O Brasil e a arte de transformar a corrupção do país em Leões

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Rick Brasil: o robô corrupto criado pela Ogilvy

Gerenciar um trabalho de comunicação, seja qual for a marca, o serviço ou o produto é sempre  delicado. Para muitas agências e departamentos de marketing é importante evitar o risco para que o tal “tiro de canhão” da mídia não saia pela culatra. É esse o motivo que faz com que poucas campanhas abordem temas polêmicos como a corrupção, por exemplo.

Mas se toda estratégia é uma faca de dois gumes, há também o outro lado da história. Se os desvios, ilegalidades e absurdos políticos são cometidos todos os dias no país e já fazem parte do noticiário cotidiano, abordar tal assunto é surfar em uma espécie de tsunami midiático. Além disso, tentar de alguma maneira trazer soluções ou reproduzir alertas sobre corrupção, é uma maneira interessante de instrumentalizar a propaganda a favor de uma boa causa e, de quebra, gerar branding para as marcas.

 Não à toa, no Cannes Lions deste ano, duas campanhas brasileiras que abordam tal temática conquistaram os jurados e levaram Leões para a casa. A primeira delas foi “Ricky Brasil”, criada pela Ogilvy e a Nexo para a Forbes, com 1 ouro e 2 bronzes. A outra é “Corruption Detector”, criada pela Grey para o Reclame Aqui, que rendeu um Grand Prix em mobile, além de um ouro, uma prata e cinco bronzes.

No Cannes Lions do ano passado, tal fenômeno também já havia acontecido. Na ocasião, duas campanhas que abordavam a corrupção também conquistaram Leões: “The Corruption Converter”, criado pela FCB Brasil para o Estadão e “The Colour of Corruption”, criada pela Grey para o Reclame Aqui.

Confira abaixo um resumo dos quatro cases que resolveram embarcar no tema polêmico, mas infelizmente recorrente para os brasileiros nos últimos anos.

A cara da corrupção

A ideia foi desenvolver literalmente a “cara” da corrupção brasileira. Assim nasceu o Sr. Ricky Brasil, anagrama de Rica Corrupção do Brasil, um bilionário que pelo patrimônio entraria na lista da Forbes, na oitava posição, com uma fortuna estimada em R$ 200 bilhões. O projeto consumiu mais de dez meses de pesquisa e utiliza “machine learning” para processar um gigantesco banco de dados baseado em entrevistas, reportagens e depoimentos de alguns dos principais condenados nas operações Mensalão e Lava Jato.

Ops! Ladrão detectado

O recurso utiliza tecnologia de reconhecimento facial com 98% de precisão para identificar a foto de um político e revelar imediatamente, na tela do celular, quais processos de corrupção ou improbidade administrativa ele responde na Justiça. O aplicativo permite que os eleitores fotografem o rosto do político em qualquer lugar: nas ruas, em comícios, santinhos ou cavaletes; na TV, durante o horário eleitoral gratuito ou pronunciamentos; na internet, em vídeos e fotos; em revistas e jornais. 

Quanto custa?

A ação foi trabalhada no site do Estadão e trouxe para os leitores a real noção do quanto custa a corrupção no Brasil. Na plataforma, é possível calcular como o dinheiro desviado poderia ter sido investido em benfeitorias e serviços públicos essenciais para melhorar a vida dos brasileiros.  

Um escândalo em cores

Depois de instalar o plugin da campanha em seu navegador, o leitor passa a ser avisado toda vez que o texto das notícias menciona algum político corrupto. Como? Colorindo o seu nome em roxo. Ao passar o mouse sobre o nome do mesmo individuo, o site abre um balão com informações a respeito das acusações e dos processos legais que correm sobre a ficha daquela figura pública.