Nosso Brasil brasileiro
1. A Abap Nacional e a Fenapro divulgaram comunicados na última semana, assinados por Orlando Marques, presidente da primeira, e Humberto Mendes, VP executivo da segunda, dirigidos ao mercado em geral e mais especialmente às agências de propaganda, denunciando a concorrência privada aberta pelo COB (Comitê Olímpico Brasileiro), propondo a venda de criação/espaço/tempo, a pretexto de escolha de agência para atender à conta das Olímpiadas no Rio de Janeiro (2016).
Segundo essas entidades, que recomendam às agências não participarem dessa concorrência, o que o COB propõe contraria a legislação brasileira que regula o funcionamento das agências de propaganda, prestadoras exclusivas de serviços, atuando por conta e ordem dos seus clientes-anunciantes.
Ambos os comunicados são claros em negar às agências a propriedade de produtos publicitários de terceiros para revenda ao mercado. Isso ocorrerá caso prospere o objetivo do Comitê organizador das Olimpíadas, que está oferecendo, pelo preço mínimo de R$ 5 milhões, a propriedade de serviços de propaganda e de planos de mídia do evento esportivo.
A reação contrária do mercado de agências a essa iniciativa do COB deverá desmobilizá-lo dessa intenção, muito provavelmente perseguida pelos seus responsáveis por não conhecerem o funcionamento de uma agência de propaganda, como se desenvolve o seu trabalho, a sua relação com seus clientes-anunciantes e com o mercado e a legislação que disciplina suas atividades.
Não é a primeira vez que isso ocorre com relação às agências de propaganda no Brasil e até mesmo empresas da iniciativa privada costumam confundir a visão que têm delas, imaginando não raro que são também canais de venda.
No caso presente, há ainda a alegação do COB de que as Olímpiadas na Inglaterra tiveram esse modelo na contratação de uma agência de propaganda, esquecendo-se seus dirigentes que cada país tem a sua própria legislação.
De qualquer forma, bem fizeram a Abap Nacional e a Fenapro em imediatamente alertarem a opinião pública brasileira e em especial as próprias agências de propaganda para o fato, como melhor ainda fará o COB reconsiderando a sua atitude e procurando empresas especializadas para o fim a que se propõe.
Não faltarão interessadas, pois o produto é bom e será ainda mais valorizado se o Brasil se sair bem da Copa do Mundo no que diz respeito à organização do evento e principalmente aos prazos estabelecidos no seu cronograma.
Ao contrário do que afirmou a presidente da República Dilma Rousseff, não é fácil construir estádios e mais difícil ainda reformar e ampliar aeroportos.
Mas, como estamos acostumados a ver em nosso país, na undécima hora tudo deverá estar pronto e funcionar, até porque não deixamos de crer que, embora o Papa sendo argentino, Deus prossegue sendo brasileiro.
Com isso, as Olimpíadas dois anos depois serão grandemente beneficiadas. Nossa demonstração de competência vencerá a prova de fogo que a Copa do Mundo agora atravessa.
2. Não vá o leitor pensar que estamos sendo irônicos. É assim mesmo que o país tem funcionado e dado certo. É obvio que não devemos continuar desse jeito se quisermos alcançar novos patamares de desenvolvimento.
Temos muito o que aprender ainda em termos de planejamento e execução, mas não podemos nos iludir neste momento de aproximação rápida da Copa do Mundo, exigindo desde logo mudança geral de mentalidade.
A troca de avião no ar pode ser desastrosa e por isso só nos resta torcer (e contribuir na medida do possível) para que mais uma vez tudo dê certo (nem sempre deu, mas a maior quantidade positiva, segundo as estatísticas, nos favorece).
Como o propmark é dirigido aos empreendedores, empresários, profissionais e estudantes de comunicação, cabe um recuerdo: o futebol (estamos nos referindo agora somente à Copa do Mundo) é a grande válvula de escape do povo.
Daí, nossa maior torcida para que tudo realmente dê certo e que as movimentações de junho de 2013, caso se repitam, sejam pacíficas e não politizadas ou aproveitadas pelos políticos que já estão de olho na sua “Copa” que ocorrerá em outubro.
O povo brasileiro merece esta consideração.
3. A edição deste mês da revista Propaganda, publicação mensal da Editora Referência com 57 anos de circulação ininterrupta (senão um recorde mundial, perto disso no seu segmento de atuação), traz imperdível entrevista de Paulo Macedo com Gilberto Leifert, responsável pela divisão de relações institucionais da Rede Globo e presidente do Conar.
Ao contrário do que algumas pessoas de boa fé imaginam, as pressões das mais variadas origens, inclusive oficiais, têm crescido contra a comunicação comercial no Brasil.
Leifert aproveita um termo da moda para afirmar que se trata de um verdadeiro bullying à publicidade, tomando o cuidado de reconhecer que o mercado está sempre em busca de mecanismos para inibir abusos, evitando com isso açular os seguidores do politicamente correto, uma boa expressão na teoria, que sempre resulta em abusos principalmente à liberdade de expressão na prática, em virtude dos intolerantes e não democráticos (estes frequentemente pensam que são os verdadeiros democráticos).
Dois dos vários pensamentos de Leifert sobre a questão definem o lado da verdade e portanto da razão: “As pessoas que conhecem seus direitos como cidadãos, reconhecerão de forma espontânea que o homem bem informado é capaz de exercitar melhor seu direito de escolha”. E “primeiro temos que melhorar a educação e depois pensar em restringir a publicidade. Inverter o processo é produzir adultos incapazes de tomar decisões”.
4. O editorialista recebeu da sua mulher Clarice o melhor presente destes dias de janeiro: a página dupla da edição de 23/12/13 do propmark regiamente emoldurada e enquadrada, com o texto de Luis Antonio Ribeiro Pinto (GSR-Kinoplex) de título “Nos bastidores de Cannes”, encerrando a série Histórias de Cannes idealizada por Marcello Queiroz no jornal.
No texto, Ribeiro Pinto narra a verdadeira história dos primeiros olhares do mercado publicitário brasileiro sobre Cannes, as primeiras viagens, as delegações iniciais brasileiras com poucos integrantes, as vaias que o Brasil sofria na apresentação dos seus filmes de baixa qualidade criativa e ainda pior produção, o avião da Lufthansa fretado por Geraldo Alonso (pai), batendo o recorde de publicitários brasileiros indo ao Cannes Lions (que ainda não era assim chamado), enfim uma história de pioneirismo com a participação acentuada do propmark, do seu diretor-responsável e da equipe de jornalistas que o jornal apostava em levar, ciente de que lá adiante o Brasil iria se beneficiar pela sua participação crescente no evento.
Curiosamente, Cannes também se beneficiou disso, como registramos nas edições que cobriram o Cannes Lions em 2013 e quando atingimos o segundo lugar em delegados presentes, superados pelos Estados Unidos.
O editorialista agradece o sincero depoimento de Luis Antonio Ribeiro Pinto e a sensibilidade de Clarice, que percebeu a emoção do companheiro ao ver a página dupla no jornal e cuidou de um dos mais belos presentes da sua já longa carreira no jornalismo publicitário.
Clarice, meu amor, um beijo!
Este editorial foi publicado na edição impressa de Nº 2483 do jornal propmark, com data de capa desta segunda-feira, 27 de janeiro de 2014