No Natal de 2017, Papai Noel fez bico

Dentre todos os registros e recordações do Natal de 2017, decadência, abandono, desgaste, esquecimento, desapego – escolha o verbo que você julgar mais conveniente – do Papai Noel, foi, de longe, o grande destaque.

Objetivamente, nos poucos shopping centers que se lembraram do “bom velhinho”, não passou de mero e perfunctório coadjuvante. Terceiro corredor à esquerda, ala 12…

Até pensei ter sido denunciado por assédio. Assim, no Natal de 2017, Papai Noel fez bico. Em todos os sentidos.

Já nos preparativos, a decadência brutal do velho de barbas brancas se manifestava. Estadão e o jornalista Edilson Veiga foram conferir se os rumores tinham consistência. Mais que tinham. A realidade era maior do que o que se sussurrava em versos e trovas, como diria Chico.

Dois a um Cenografia é uma empresa que tradicionalmente presta serviços para eventos, decorações, varejo e shopping. Em seu portfólio, figuram a Monica e sua turma, mais Barbie, Dora Aventureira e Patrulha Canina.

Foi acionada por 60 shopping centers para a decoração do Natal de 2017. Apenas dois perguntaram pelo bom velhinho. Só faltaram dizer, mandem lembranças a ele.

Aí Edilson perguntou a Danielle Paulino, diretora comercial da empresa, se isso já vinha ocorrendo nos natais anteriores… Danielle respondeu, quase gritando…

“Não! Há dez anos tudo sempre foi Papai Noel. Doceria do Papai Noel. Casa do Papai Noel. Hoje os poucos que se lembram dele é sempre como complemento, de forma secundária.” Quase penduricalho. Papai Noel, em 2017, um medíocre coadjuvante.

A empresa de Danielle foi responsável pela decoração de 130 shopping centers em todo o Brasil, no Natal 2017. Só na capital, São Paulo, foram 30.

Nos 30, Papai Noel Zero. Normalmente e nas contratações o Papai Noel aparecia no final, diante da pergunta: “e não quer nenhum Papai Noel?” Resposta:

“Não, tem de ter um ao menos para as fotografias… mas, cuidado… por favor, coloque num canto meio escondido para não atrapalhar o fluxo…”.

No Natal de 2017, uma única exceção na cidade de São Paulo. O Shopping Páteo Higienópolis. Onde, no centro da decoração, estava A Casa Mágica de Papai Noel.

Em todos os demais, o bom velhinho deu os primeiros passos na direção de se converter no novo Faquir do fantástico conto de Franz Kafka. Abandonado e esquecido por todos, só redescobriram o faquir anos depois quando decidiram limpar o mato que cobrira o terreno.

E lá encontraram o velho faquir, pele e osso, mas ainda cumprindo seu sagrado dever de honrar o que se comprometeu.

Precisamos urgentemente resgatar Papai Noel, antes que alguma empresa de mudança e demolição encontre aquele barbudo de roupas vermelhas desbotadas no meio do entulho daquilo que um dia foi um shopping e o encaminhe para o lixão.

No Natal de 2018, ou resgatemos Papai Noel, ou lhe concedamos uma morte digna pelos bons e relevantes serviços prestados.

Agora, vai explicar para as criancinhas que Papai Noel jamais existiu.

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing (famadia@madiamm.com.br)

Leia Mais

A reinvenção do gigante