refere ao distanciamento da criação dos fatos do mundo real, do dia a dia do consumidor enquanto cidadão, em um país que nos últimos tempos tem produzido esses fatos em quantidade e importância jamais vistas.

Tem sido farto esse material do dia a dia, que com certa frequência nos damos conta de que esquecemos algo da maior relevância ocorrido 48 horas antes. Pode-se mesmo dizer, em decorrência principalmente do confronto político-ideológico que se estabeleceu no Brasil, com graves consequências para a vida econômica do país, que a velocidade na produção desses fatos (e boatos) tem superado o que ocorre em países tão conturbados como o que hoje ocorre conosco, onde se torna impossível qualquer previsão sobre o nosso destino próximo.

Neste exato momento em que o leitor nos lê, se ainda for sábado, há uma apreensão geral no país com respeito ao dia de amanhã, a votação do início do processo de impeachment pela Câmara dos Deputados, se a maioria de 2/3 será atingida para possibilitar a abertura do processo no Senado.

Se já for domingo, no meio da tarde, o leitor por certo deixou de lado a leitura do PROPMARK para acompanhar a votação dos parlamentares na Câmara Federal, seguindo um roteiro esdrúxulo de alternância geográfica, que começará pelo Norte do país, pulará para o Sul, voltará para o Norte e assim sucessivamente avançando sobre o mapa do Brasil, até culminar na região Nordeste.

Essa “luta divisória” leva à conclusão de que o país não está apenas dividido geográfica, mas também politicamente, produzindo pérolas do tipo que o Dr. Janot, procurador-geral da República, atreveu-se a emitir, segundo a qual o processo de votação na Câmara Federal deveria começar do Norte para o Sul, de forma continuada, observando-se a latitude (sic) de cada capital de estado.

Como diria o velho e saudoso guerreiro, “eu vim para confundir e não para explicar”.

Se for no domingo à noite, já terá o leitor ideia ou mesmo certeza (conforme o horário) de que ou sua pizza estará estragada ou terá sabor muito especial, como nunca teve em um domingo de abril.

Caso o leitor depare com o PROPMARK somente na segunda-feira, ou mesmo na terça (em alguns casos), já saberá de tudo o que ocorreu e todo este nosso comentário ficará, como dissemos no início, ridiculamente atrasado, superado e sem qualquer relevância, a não ser a oportunidade de virar logo a página e percorrer até com certa ansiedade o noticiário dos últimos dias sobre o que de maior importância ocorreu no mercado. Além, é claro, de dedicar a sua atenção aos espaços comerciais desta edição, sempre atraentes para quem tem o seu dia a dia no trade.

Voltando às observações do Stalimir Vieira, que cita episódios do qual não foi apenas testemunha, mas colaborador efetivo, dos quais a publicidade muito se aproveitava para perseguir a sua ambição maior: chamar a atenção do consumidor.

Stalimir relata uma série de campanhas e anúncios criados por Washington Olivetto e membros alternados das suas equipes, entre os quais em certo período o próprio Stalimir Vieira, que exploravam deliberadamente temas do cotidiano, não apenas do campo político, como de qualquer outro setor que produzisse algo transformado em notícia.

O articulista chega então ao ponto que gerou o título do seu artigo: a advogada Janaína Paschoal, subscritora, junto com Miguel Reale Jr. e Helio Bicudo, do pedido de impeachment da presidente da República, protocolado na Câmara Federal e em julgamento neste domingo, que se tornou conhecida em todo o país, um grupo odiando, outro aplaudindo, por ser a mais veemente dos três e ainda jovem e bonita, utilizando publicamente sua força de convencimento em prol da tese.

Apesar de docente na Faculdade de Direito da USP, é provável que seu brilho dos últimos dias na luta pelo impeachment perca força, caso o impeachment não ocorra. Ocorrendo, porém, Janaína Paschoal vira estrela e poderá ser utilizada, ela própria ou imitações, igualmente em campanhas publicitárias como Olivetto e outros tantos exploraram no passado recente.

O que, aliás, já deveria ter ocorrido, lembrando Stalimir Vieira no seu artigo publicado neste jornal, que por ter protagonizado o que protagonizou, já merecia um anúncio.

Quem se habilita?

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A propósito, sabemos de algumas peças publicitárias que poderão ser veiculadas a partir de agora aproveitando o atual momento político. Tudo dependerá da aprovação ou não do impeachment.

Uma delas, o comercial do Habib’s criado pela Publicis, inicia com pessoas em movimento e repetindo “Caiu!”.

A movimentação cresce em forma de comemoração e o que caiu é o preço das esfihas e dos quibes do anunciante nas suas lojas.

Segundo fontes da agência, o comercial teria sua veiculação iniciada nas tevês abertas já a partir da última sexta-feira (15) à noite.

Armando Ferrentini é diretor-presidente da Editora Referência, que edita o PROPMARK e as revistas Marketing e Propaganda (aferrentini@editorareferencia.com.br)