Slogan “Pátria educadora” gera críticas
Sobram críticas quando o assunto é branding. Fred Gelli, sócio e diretor de criação da Tátil Design de Ideias, por exemplo, acredita que esse slogan teria mais sentido se viesse acompanhado por uma série de iniciativas e propostas que pudessem sustentá-lo. “Acredito, sim, que a educação deveria ser prioridade, mas o problema é que não estou vendo esforços para que isso seja entregue”, argumenta.
Mas pelo menos não foi isso que aconteceu até agora. Dias após anunciar que a educação seria prioridade, Dilma bloqueou, até a aprovação do orçamento, um terço dos gastos administrativos dos 39 ministérios – o da Educação responderá pela maior parte do montante a ser economizado.
Em toda a Esplanada, essa medida vai representar um corte mensal de R$ 1,9 bilhão ou, em termos anuais, R$ 22,7 bilhões, em despesas cotidianas como vigilância, limpeza, viagens, luz e compra de materiais. “Prometer e cumprir é uma premissa para uma boa relação com a marca”, destaca o especialista. “Como cidadão, eu acho a ideia perfeita, mas desde que tenha um plano de entrega”, completa.
Marcos Machado, sócio-consultor da TopBrands, tem a mesma opinião que Gelli. Ele acredita que o slogan (ou lema, como foi anunciado pelo governo) tem como obrigação mostrar o posicionamento de marca. “Uma marca bem posicionada é aquela que promete entregar algo relevante para o seu público”, enfatiza.
Ana Couto, CEO da Ana Couto Branding & Design, também criticou a escolha da frase do novo mandato da presidente. Ela também questiona o fato de o governo cumprir aquilo que está escrito no lema. “Analisando friamente como marca, a primeira coisa que pensamos é: como isso será entregue?” “O conteúdo em si é bom, mas acho difícil conseguir essa questão. A propaganda é muito mal feita”, diz.
Ana ainda citou o atual cenário político do Brasil para reforçar o seu argumento. “Temos dados da educação que são atordoantes”, ressalta. Um dos fatos citados por ela foi o resultado das redações do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). Ao todo, 529 mil alunos tiraram nota zero na prova. “A educação pública no Brasil é uma vergonha, é inconsequente”, afirma.
Outra questão levantada por Ana foi a credibilidade do atual governo. “O nível de credibilidade desse governo é muito baixo. Ter colocado a educação como lema e como meta pode virar um ‘tiro no pé’ porque faz a população aumentar a expectativa”, complementa a executiva.
Gráfico
Já em relação ao aspecto gráfico, Fred Gelli classificou a marca como algo “muito ingênuo”. “Eles deveriam ter aproveitado para também mudar a parte gráfica”, diz. “Eu fico com uma sensação de que o logo é muito pouco contemporâneo. Eu não vejo essa marca perto do público”, completa. O logotipo, que vem sendo utilizado desde o primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, também não agrada Ana Couto. “Não tem uma estética formal e as cores não são muito boas”, destaca. “Além disso, a aplicação também é difícil, é uma trapalhada visual.”
Pátria
Desde que o Partido dos Trabalhadores assumiu o poder, em 2003, com Luís Inácio Lula da Silva, a marca trouxe a palavra ‘país’. Para o segundo mandato de Dilma, houve uma mudança. Sai ‘país’ e entra ‘pátria’.
“A palavra ‘pátria’ lembra algo de educação moral e cívica”, diz Gelli. Para Marcos Machado, “normalmente, a palavra ‘pátria’ acaba sendo utilizada em outro momento”. “Pátria lembra união”, descreve.
Lincoln Noronha, mestre e doutorando em ciência política pela USP (Universidade de São Paulo), acredita que a palavra “pátria”, utilizada no lema, é uma forma de unir o país em prol de um ideal que é a educação. “Depois do resultado apertado das eleições, a escolha da palavra ‘pátria’ no lema do governo é uma forma de unir novamente o povo brasileiro em torno dessa que, agora, é a prioridade”, diz.
Noronha, no entanto, reconhece que a educação é prioridade de quase todos os governos. “Desde a época do presidente Fernando Henrique Cardoso, a educação esteve em pauta. Sob esse aspecto, não tem novidade na escolha desse lema, a educação é sempre a ‘bala de prata’ de todo governo”, afirma.