Nossos inimigos
1. O maior inimigo da mídia impressa não é o mundo digital, que a auxilia a manter-se viva e atuante em uma convergência de plataformas que a todos interessa.
Seu adversário número um é hoje representado pelas forças de repressão, que desenvolvem um trabalho incessante em prol da mordaça, sabedores seus responsáveis que calando a imprensa produzem de imediato dois resultados a eles amplamente favoráveis. O primeiro constitui-se em impedir que os malfeitos de determinado grupo de pessoas físicas ou jurídicas, ou mesmo de indivíduos de forma isolada, sejam divulgados e tenham o acompanhamento do noticiário no seu desdobramento.
O segundo reside em certo esvaziamento da mídia amordaçada, pois a população interessada sabe que nela não vai encontrar o que deseja saber sobre este ou aquele fato cuja publicidade está vedada pelos mecanismos oficiais que a isso se prestam.
O procedimento assemelha-se de certa forma às restrições que certos grupos minoritários da sociedade desejam impor à propaganda comercial, restringindo a liberdade de expressão que deve imperar em uma democracia.
A semelhança situa-se nos objetivos dessas ações e movimentos, que se esforçam para atingir a independência econômica dos órgãos de informação, tornando-os com isso – esse é o seu pensamento – possivelmente mais frágeis e dóceis.
Acabamos de assistir na última semana, e numa infeliz coincidência, já que ocorreu no mesmo dia em que era velado e sepultado o corpo do Dr. Ruy Mesquita, campeão da liberdade de expressão e um altivo guerreiro ao longo da sua existência, na luta contra os déspotas de todos os matizes, à decisão do Tribunal de Justiça do Distrito Federal mantendo a censura imposta ao Estadão, a respeito da Operação Boi Barrica (cujo nome de guerra foi substituído por Faktor).
Ainda resta ao jornal – e a sociedade brasileira espera que isso ocorra – recorrer e ganhar no STJ e no STF, mas todos sabemos da longa demora que essa questão judicial ainda enfrentará para o seu deslinde, agravada pela exceção do segredo de justiça a ela concedida.
É de se lamentar que em um regime político que se diz democrático, os sintomas de uma arbitrariedade tipicamente ditatorial ainda prevaleçam.
Se, como dizem, nossa democracia ainda é uma planta extremamente tenra, compete a cada um de nós regá-la e protegê-la das intempéries, colaborando para que se fortaleça e não mais fique sujeita a ataques como os que se reproduzem nesse nada exemplar episódio da “novela” Boi Barrica.
2. O que tem ocorrido com essa história, porém, desvenda uma das pontas do segredo que envolve o chamado controle da mídia no país. Os algozes da liberdade de expressão já não se contentam mais com a possibilidade de raras vitórias no âmbito judicial. Sabem que a Justiça brasileira, embora merecedora de reparos em uma ou outra ocasião, tem demonstrado como regra geral, conhecimento, bom senso e isenção.
Não é o que dela esperam os inimigos da verdade.
3. Em um mundo no qual o texto longo perdeu boa parte dos seus admiradores, pelos mais variados motivos, mas principalmente porque mais e mais se torna visual, merece destaque a página escrita por Roberto Duailibi na série “Meu Leão inesquecível”, publicada por este jornal em sua última edição, comemorativa dos seus 48 anos de atividades ininterruptas.
Sob o sugestivo título “Do mármore ao plástico bolha”, Duailibi faz uma digressão sobre os prêmios publicitários, com foco principal em Cannes.
E aí vêm as pérolas do bom redator, que em todas as etapas da vida jamais abandonou o seu ofício, produzindo comentários como “O Leão, em si, com o tempo torna-se mais importante que a peça publicitária que lhe deu origem”. Ou, “da peça lembra-se o nome do anunciante, porque está escrito na plaquinha, mas não a peça em si”.
E vai Duailibi por aí afora, encantando os leitores do propmark que tiveram muito o que ler (e ver) na edição de 144 páginas dos nossos 48 anos.
Há um ponto, porém, que chama de terceira metáfora, onde registra que “tornou-se habitual a apropriação das ideias dos outros e sua atribuição a outra pessoa, hoje conhecida como ‘VP de criação’”.
“Essas pessoas – prossegue Duailibi – contratam redatores e diretores de arte, que se esfalfam para ter ideias, apenas para vê-las atribuídas, nas fichas técnicas, aos tais ‘VPs de criação’, que só as viram depois de realizadas. Chegou-se a tal ponto que alguns desses profissionais ocupam o espaço todo, e de sua equipe não se sabe o nome de ninguém. Coisa feia.”
Como todo texto longo (e bom), merece reflexão.
4. A Editora Referência, o MadiaMundoMarketing e a Academia Brasileira de Marketing promoverão uma Noite de Gala no dia 22 de julho, na Sala São Paulo, com uma apresentação de Mônica Salmaso interpretando Vinicius de Moraes, quando serão entregues os troféus aos vencedores do Marketing Best 25 Anos – Jubileu de Prata.
A escolha dos mesmos está sendo concluída por um júri formado por membros da Academia, cuja divulgação será efetuada após 10 de junho.
A maior premiação do marketing brasileiro contribui dessa forma para que por meio das grandes marcas que pontuaram no último 1/4 de século reconstitua-se a história desse período em que deixamos de apreciar apenas cases estrangeiros, para observar também nossos próprios cases vitoriosos. Com a vantagem dos enredos ocorrerem em nosso mercado.
Este editorial foi publicado na edição impressa de Nº 2450 do jornal propmark, com data de capa desta segunda-feira, 27 de maio de 2013