O ano que não terminou
1. Se 1968 foi considerado o ano que não terminou, porque nele tiveram início ou se reforçaram as grandes transformações sociais que prosseguem até hoje incomodando os incrédulos, 2014 no Brasil, guardadas as proporções, ainda inspira controvérsias sobre o seu desempenho econômico.
Em nossa edição anterior, a jornalista Kelly Dores produziu matéria revelando o otimismo de algumas lideranças do trade, em virtude do bom desempenho dos negócios no primeiro bimestre deste ano (leia mais aqui).
Na mesma edição, nosso experiente colaborador Alexis Thuller Pagliarini, intitulando sua coluna com uma pergunta (“Afinal, 2014 vai ser bom ou ruim?”) e afirmando perceber no noticiário “uma tendência em dramatizar a situação macroeconômica”, revela ter feito a pergunta-título a diferentes lideranças empresariais do país, obtendo nas respostas sinais divergentes.
A dúvida tem sido, pois, a tônica das previsões. Se a verdade está no meio, como afirmavam os antigos latinos, podemos concluir que 2014 terá um desempenho regular, nem tanto ao mar, nem tanto à terra, o que em nossa opinião será ruim para todos, pois haverá lá adiante uma conta salgada que teremos de pagar, resultado da Copa do Mundo, mais a crise no setor energético agravada com a seca na região Sudeste e o consequente racionamento (ainda não assumido pelas autoridades, mas já sentido pelo consumidor) no fornecimento d’água e ainda o saldo eleitoral, que de uma forma ou de outra terá que ser quitado por nós eleitores.
Trata-se, pois, de um ano no mínimo contraditório quanto ao seu desempenho e por isso difícil de se prever. Os fatores de grande responsabilidade nisso, acima apontados, são de resultados inesperados até aqui.
Conseguiremos debelar ou minimizar os efeitos da nossa crise energética? Quanto tempo durará a escassez d’água no Sudeste do país? Como o Brasil se comportará na Copa? Os nossos selecionados chegarão pelo menos às semifinais? Serão campeões? E o público descontente com tudo o que aí está e que elegeu a Copa como um dos símbolos da gastança, como irá se manifestar durante os jogos? E os mascarados black blocs, desqualificarão as manifestações populares legítimas e democráticas, com a sua agressividade pré-programada?
E, depois, as eleições, em qual clima serão realizadas? Dilma ganha já no 1º turno? Fica para o 2º? Volta a receber a faixa em 1º de janeiro?
Ou se despede melancolicamente, como um poste que se apaga e ninguém mais vai percebê-lo?
Todas essas questões nos autorizam a um salto de dez meses no tempo, indagando então não como será 2014 – como agora tentamos adivinhar –, mas como será 2015? É isso: como será 2015? Como?
Respostas para a nossa Redação, por todas as plataformas possíveis.
2. Os céticos quanto ao futuro do jornal impresso devem observar atentamente alguns resultados da Pesquisa Brasileira de Mídia, encomendada pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República ao Ibope: as notícias publicadas nesse meio são as mais confiáveis, segundo o extrato de entrevistados representando a população nacional.
A pesquisa apontou ainda a TV na liderança da preferência popular brasileira, seguida muito de longe pela internet, mas esta tem contra si, no quesito anterior (confiabilidade no noticioso), o mais baixo índice de todos os meios praticantes da notícia.
Esses resultados deveriam estimular a chamada mídia clássica a se divulgar mais, apostando nos graus de desempenho e confiança de que gozam em todo o país.
Nessa luta, não podem deixar se levar apenas pelos resultados da audiência, mas pela sua qualificação, pelo tanto que os seus consumidores aproveitam esses meios.
Os números não mentem, jamais.
3. João Firme, da Alap e símbolo maior do Festival de Gramado, aborda a seguir a próxima versão do famoso festival e a homenagem que nele será prestada aos jornais centenários latino-americanos:
“A mídia impressa é enriquecida com a existência de veículos de comunicação que ultrapassaram regimes de opressão, crises econômicas e agora provando que ninguém tem medo do mundo digital. E vemos jornais crescendo com a integração digital e avançando no tempo.
Planejando o 20º Festival de Gramado, agendado de 10 a 12 de junho de 2015, decidimos valorizar a mídia impressa com um grande painel de debates e uma mostra para o público conhecer quão importantes são os meios impressos para ampliar conhecimentos. E foi assim que delineamos convidar os jornais com mais de 100 anos para serem homenageados e mostrados em Gramado. Pesquisamos e encontramos 28 no Brasil, sendo 11 em SP; cinco no RS; cinco no RJ; MG, dois; PE, um; RN, um; PB, um; AM, um; e um na BA. Na América Latina, encontramos 3 na Venezuela; 2 no Peru; 2 no Equador; 1, Argentina; 1, El Salvador; 1, Panamá; 1, Chile; e 1 na República Dominicana.
O mais antigo de todos é o Diário de Pernambuco de Recife com fundação em 1825; o segundo, o El Mercurio do Chile, e o terceiro é o Jornal do Commercio do RJ. Por sinal, foi no Festival de Gramado de 1987 na 1ª Exposição de Jornais Centenários que, após pesquisa, a Alap (Associação Latino-Americana de Publicidade) descobriu que o jornal pernambucano era o mais antigo e não o El Mercurio como se dizia na época.
Na faculdade de jornalismo aprendemos que o maior em circulação era o Clarín de Buenos Aires que hoje tem 300 mil exemplares, mas já está superado pelo Super Notícia de Belo Horizonte, com 303.443 exemplares de segunda a sábado, conforme o Instituto de Verificação e Circulação, que informa que, entre os oito maiores com mais de 150 mil exemplares, três são de Porto Alegre. Na pesquisa com os nossos representantes latino-americanos descobrimos o Diário Trome, de Lima, com 700 mil exemplares.
‘Assim como se dizia que a TV aberta terminaria com o Rádio, o que não aconteceu, o jornal com qualidade vai continuar como fonte de informação e cultura impressa e no meio digital. O grande desafio está em encontrar a sintonia adequada entre o negócio tradicional, da mídia impressa, e o negócio do futuro, da mídia digital, de modo a canalizar o primeiro e encontrar os caminhos da sustentabilidade do segundo’, é o que diz Judith Brito, da ANJ”.
Este editorial foi publicado na edição impressa de Nº 2489 do jornal propmark, com data de capa desta segunda-feira, 17 de março de 2014