O agitador

A atividade publicitária não deve ser estritamente técnica. Ela tem um componente artístico que, em algumas ocasiões, exige dos seus criadores muito mais do que incluir essa dose necessária de arte nas peças ou campanhas a serem apresentadas ao público, devidamente aprovadas pelos clientes-anunciantes.

Em certos momentos, é necessária até mesmo a exposição pessoal dos criativos de determinado anúncio, comercial ou campanha, chamando para si a explicação do trabalho prestes a ser veiculado, para que não pairem dúvidas sobre os seus objetivos.

A coisa cresce quando o próprio presidente de um grupo de agências, ou apenas de uma delas, chama para si a responsabilidade não de apresentar conteúdo publicitário, mas de criar um fato novo que o leve a explicar aos diversos públicos-alvo do mercado em que atua, as razões de uma mudança ou acréscimo de rumos na sua vida empresarial.

Este foi o desafio enfrentado – mais um – por Nizan Guanaes na última semana, após bombar no Facebook diariamente de Trancoso sobre abobrinhas mil de quem está curtindo férias em um lugar paradisíaco, mas reservado a uma elite até merecedora desse privilégio, em um país que produziu novos ricos em tão pouco tempo nos últimos anos.

Guanaes, porém, é diferente. Não se limita a relaxar nas férias. Ao contrário, elas lhe servem para rever sua vida, suas atividades e tudo o mais que possa ser melhorado na sua passagem pelo planeta.

Foi na placitude de Trancoso que ele desenvolveu a ideia de voltar a assumir por algum tempo a DM9, agência onde ele foi estagiário, em Salvador, em 1978, antes de consagrar sua carreira no mercado paulistano e posteriormente comprar, em 1989, a mesma marca DM9, na qual ele iniciou sua trajetória publicitária. 

Pode até ser que seu estalo foi precedido por uma preocupação sua e dos acionistas da DM9DDB, a respeito das dificuldades do mercado provocadas pela crise, que costumam atingir mais cedo as agências mais criativas, em um paradoxo para o qual há muitas explicações e nenhuma conclusão.

O fato é que Nizan, sempre surpreendente, mal chegou a São Paulo e anunciou a bomba: passaria a frequentar diariamente a agência da Brigadeiro Luís Antonio, deixando um pouco de lado a consagrada Africa, situada em uma avenida lá perto, de um outro brigadeiro.

Ele não colocou dessa forma à imprensa que o cercou na festa baiana que promoveu na tarde/noite da última quinta-feira (2), na DM9DDB. Disse que vai dançar um baião de dois por algum tempo, um pouco na Faria Lima, um muito na Luís Antonio, homenageando com isso também o seu querido filho Antonio, um dos principais personagens dos posts de Guanaes durante suas férias na praia.

Das centenas de amigos que para lá se dirigiram, à procura de Nizan, dos acarajés e de outras baianitudes que somente o pessoal que nasceu na terra por onde o Brasil foi descoberto conhece bem, muitos deles imaginaram que se tratava de mais uma festa promovida por Guanaes e na segunda-feira tudo voltaria ao normal.

Quem o conhece a fundo, além dele próprio, sabe que não será desse jeito.

Ele vai fazer tudo para arrebentar a missão que abraçou, ainda que premido pelas circunstâncias nacionais e internacionais.

Guanaes já recebia seus convidados com uma comemoração recente: acabara de conquistar uma nova conta para a DM9 pelo Facebook, através de mensagem postada por um conhecido que há muito lhe procurava para saber como era esse negócio de agência e cliente.

Pode ser uma conta minúscula, mas é sempre um bom sinal que, segundo ele, seus orixás sempre emitem quando a situação exige.

E não se deve deixar de considerar que Nizan propositalmente marcou essa festa de posse na DM9DDB para o 2 de fevereiro, “Dia de festa no mar/Eu quero ser o primeiro/A saudar Iemanjá”. Caymmi sabia o que cantava. Nizan Guanaes sabe o que interpreta.

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Louve-se, nessa festa, a alegria dos seus companheiros de DM9DDB, pela conquista do passe desse Gabriel Jesus do negócio publicitário, ainda que seja por curto empréstimo, ou mesmo para jogar meio tempo em cada time: DM9DDB e Africa.

Louve-se a atitude de Paulo Cesar Queiroz, o Paulão querido por todos quantos o conhecem pela sua postura de quem sabe muito, mas faz questão de transmitir que está sempre aprendendo. Paulão vibrava como um menino ganhando uma bola no Natal. Sabia por certo que esse papai-noel baiano vai lhe trazer muitos presentes, além de promover rodadas de acarajés e muita água de coco.

Armando Ferrentini é presidente da Editora Referência, que publica o PROPMARK e as revistas Marketing e Propaganda