A prefeitura de São Paulo deve prorrogar novamente a data para o afrouxamento do isolamento social na capital. A medida, que estava prevista para encerrar gradualmente a partir de 10 de maio dentro do plano do governo do estado, ainda não tem novo prazo para acabar e a cidade pode ter regras ainda mais rígidas caso a população descumpra a quarentena. Mesmo diante de incertezas sobre a retomada da economia, veículos de comunicação se preparam para o futuro e apontam que é preciso ter cautela e transparência nas informações e veem novas possibilidades diante deste cenário.

Para Walter Zagari, VP comercial da Record TV, é preciso ser otimista. “Estamos passando por um momento extremamente delicado, complexo e cabe a cada um de nós, profissionais de todos os setores da economia, trabalhar de forma conjunta e responsável para reativar os negócios. Temos de fazer a roda voltar a girar. Se a abertura da economia ocorrer de forma gradual, segura e de acordo com as diretrizes traçadas pelas autoridades competentes, todos teremos a ganhar. Quanto mais claras e verdadeiras forem as informações, mais o mercado se sentirá estimulado a consumir com segurança e gradativamente retomar ao seu patamar de normalidade.”

Walter Zagari, da Record TV: otimismo (Divulgação/Edu Moraes)

Já na CNN Brasil, que teve sua estreia simultânea ao isolamento social, o período representa novas possibilidades. “Por um lado teremos a retomada da economia, que será gradativa e exigirá avaliações constantes; por outro, essa nova fase será marcada por uma enorme vantagem competitiva que teremos em nosso favor, pois nesse período inicial que enfrentamos a Covid-19, tivemos resultados muito expressivos e positivos em nossos números, quer seja sob o ângulo de audiência, alcance e frequência ou ainda sob o ponto de vista de engajamento e afinidade”, defende Marcus Vinicius Chisco, VP comercial da emissora.

Marcus Vinicius Chisto, VP comercial da CNN: propaganda continuará a exercer papel fundamental no pós-pandemia (Divulgação/Diego Padgurschi)

Ainda de acordo com o executivo, a propaganda continuará a exercer papel fundamental na pós-pandemia. “Nós estaremos prontos para contribuir com as empresas que desejam promover suas marcas e retomar as vendas de seus produtos e serviços. Os mais diferentes clusters conheceram e aprovaram nosso conteúdo nesses primeiros 45 dias de operações e esses dados estão sendo levados ao mercado publicitário. Dessa forma, o otimismo tomou conta da CNN e é certo que continuaremos entregando mais do que havíamos prometido, como se espera de um grande player, como o mercado já nos posiciona.”

Para Fred Müller, diretor-comercial e de marketing do SBT, a emissora está adaptada e respaldada pela tecnologia para trabalhar remotamente. “Vamos retornar com cuidado e segurança, respeitando as orientações dos órgãos oficiais e analisando a realidade de cada cliente e colaborador. Acredito que a quarentena, ao mesmo tempo que ‘pausou’ alguns modelos, acelerou outros, impulsionando a produção de novos formatos de conteúdo e projetos. Cito como exemplo o crescente volume de conteúdo que produzimos para o digital, com os artistas em casa, o lançamento da nossa nova plataforma de streaming SBT Vídeos e o nosso campeonato do SBT Games, com o Alexandre Pato como embaixador do campeonato de FIFA 20 e várias estrelas do futebol profissional e influenciadores digitais e do SBT comentando”, diz.

Fred Müller: “SBT está preparado para o trabalho remoto” (Divulgação)

Cautela
Rafael Davini, VP comercial da Exame, que passou por uma grande mudança estrutural no último mês após a assunção da gestão do BTG Pacutal, aponta que mesmo com otimismo, o futuro deve ser encarado com cautela. “Ainda levará algum tempo até que os anunciantes, em sua grande maioria, retomem os investimentos a níveis minimamente parecidos com o planejado para o ano”, destaca.

Rafael Davini, VP comercial da Exame: anunciantes devem demorar a retomar investimentos (Divulgação/ Léo Pinheiro)

O executivo se baseia em dados de uma recente pesquisa divulgada pelo IAB-US. “O estudo, feito entre os maiores anunciantes dos Estados Unidos em março, com a pergunta sobre qual seria e expectativa de investimento para os meses de maio de junho, apontou que eles diminuirão seus investimentos em digital em 33% e na mídia tradicional em 39%. Além disso, 64% dos entrevistados disseram estar mudando seu posicionamento de marca ou campanha ou ainda retardando lançamentos planejados.” A pesquisa citada por Davini aponta que 97% dos anunciantes têm uma previsão de novos orçamentos até junho, mas relatam ter pausado os investimentos com anúncios. Tanto anunciantes quanto veículos esperam o maior impacto sobre o investimento e a receita de mídia no prazo imediato (mar-jun).

Enquanto meios tradicionais são os mais atingidos, a TV linear permanece relativamente estável. Os dados mostram que 98% dos entrevistados esperam uma queda na receita em 2020 e 69% deles já refizeram suas previsões. A crise do coronavírus gerou um crescimento maciço no consumo de notícias, mas os editores, segundo o levantamento, não conseguem monetizá-lo.

O cenário americano demonstra ainda que 70% dos anunciantes já ajustaram ou pausaram seus investimentos planejados com anúncios, enquanto 16% ainda estão determinando quais ações executar.
Quase um quarto (24%) dos entrevistados interrompeu todos os investimentos com publicidade, transferindo para o restante do primeiro e segundo trimestres, enquanto 46% indicaram que ajustaram seus esforços com anúncios no mesmo período.

Para Davini, o mais acertado é “aguardar para se certificar, pois as situações de diversos setores e segmentos da economia têm se portado de maneira distinta”.

A maioria das empresas que passaram e seguem tendo dificuldades em vendas, independentemente da atividade, aponta o executivo, deverá “usar parte dos recursos destinados à comunicação, para ajudar no resultado do negócio. Isso é uma equação muito difícil de achar o equilíbrio, pois eu também acredito, como visto em outras crises, que existem oportunidades para os que creem e se antecipam na exposição de suas marcas versus concorrência e acabam ganhando share de mercado ao serem ousadas”, conclui.