"Não ser oportunista é o passo fundamental", diz André Kassu
“Mais do que uma agência de publicidade, resolvedores de problemas”: o mantra da CP+B Brasil parece se encaixar no contexto atual.
Afinal, os últimos meses trouxeram problemas diversos para anunciantes variados. Pensando nisso, PROPMARK ouviu André Kassu, sócio da agência, para saber seus “dois centavos” sobre alguns problemas do mercado em meio à pandemia do novo coronavírus.
No bate-papo, o criativo fala sobre papel da profissão, contesta o termo home office, diz que Cannes não deve ser uma preocupação “primordial”, entre outros temas.
Qual o papel do publicitário num momento como esse?
Nosso papel é trazer soluções de negócios para os clientes, posicionamento para as marcas que conectem com o consumidor e com a sociedade, uma visão criativa para o cenário adverso que surge.
Como uma marca pode ser relevante na crise?
Não ser oportunista é o passo fundamental. Logo no início da pandemia, algumas ideias ficaram ao redor do distanciamento físico, apenas. Pareceu simplista, porque talvez porque ninguém tivesse dimensionado a extensão do problema. Logo depois, a Ambev investiu na construção de um hospital, na fabricação de álcool gel e muitas marcas adentraram com profunda relevância na crise. Do nosso lado, com o time de Stella Artois, fizemos uma plataforma que impactou positivamente um setor que tem sofrido muito: o dos restaurantes. E que agora ganhou novos parceiros, Nestlé e Nespresso, para uma nova fase. Com o time de Bohemia, montamos a plataforma Ajude um Buteco que visa dar um pouco mais de tranquilidade para milhares de pessoas que têm no boteco, o seu sustento. Acho que hoje toda boa ação feita por alguém, por uma marca, deve e merece ser replicada, multiplicada. Não é sobre ineditismo, nem ficha técnica.
A CP+B Brasil está de home office desde meados de março. Como você avalia a experiência até aqui?
Não acho que a expressão home office possa ser aplicada hoje com o mesmo significado. Estamos trabalhando remotamente e em quarentena. O que é uma situação muito peculiar. Você faz uma compra e passa álcool em todas as embalagens. Apertar o botão do elevador é um tormento, você não pode sair na rua e abraçar um amigo. É um distanciamento social severo, não é home office.
A nossa forma de trabalhar foi se ajustando aos poucos, mas a capacidade de adaptação é uma fortaleza nesse momento. E acho que nos adaptamos bem. Uma coisa que mudou ao longo das semanas foi o tom das conversas com os clientes e equipe. No começo, todos tateando, por conta desse cenário incerto, hoje as conversar são muito mais sólidas e com uma preocupação com o outro. Olhamos o futuro agora dia a dia, semana a semana, juntos.
Cannes foi cancelado. Qual será o impacto no mercado brasileiro?
Como disse um grande amigo, alguns publicitários lamentaram mais o adiamento de Cannes do que os atletas lamentaram o adiamento das Olimpíadas. E isso é um erro de rota, de foco no negócio. Cannes tem uma chance de se reinventar, de reduzir drasticamente as categorias e subcategorias, de trazer discussões mais sólidas em 2021. No momento em que o mercado de comunicação tem o seu investimento reduzido e um futuro nebuloso, Cannes não pode ser uma preocupação primordial. Para nós da CP+B Brasil, o impacto do cancelamento é zero, mas a esperança que o Festival e a indústria se renovem é enorme.
Qual a pior coisa que o coronavírus causou para o mercado? E a melhor?
A pior coisa é que o número de vítimas que cresce em todo mundo. Nada se compara a isso. A segunda é a falta de visibilidade sobre quando a pandemia termina. A retração parece inevitável quando há tanta incerteza. A melhor vai ser sobre a reinvenção, sobre como vamos sair desse cenário. A melhor ainda vai chegar.
Além de criativo, você também é um dos sócios da agência. Como está a busca por novos negócios?
A gente estava em processos de concorrência que começaram antes do coronavírus. E foram apresentados durante a quarentena. É uma situação inédita para todos. Alguns processos de concorrência devem ocorrer durante esse período e estamos atentos a eles. E com atenção redobrada aos nossos clientes.